A Lei nº 12.764, conhecida como Berenice Piana, sancionada em 2012, pela presidente Dilma Rousseff, prevê em seu art. 3º como direito da pessoa com transtorno do espectro autista, entre outros pontos, o acesso à educação e ao ensino profissionalizante.
Entretanto, Ana Paula Nascimento, 36, mãe de José Vítor, de 15 anos, afirma que no início da sua jornada em busca de uma instituição para o filho autista a resposta era sempre a mesma.
“Eu levava ele para a escola, ficavam um ou dois dias e depois falavam que ele não podia continuar por diversos fatores” , revela.
Por causa do entrave, Ana Paula foi obrigada a deixar o emprego de telefonista para cuidar do filho e acompanhá-lo nos estudos. Outro ponto que ainda faz parte do cotidiano da família é o preconceito.
“As pessoas têm medo do que é diferente. Ainda não estão preparadas e não sabem lidar com esse tipo de situação” , contou.
Agora, após quatro anos de frequência na instituição regular, Vítor já consegue escrever os números, reconhecer as cores e desenvolveu mais a fala.
Apoio
O adolescente e a família contam com o apoio do Centro Estadual de Educação Pestalozzi da Bahia (CAEEPB), que frequenta duas vezes durante a semana, no horário oposto ao da escola.
O Pestalozzi oferece o atendimento educacional especializado (AEE), complementar à escola, regular para cerca de 225 alunos com TEA (autismo, síndrome de Asperger, transtorno desintegrativo da infância e outros tratamentos globais não especificados).
Segundo a professora do centro, Maria Angélica Coutinho, não há uma metodologia específica para o estudante.
“Cada um é diferente do outro. Existem várias situações e tipos de autismo; portanto, a metodologia precisa se adequar a cada situação particular. O profissional de educação precisa elaborar um plano de atendimento individualizado para a necessidade de cada um dos alunos” , explica.
Ela acrescenta que a estratégia metodológica parte do princípio que seja, para o aluno, a melhor forma para aprender.
“Partimos das experiências que eles trazem, do que gostam e daí vamos pensando no trabalho que irá, também, facilitar o processo de aprendizagem na escola comum. Esse plano de atendimento individualizado do aluno é elaborado pelo professor mas deve ter a participação da família”, completa.
Este fator é importante porque, de acordo com a professora, é preciso que haja a troca de experiências e se discuta as melhores formas e por onde caminhar.
Da mesma maneira, é necessária a participação da escola comum para essa discussão. “É um planejamento baseado no diálogo”, explica a professora.
A maior dificuldade, segundo Maria Angélica, diz respeito à comunicação. “Em um ambiente em que a maioria dos alunos se comunica verbalmente e há um aluno que não se comunica desta forma, é preciso ter um olhar diferenciado para essa criança”.
Ainda segundo ela, “é preciso pensar quais são as formas, os mecanismos que farão com que ela acesse na mesma proporção o que é trabalhado com os outros alunos que não têm autismo”.
Atenção
A psicanalista e membro do Movimento Psicanálise Autismo e Saúde Pública, Cláudia Mascarenhas, acrescenta ainda que a escola deve pensar caso a caso e ver o que cada aluno precisa.
“A escola regular precisa favorecer a conversação, brincadeiras, interação e atividades. Além do acompanhante que precisa ter atenção para as dificuldades que podem ser apresentadas, sejam elas sensoriais, auditivas, entre outras”, disse.
Fora da escola o estudante precisa, de acordo com Cláudia, de atendimento especializado interdisciplinar para favorecer suas necessidades específicas.
Fonte: A tarde



