O ataque frustrado em um trem na França, atribuído a um suposto terrorista islâmico, ganhou as manchetes de toda a imprensa francesa deste final de semana. Os jornais destacam a ação de dois militares americanos, que teria evitado uma imensa tragédia. O caso também traz questionamentos sobre a segurança nos trens que circulam na Europa.
“Um ataque foi evitado em um trem Thalys”. Com essa manchete, o jornal Aujourd’hui en France informa os leitores sobre o atentado cometido na sexta-feira (21) que mobilizou toda a polícia francesa. O jornal esclarece que o homem de 26 anos, fortemente armado, estava a bordo do trem que saiu de Amsterdã com destino a Paris. Ele é de origem marroquina e foi imobilizado por dois militares americanos que, segundo o diário, ficaram feridos no momento da ação. “Não há dúvidas de que uma carnificina foi evitada”, afirma.
Aujourd’hui en France destaca a diferença de reações dos governos da Bélgica e da França. Enquanto o ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, pedia “prudência” sobre as motivações do homem suspeito do ataque, o primeiro-ministro belga Charles-Michel foi “bem mais direto” ao postar uma mensagem no Twitter de condenação ao que chamou de “ataque terrorista”.
Em entrevista ao jornal, Jean-Charles Brisard, presidente do Centro de análise do terrorismo, afirma que a França se tornou o “alvo número 1 de grupos terroristas”, que incitam franceses a agir contra seu próprio país. O especialista alerta para a população não ceder à paranoia. Segundo ele, “não há motivos para entrar em em pânico, mas, infelizmente, será preciso conviver em um clima de ameaças terroristas”.
Lista “S”
Le Monde afirma que a pista terrorista é privilegiada neste ataque que aconteceu no trem Thalys. O suspeito, que foi neutralizado por dois militares americanos, é fichado em três países como um radical islâmico. Ele viveu na Espanha por um ano, até 2004, quando decidiu se mudar para a França.
Segundo Le Monde, as autoridades espanholas alertaram o governo francês, que o colocaram em uma lista conhecida como “S”, ou seja, de “segurança de estado”, visando suspeitos de pertencerem a grupos terroristas. Na Bélgica, caso a identidade do homem for mesmo confirmada, ele também já seria conhecido pela polícia por ligações com atividades terroristas.
“Um atentado sangrento foi evitado”, resume o jornal. Le Monde traz o depoimento de vários passageiros que foram acolhidos na cidade de Arras, onde o trem parou para a intervenção da polícia francesa. Os sobreviventes do drama, ainda bastante chocados, disseram ter ouvido tiros no vagão onde se encontravam. Um francês de 35 anos contou em detalhes o barulho ouvido da arma do suspeito do ataque, que estava fortemente armado e sem camisa. O passageiro também relatou o momento em que os militares americanos, que estavam de férias, agiram para imobilizar o suspeito.
Libération manteve o mesmo tom em sua manchete: “uma matança foi evitada no trem Thalys”. Ilustrada com uma foto postada no Twitter por uma testemunha da ação, a reportagem informa que o atirador do trem estava fortemente armado com um fuzil kalachnikov, uma pistola automática, nove carregadores e um estilete. “Ele poderia ter cometido um massacre se não fosse a intervenção dos dois militares americanos vestidos de civil e que por sorte estavam no vagão”, escreveu o diário.
Testemunhas entrevistadas pelo Libé disseram que os dois militares americanos foram alertados depois de passageiros terem ouvido o suspeito aparentemente preparar o carregamento de suas armas.Depois de detido, o homem se recusou a prestar depoimento aos policiais, informaram os jornais franceses.
Segurança em trens é questionada
“O drama foi evitado por pouco” e “um banho de sangue não aconteceu por um verdadeiro milagre”, escreveu o jornal Le Figaro ao se referir ao caso. A ação deixou dois feridos graves, informou o jornal, em referência ao tiro disparado de uma pistola Colt 45 sobre um passageiro de origem britânica, atingido no pescoço. O segundo ferido recebeu um golpe de arma branca, relatou o diário.
Le Figaro também informou que o ator francês Jean-Hugues Anglade, que voltava da Holanda com a família, se feriu ao tentar acionar o alarme do trem. Essa ação, em pleno final de semana de um período de férias, levanta questionamentos sobre a segurança da rede ferroviária, afirma Le Figaro.
“Há vários meses a hipótese de um ataque terrorista em um trem de passageiros está no topo da lista de cenários possíveis, apesar de que os serviços de informação não tinham nenhum indício de ataques iminentes”, escreve Le Figaro. No entanto, os policiais da unidade de elite antiterrorismo possuem informações detalhadas sobre acessibilidade a redes de transporte para agir em caso de urgência, lembra o jornal. Um exercício de intervenção em um vagão da Thalys foi feito em 2013, informa Le Figaro. “O ataque na linha Amsterdã-Paris veio confirmar as previsões sombrias da polícia”, conclui.
Fonte: MSN Notícias