Por Caio Alves
Nego D’ Água, Mãe D’ Água, Dom Malan, João Gilberto, Injustiça, Pracinhas, Irmã Terezinha, São Francisco. Todos esses nomes e outros vocês podem encontrar facilmente nas ruas de Juazeiro e de Petrolina. Elas são as esculturas do escultor juazeirense, Lêdo Ivo Gomes, de 57 anos, que viveu a maior parte da sua vida fora de Juazeiro, ou melhor fora do Brasil, para ser exato, na França.
D.R.: Como começou esse interesse pela à escultura/artes plásticas?
Lêdo Ivo: Tempos remotos, como a maioria dos artistas. Eu me lembro em tempo de infância, fabricando personagens de barro, brinquedos, depois fui evoluindo para desenhos e pinturas em camisa. Foi uma pratica de várias artes, e também do teatro, com meus 16 anos, fazia parte de um grupo de teatro.
Mas tarde, com meus vinte e poucos anos, começava a fazer a faculdade de engenharia, no Rio de Janeiro, na Faculdade de Engenharia General Roberto Nuno Lisboa, mas não conclui, desisti no segundo ano. E comecei a ver o que eu poderia melhor fazer. E fui encontrando os rastros da escultura. Como eu já estava na França com os meus 22 anos, tive cesso a livros e ateliês.
A engenharia me serviu muito, pois nos primeiros períodos do curso ela aborda muito a parte de geometria, onde eu mais me interessei. E isso me permitiu a dedilhar uma escultura com maior facilidade.
D.R.: Qual o motivo que levou você sair do Brasil?
Lêdo Ivo: A vontade de querer viajar e a chance que tive. Conheci uma francesa que estava de passagem por aqui na região e peguei um navio e fui para a França com ela. (risos)
D.R.: Qual foi a primeira escultura que você fez?
Lêdo Ivo: A primeira escultura pública, que eu digo que têm valor de marco, foi a do centenário da cidade de Petrolina, em 1995. Ela está localizada entre a Avenida Sete de Setembro e a Avenida Monsenhor Ângelo Sampaio, e têm as esculturas de Nilo Coelho, Dom Malam e outra de Irmã Luizinha, ornamentado o Marco do Centenário da cidade.
Poucos sabem que aquilo ali é o monumento do centenário da cidade. E aquele arco, não significou completamente a ideia do criador, que não fui eu, foi um arquiteto daqui, que queria a representação de uma. Quando falamos sobre esse espaço, poucos conhecem seu significado e acaba parecendo que ele nem existe na cidade. Então o marco, não marcou.
Antes já tinha feito outras esculturas, até mesmo na França, mas essa eu considero a primeira, pois é uma graduação para mim já está em um espaço público.
D.R.: Qual o material que você utilizar para realizar o seu trabalho?
Lêdo Ivo: Eu pratico a arte da modelagem. Na escultura têm duas artes, uma é retirar a matéria e a outra é compor com matéria mole. Um trabalha com a pedra, madeira, que é retirar a matéria até chegar um volume fixo e o outro é compor a partir do nada com a terra/argila. Sendo que a argila pode ser substituída por gesso, cimento, qualquer matéria que seja modelável e endureça.
Então, pratico a modelagem e utilizo nessas matérias cimento. Mas poderia ser resina também.
D.R.: A sua escultura mais famosa é a do Nego D’Água no Angari. Quanto tempo demorou a você pensa-la e cria-la?
Lêdo Ivo: Pensar e realizar foi de 1999 até 2003. Eu fui para França e depois quis voltar para fazer as minhas artes aqui. E sempre imagina em fazer alguma coisa que tivesse uma pegada mais da região. (risos)
E foi ai que me encontrei nas lendas do Nego D’ Água, uma figura que estava no vazio. Não tinha forma, tinha nome, mas era um pouco apagado. Uma lenda que tem as variantes em outras regiões e até no mundo. E o lugar estava vazio, e vi que poderia dar corpo a uma alma que já existia, e foi assim que veio a ideia do Nego D’ Água, como outras lendas.
Em 99, o Prefeito de Sobradinho se interessou, assinei o contrato de realizar por lá a obra, mas depois ele desistiu. Mas eu continuei a busca de algum lugar para realiza-la. Em 2001 fiz, sem ajuda de nenhum prefeito, a estrutura de ferro, por minha conta, e também ninguém se interessou, nem Petrolina e nem Juazeiro.
Depois fui para a França novamente, ganhei uma grana restaurando uma igreja. Então com essa grana paguei o Nego D’ Água e realizei a obra. Essa é a história desta obra: em 99 pensei, depois comecei o ferro em 2001 que passou dois anos parados, e em 2003 eu conclui a modelagem lá no local.
Foi uma produção pessoal, com o intuito de tocar e fomentar tanto para a minha carreira, e dá oferecer à população uma coisa interessante. Pois percebi aqui que as pessoas nem sabiam que existia uma profissão relacionada à escultura. As pessoas imaginavam que escultura era uma arte feita para dentro de casa. Mas escultura é uma disciplina que veio de dentro da cidade, elas compõem a arquitetura das cidades, desde os tempos remotos.
D.R.: Teve um tempo que suas esculturas estavam na orla de Juazeiro, no ponto das barquinhas… A ideia de coloca-las ali foi sua?
Lêdo Ivo: Fui eu. Elas estavam no meu ateliê, que tinha no João XXIII, e mandei-as passearem (risos). Para elas darem uma volta pela a cidade, pois a vocação delas é ficar na rua e não trancadas em um ateliê. Então coloquei lá, para ver se o prefeito se encantava, pela ‘Injustiça’, ‘João Gilberto’ e ‘São Francisco’, que eram as três esculturas que estavam por lá. Mas ele não gostou.
A crítica que houve foi feita pelos barqueiros, pois quando o rio encheu, estava tendo um problema com o atracamento das barcas. E ai eles reclamaram para fazer a retirada das estatuas. (risos)
Ai eu retirei e coloquei aqui na frente, a ‘Injustiça’ e ‘São Francisco’, e o ‘João Gilberto’ está no Angari, em uma praça que eu reformei.
D.R.: Você já foi processado alguma vez por causa de suas intervenções na cidade?
Lêdo Ivo: Em razão de prefeitura nunca teve. Somente houve uma discórdia com um vereador de Petrolina, quando realizei a Mãe D’ Água, me denunciou, mas foi coisa que chegou a ser resolvida.
Aqui eu faço em alguns lugares, pois é minha casa, Juazeiro. Coloco uma aqui, outra ali, o prefeito briga, e eu tiro (risos).