Porque és pobre e fraco, mesmo inocente, fique dezenove (19) anos na cadeia. Não há justiça para ti.
Porque é rico e poderoso, mesmo excessivamente corrupto, tome posse no Senado. Não há justiça para ti.
Porque roubou uma sardinha para matar a fome da família, mofe na cadeia. Não há justiça para ti.
Porque é rico e pode comprar sentenças, mesmo que o dinheiro venha da cueca, do mensalão, dos conchavos, fique tranquilo. Não há justiça para ti.
Porque você é de partido da oposição, mesmo apresentando um projeto que venha beneficiar os aposentados do Brasil inteiro, não será ouvido. O seu projeto nem entrará em pauto. Não há justiça para ti.
Porque é de um partido da base aliada ao Governo, mesmo errado, pode destinar as verbas da maneira que lhe convier, beneficiando aliados, conterrâneos. Não há justiça para ti.
Porque é pobre, mesmo inocente, ficará abandonado pela justiça, por dez ou mais anos, sem julgamento, apesar de ter residência fixa. Não há justiça para ti.
Porque é rico e poderoso, mesmo condenado a mais de 250 anos de cadeia, será solto por ordem da justiça, com o argumento de que não apresenta perigo à sociedade porque tem residência fixa. Não há justiça para ti.
O padre Vieira, lá no século XV, angustiado com fatos menores do que os de hoje, disse: “Este é o mundo em que vivemos”. Antes e depois de Noé, sempre foi dilúvio. Uns para uma parte, outros para outra: todos cansando-se em buscar descanso, e todos cansados de não achar”.
Hoje podemos dizer: este é o Brasil que vivemos. Antes e depois de Rui Barbosa sempre houve dilúvio, corrupção, desmando. Antes e depois do Padre Vieira, e de Rui Barbosa sempre houve desrespeito e falsa justiça, principalmente para os pobres. Para alguns poderosos, proteção exagerada. Para os outros o tormento de ver cada dia o aprofundamento da inércia, da lentidão, da surdez, da cegueira e da mudez da justiça.
Porque lhe cabe julgar, o juiz julga. Alguns julgam com a preocupação de acertar, outros julgam com a intenção de proteger um lado.
Ainda o Padre Vieira, em 1654, pregando em São Luiz do Maranhão: “Qual a causa da corrupção numa terra de pregadores? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. O que se há de fazer ao sal que não salga e à terra que se não deixa salgar”?
No início do século XIX, Rui Barbosa disse: “De tanto ver triunfar as nulidades…”
Nem Padre Vieira, nem Rui Barbosa imaginavam que no século XXI, com referência à justiça, à corrupção, às nulidades, suas reclamações seriam café pequeno. Hoje somos todos escravos de uma minoria que ao invés de controlar, descontrola a educação; ao invés de melhorar, piora a saúde; ao invés de aperfeiçoar, desmonta a segurança pública.
Se acreditasse em reencarnação, daria um jeito para alertar ao Padre Vieira, Rui Barbosa, Humberto de Campos, Graciliano Ramos, Castro Alves, (todos defensores da justiça): recusem-se ao retorno ao Brasil. Aqui em termo de justiça ou injustiça, tudo piorou.
MAGOM – Contabilista, Administrador de Empresa e membro do Lions.