Imagine a seguinte cena: grandes nomes do esporte nacional reunidos para um animado jantar. De um lado da mesa, os pilotos Emerson Fittipaldi e Nelson Piquet conversam sobre os rumos atuais da Fórmula 1. Ao lado, Gustavo Kuerten arranca risadas do iatista Robert Scheidt com histórias divertidas das suas conquistas em Roland Garros. Na ponta, Cesar Cielo ouve atentamente Daiane dos Santos contar da vida após a aposentadoria. De repente, toca a campainha, e Popó interrompe o debate “boxe x MMA” com Éder Jofre e Anderson Silva para atender. Na porta, um jovem surfista de 20 anos sorri e diz: “Olá amigos, como vai?”.
Gabriel Medina está perto de entrar para a seleta galeria de brasileiros campeões mundiais em esportes individuais. Líder do ranking do Circuito Mundial de Surfe (WCT) a uma etapa do fim da temporada, o paulista de São Sebastião pode se tornar o primeiro brasuca a conquistar o mais cobiçado título da modalidade, em dezembro, nas ondas de Pipeline, no Havaí.
– Eu espero que dê tudo certo e eu possa me juntar a eles. Claro que eu nem me comparo a um Senna, um Guga, caras como esses. Mas só de estar ali, sendo lembrado junto com eles, já significa muito para mim. Seria uma grande honra entrar para um time com nomes tão importantes – afirmou Medina, que esteve no Rio de Janeiro no fim de semana para cumprir compromissos publicitários antes de voltar o foco para a etapa decisiva do WCT, o Pipe Masters, de 8 a 20 de dezembro, no Havaí.
Ameaçado apenas pelo tricampeão do WCT, Mick Fanning, e pelo mito do esporte, Kelly Slater, dono de 11 canecos, Gabriel admite que ainda não parou para refletir sobre o tamanho do feito que está perto de realizar. Mas sabe que ajudaria a trazer alegrias para o esporte nacional em um ano marcado por algumas decepções.
– Não parei ainda para pensar no tamanho (do feito), mas o Brasil nunca teve um campeão mundial de surfe. Com certeza, significa bastante. Ainda mais em um ano difícil. O Brasil perdeu na Copa. O vôlei perdeu. Fora outros esportes que a gente também não conseguiu vencer. Se vier esse título mundial, acho que vai ser bom para a gente, para o país, e bom para o surfe também – completou.
SENNA COMO INSPIRAÇÃO
Entre todos os grandes esportistas brasileiros do “Clube dos Campeões Mundiais”, um em especial é a principal inspiração de Gabriel: Ayrton Senna. Nascido em dezembro de 1993, o surfista não teve a oportunidade de acompanhar as vitórias do piloto – morto um ano depois -, nas manhãs de domingo. Porém, após conhecer a história do tricampeão de Fórmula 1, o assumiu como maior referência no esporte.
– Começou quando vi o filme do Senna. Depois que assisti, passei a tê-lo como ídolo – revelou.
Encantado com a dedicação, o profissionalismo e o talento de Senna, Medina confessou que foi difícil segurar as lágrimas ao ver nas telas o trágico acidente de Ímola, que interrompeu a carreira vitoriosa do piloto e causou comoção não apenas no Brasil, mas entre fãs do automobilismo de todo o mundo.
– Eu chorei no filme. É tudo muito inspirador. É isso. O Senna é o meu ídolo – resumiu o surfista.
RECONHECIMENTO NO RETORNO AO BRASIL
De volta ao Brasil depois de quase três meses em viagem para as etapas de Teahupoo (Taiti), Trestles (EUA), Hossegor (França) e Peniche (Portugal), Gabriel Medina rapidamente sentiu os efeitos provocados pela proximidade do título mundial. Ao passar por São Paulo e Rio de Janeiro, o surfista percebeu um crescimento no assédio e comemorou o apoio recebido dos brasileiros.
– Quando passei pelo aeroporto já me reconheceram mais. Reconheceram-me nos lugares onde fui, me apoiaram. É muito legal. Significa um reconhecimento pelo meu trabalho. Eu faço o que amo, então é muito gratificante.
E não foi somente entre os fãs que o assédio aumentou. Medina também sentiu uma atenção maior dos meios de comunicação e destacou a importância desse momento para o crescimento do surfe no país.
– Eu percebi que aumentou não apenas na questão dos fãs. Aumentou também por parte da mídia. No dia que cheguei, passei o dia atendendo o pessoal em São Paulo e tinha várias câmeras. Para um surfista, isso não é normal comparado com esportes maiores como o futebol, o vôlei. O surfe ainda é pequeno, mas tem crescido bastante – concluiu.
O QUE MEDINA PRECISA PARA SER CAMPEÃO MUNDIAL
– Se Medina perder na segunda (25º) ou na terceira fase (13º) em Pipeline, precisa torcer para Slater não vencer a etapa, e Fanning não chegar às semifinais. Caso Fanning pare nas quartas, os dois farão uma bateria homem a homem para decidir o caneco.
– Se perder na quinta fase (9º), tem que torcer para Mick não chegar à final.
– Se perder nas quartas (5º) ou nas semis (3º), tem que torcer para Mick não vencer a etapa.
– Se chegar à final, conquista o título, independentemente do resultado de Mick.
Fonte: Globo Esporte


