O suposto serial killer Tiago Henrique Gomes da Rocha, de 27 anos, entregou nesta terça-feira (26) uma carta ao juiz da 1ª Vara Criminal de Goiânia, Jesseir Coelho, na qual afirma que está arrependido dos crimes. “Hoje peço perdão às famílias que vitimei e seja o que Deus quiser”, diz.
A carta foi entregue ao juiz pela advogada de defesa de Tiago, Brunna Moreno, antes da audiência sobre a morte da diarista Janaina Nicácio de Souza, de 24 anos. Na sessão, o acusado preferiu se manter calado, encostando a cabeça na mesa e fechando os olhos.
No início da carta, o vigilante escreve: “‘Conhece-te a ti mesmo’: talvez seja esse o maior desafio que temos”. Ele continua o texto falando que sua meta era ser um “cidadão de bem”, mas que as coisas tomaram outro rumo.
Entretanto, o vigilante também diz que existem erros em seu processo, como o laudo médico que, na avaliação dele, “foi apenas fachada” para condená-lo. Tiago também alega que sofreu pressão para falar e diz ter sido alvo de calúnias.
“Não sou indiferente, embora pareça. Acredito que de onde vem um grande mal, também pode vir um grande bem, basta mudar”, diz. Ainda no texto, que foi anexado aos processos dos quais é acusado, Tiago diz que não consegue explicar o que o levava a matar.
Em alguns casos, ele lembra ter atirado na vítima. Já em outros afirma que só se recorda de fugir: “Às vezes eu saía nas ruas alcoolizado e com grande exaltação de ânimo. Depois que via a vítima, eu ficava ‘cego’ e só recobrava a consciência depois que estava fugindo”.
Para Jesseir, o ato de escrever cartas como forma de depoimento não é um fato muito comum, mas é válido. “É um documento que vai ser juntado aos autos. Ela não está assinada. Durante a audiência, o Tiago não se manifestou, mas tenho, até então, que crer que foi ele que escreveu, até mesmo porque foi juntada ao processo pela sua advogada”, explicou o juiz.
Audiência
A primeira testemunha da audiência sobre a morte de Janaína foi Alex Alves dos Santos, que manteve um relacionamento amoroso com a vítima, que era casada, durante quatro meses e estava com ela no momento do crime. O homem disse que estava em um bar com a jovem e, no momento em que ele se levantou para ir ao banheiro, um motociclista se aproximou da vítima e realizou o disparo que a matou.
“Eu não cheguei a ver o momento do disparo, só ouvi o barulho. Quando eu virei, vi só ele montando na moto e saindo. Ele estava de blusão preto, calça jeans, luva e capacete”, disse.
Durante o depoimento, ele afirmou que não sabia que Janaína era casada na época em que mantiveram o relacionamento. “Ela dizia que era separada. Eu nunca imaginei que ela era casada. Ela nunca falava muito da vida pessoal dela”, se defendeu.
Na sequência, o marido de Janaína, Juarez Caixeta, prestou depoimento e disse que estava em casa no momento do crime. “Ela foi morta por volta de umas 21h. Eu falei com ela uma hora antes e ela disse que não ia demorar, que era para eu pegar nossos filhos na babá, comprar alguns espetinhos e que ela já estava voltando. Depois disso, não consegui mais falar com ela. Só tive notícias quando uma vizinha me falou que ela estava no IML”, contou o marido, que chorou durante grande parte do depoimento.
Ainda segundo a segunda testemunha, ele não sabia de nenhum envolvimento da esposa com outro homem e não conhecia a pessoa com quem ela estava no bar, no momento em que foi morta.
Assassinato
O crime ocorreu na noite de 8 de maio de 2014, em um bar do Setor Jardim América, em Goiânia. Janaína estava com um amigo no local, mas estava sozinha quando foi alvejada, pois o homem com quem estava havia ido ao banheiro.
Conforme a polícia, o motociclista se aproximou sem tirar o capacete e atirou nas costas da jovem, que morreu no estabelecimento. No boletim de ocorrência, consta que o homem da vítima voltava do banheiro no momento em que a jovem foi baleada. Ele chegou a ver o suspeito, mas não foi atingido.
durante audiência (Foto: Vitor Santana/G1)
Crimes
O vigilante foi preso no dia 14 de outubro do ano passado e aguarda julgamento no Núcleo de Custódia do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana. Além de crimes contra mulheres, ele também confessou assassinatos de homossexuais e moradores de rua. Inicialmente, ele confessou 39 mortes. Depois, em depoimentos na companhia de advogados, ele reduziu o número para 29.
Um laudo divulgado pela Junta Médica do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) classificou o vigilante como psicopata. No entanto, ele foi considerado imputável, ou seja, plenamente capaz de responder pelos seus atos.
A Justiça já condenou Tiago a três anos de prisão em regime aberto por porte ilegal da arma, a mesma que ele teria usado para cometer os crimes. Além disso, ele também terá de pagar uma multa no valor de R$ 241.
Apesar da pena não ser em regime fechado, Tiago está detido em virtude da condenação a 12 anos e 4 meses em regime fechado por ter assaltado duas vezes a mesma agência lotérica do Setor Central, em Goiânia.
Fonte: Portal G1