Paula Theotonio
Pluviosidade de cerca de 500 mm por ano, 3 mil horas de sol por ano e 50% de umidade relativa do ar trazem uma grande diferença entre os vinhos produzidos no Vale do São Francisco e os do restante do país e mundo. Em conversa com o enólogo Murielton Silva, professor dos cursos Básico de Vinhos e Sommelier do Senac Petrolina, elencamos alguns pontos que você precisa saber sobre a produção nesse terroir. Fique por dentro:
1. Paralelo improvável
O Vale do São Francisco quebrou o tabu de que seria impossível produzir vinhos em locais de clima tropical ou, mais especificamente, onde o clima não é temperado ou pelo menos próximo disso, como acontece no Vale dos Vinhedos. A condição “ideal e tradicional” acontece nas regiões produtoras localizadas entre os paralelos 30 e 50, onde as estações são bem definidas, possibilitando à videira o merecido descanso no inverno e a produção no verão. Já na região semiárida brasileira, localizada no paralelo 8, o ciclo produtivo da videira pode oscilar de 90 a 130 dias. O descanso da vinha é de 40 dias, em média. Com isso, pode-se obter até duas safras e meia por ano! Períodos curtos, no entanto, não resultam em vinhos inferiores: a nova e improvável região produz vinhos e espumantes premiados.
2. Por que vinho “jovem”?
O sol brilha para todos, mas parece queimar muito mais aqui no Vale do São Francisco. E as uvas viníferas sabem disso muito bem. O calor faz com que os frutos amadureçam rapidamente e aí está a explicação para que se diga tanto que os vinhos daqui são “jovens”: após serem engarrafados, oferecem as suas melhores características por mais três anos, no máximo, dependendo da varietal utilizada. Geralmente os que duram mais são feitos com Cabernet Sauvignon e Syrah. Com raríssimas exceções (falaremos disso mais à frente), não são vinhos de guarda. Portanto, na hora de adquirir o seu, preste atenção na safra ou data de engarrafamento.
3. A exceção à regra
Número 1 no Top Ten da Expovinis 2012 e queridinho dos enófilos brasileiros [http://www.escrivinhos.com/
4. O mais saudável do mundo
Estressadas com o sol e com a constante perda de água por evaporação, as uvas do Vale – principalmente a Syrah – produzem vários compostos biológicos para proteger seus frutos. Entre eles está o resveratrol, um poderoso antioxidante que, nos seres humanos, retarda o envelhecimento e previne doenças degenerativas ao reduzir a quantidade de radicais livres no sangue; evita o acúmulo de colesterol, combate dores articulares e aumenta a resistência das fibras colágenas. Inclusive a prática de interromper a irrigação quando os frutos estão próximos ao ponto de colheita faz com que esses mecanismos de defesa se intensifiquem, havendo maior produção da substância. Segundo estudos da Universidade Federal Rural de Pernambuco, a concentração dela na Syrah é seis vezes superior aos vinhos obtidos em terroirs de clima temperado com a mesma uva, como França e a Espanha 9. Já de acordo com o estudo “Exercício Aeróbico e suplementação de vinho”, desenvolvida pela Univasf em parceria com a Empresa Brasileira de Indústria Agropecuária Embrapa Semiárido, a quantidade do antioxidante pode ser até 18 vezes maior. Seja qual for a pesquisa adotada por você, o fato é ambas provam que os vinhos do Vale são, sim, os mais saudáveis do mundo.
5. Preço alto
“Por que o vinho do Vale do São Francisco é mais caro que rótulos estrangeiros?”, perguntam-se os consumidores. A resposta são três em uma: falta de uma cultura de consumo local, de logística e de materiais de qualidade no mercado nacional (como rolhas e garrafas, por exemplo) e ausência de taxação para concorrência do Mercosul.
