Núcleo de Assessoria de Comunicação do DTCS/UNEB
O tomate é uma hortaliça de grande consumo e produção em todo o mundo. Alguns fatores relacionados ao solo e ao clima podem favorecer o aparecimento de doenças na planta e no fruto. A busca por alternativas naturais que ajudem a sanar o ataque de pragas nas lavouras existentes no Vale do São Francisco foi o tema de uma pesquisa desenvolvida no Programa de Mestrado em Horticultura Irrigada (PPHI) do Campus III, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), localizada em Juazeiro, no interior do Estado.
O estudo avaliou a resistência de sementes de tomates ao ataque de fungos e bactérias e o controle alternativo de doenças por meio da utilização de óleos naturais, objetivando a redução do uso de agrotóxicos na cultura.
O experimento foi realizado pela mestranda Ana Paula Miranda sob a orientação da professora de Microbiologia Geral da Uneb, Cristiane Domingos da Paz. A pesquisa buscou controlar o desenvolvimento de duas doenças do solo: murcha de fusário e a murcha bacteriana.
A murcha-de-fusário é um tipo de doença causada pelo fungo Fusarium oxysporum fsp. lycopersici. Em lavouras de tomate, por exemplo, o ataque do patógeno pode levar a murcha das folhas, queda prematura dos frutos e descoloração dos vasos da planta. Já a Ralstonia solanacearum é a bactéria responsável por causar a murcha bacteriana, uma doença do solo que desenvolve a murcha da planta de cima para baixo, no período de floração da cultura.
As duas doenças se confundem no campo. Segundo Ana Paula, para identificar o ataque do fungo e da bactéria basta fazer uma simples avaliação chamada de teste do copo, onde é colocado, em um recipiente com água, um caule de planta infectado: se expelir um pus bacteriano, a planta está com a murcha bacteriana. Caso contrário, pode estar infectada com o fusário.
O controle feito com o uso de agrotóxicos não é eficiente para sanar o ataque das duas doenças. É o que afirma a professora Cristiane Domingos da Paz. Segundo a orientadora da pesquisa, esses patógenos permanecem no solo por muitos anos por meio de estruturas vegetativas e penetram na planta por meio de pequenos ferimentos existentes nas raízes. “O ataque provoca o subdesenvolvimento da cultura. Se for severo, a planta não chega a frutificar”, disse.
Ainda de acordo com a professora Cristiane, a escolha pela pesquisa com a cultura do tomate se deu por ser uma hortaliça muito cultivada por agricultores de todo o país. “Tanto o tomate industrial, quanto o de mesa, são amplamente cultivados e apresentam esses problemas. Essa pesquisa se tornaria uma alternativa para o controle efetivo dessas doenças do solo”, afirmou.
VARIEDADES RESISTENTES – Segundo Ana Paula, as sementes, denominadas de acessos, e os fungos foram cedidos pelo Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) e a bactéria foi adquirida no Perímetro de Irrigação Maria Tereza, localizado em Petrolina (PE). Para um melhor resultado do experimento, Ana Paula fez um pequeno corte nas raízes da planta e inoculou o fungo. Ela percebeu que nesse processo teria uma resposta rápida com relação à murcha de fusário, uma vez que os patógenos atacam a planta por meio de pequenos ferimentos nas raízes.
De acordo com a mestranda, o trabalho com a murcha bacteriana foi diferente. Nesse caso, ao invés de injetar a bactéria nas raízes, o patógeno foi introduzido diretamente no solo. Após a realização desse processo, Ana Paula pôde concluir que alguns acessos testados com o fusário e com as bactérias, tiveram uma resposta mais rápida, ou seja, eram resistentes as duas doenças.
ÓLEOS ESSENCIAIS: O segundo passo da pesquisa seria controlar o desenvolvimento do fungo, por meio do uso de óleos naturais. Durante o desenvolvimento do experimento, Ana Paula utilizou dez tipos de óleos essenciais feitos a base de: alecrim, bergamota, cravo, gengibre, citronela, capim – limão, laranja, pau rosa, sálvia, teatree ou melaleuca.
“A pesquisa teve o objetivo de demonstrar se esses óleos inibiam o desenvolvimento do fungo. Então, fizemos um teste de fitotoxidez a fim de observar se esses produtos causavam algum tipo de reação na planta. Como causou, então tivemos que retornar ao laboratório para diluir com a menor concentração para análise. Após esse processo fizemos novamente o teste de fitotoxidez que não causou alteração na planta”, afirmou a estudante da Uneb.
A mestranda da Uneb pôde concluir que os óleos essenciais podem inibir o desenvolvimento do fungo no solo. No caso de áreas infestadas, a estudante recomenda a utilização de cultivares resistentes, pela possibilidade de trazer menos prejuízos ao agricultor. “Aqui na região tem muitos solos infestados. Então, utilizando esses acessos resistentes e o controle com óleos essenciais, a cultura irá se desenvolver e frutificar e o agricultor terá uma boa produção. Contudo, a pesquisa com óleos deve ter continuidade para resultados mais consistentes.”, destacou.
Para a orientadora da pesquisa, professora Cristiane Domingos da Paz, o controle feito por meio de variedades resistentes e a utilização de óleos essenciais são alternativas limpas e livres de agrotóxicos. “O fungo é muito difícil de ser controlado por permanecer no solo por muitos anos através de estruturas de resistência que são os clamidósporos, o que torna o controle químico economicamente inviável. Esse trabalho surge como alternativas de controle livre de agrotóxicos que pode ser usado pelos agricultores”, finalizou.