O diretor-geral do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), Elias Fernandes Neto, entrou na mira do Palácio do Planalto. Apesar da forte movimentação política do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), para manter o seu afilhado no cargo, há decisão do governo de fazer, o mais rapidamente possível, uma mudança completa não só no Dnocs, mas também na Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) e também na Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), órgãos que são foco de auditoria e todos subordinados ao Ministério da Integração Nacional.
Para evitar uma crise entre o PSB e o PMDB e efetuar as mudanças sem grandes traumas políticos, o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho (PSB), esteve recentemente com o vice-presidente Michel Temer (PMDB). Até 2010, o PMDB estava no comando do ministério, passado ao PSB pela presidente Dilma Rousseff, no início de 2011. As denúncias de irregularidades apontadas pelo relatório da CGU, e que ocorreram na gestão do PMDB, estão acirrando o clima entre os dois partidos.
A substituição de Elias Fernandes é considerada a mais delicada, por causa da pressão de Henrique Alves, um líder fiel e aliado ao Palácio do Planalto. O governo argumenta que é melhor fazer a substituição agora do que esperar um momento de fragilidade maior da autarquia. Nos últimos dias, Henrique Alves saiu em defesa do seu afilhado político.
“Assumo por inteiro a indicação de Elias Fernandes, em nome do Rio Grande do Norte. A CGU é um órgão opinativo. O que o Dnocs fez foi correto. Essa é uma obra licitada em 2002”, afirma Henrique Alves, em referência aos tubos superfaturados do projeto de irrigação em Tabuleiro de Russas (CE).
Não é só Henrique Alves que quer proteger o seu afilhado político. O PMDB do Ceará no Congresso – formada por cinco deputados e o senador Eunício Oliveira – não concorda com a demissão, publicada nesta segunda-feira no Diário Oficial da União, do diretor de Administração do Dnocs, Albert Gradvohl, que era uma indicação cearense.
Para tentar contornar o desgaste político, o ministro Fernando Bezerra também chamou para uma conversa o deputado Danilo Forte (PMDB-CE). Bezerra confirmou que iria manter o processo de reestruturação do Dnocs.
“O ministro foi claro e disse que a reestruturação do Dnocs vai continuar. Essa mudança passa por uma análise conjunta da bancada do PMDB. Temos que avaliar a relação da bancada com o governo para que não haja distorção em relação aos técnicos indicados pelo partido”, advertiu Danilo Fortes.
Além do clima ruim entre PMDB e PSB, há também uma disputa entre os próprios peemedebistas. O episódio criou forte contrariedade na bancada do partido, que critica o fato de o líder Henrique Alves só ter atuado para preservar Elias Fernandes no Dnocs.
“Isso é briga de cargos, já que Fernando Bezerra está em cima do PMDB para tomar conta do Dnocs. Nesse caso, Henrique Alves preferiu perder os anéis para preservar os dedos. Ele só brigou para preservar Elias Fernandes, que está na linha de tiro. O PMDB tem respeitado os cargos dos aliados, mas tem gente que quer pegar os cargos do PMDB”, reconhece o vice-líder do governo no Congresso, deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).
O desafio do ministro Fernando Bezerra é, agora, convencer o PMDB da necessidade da demissão de Elias Fernandes – antes que a situação dele piore -, sem criar, com isso, uma crise política com o principal aliado do governo Dilma. O que significa que o partido será compensado de outra forma.