A Alemanha disse que poderá receber até 500 mil refugiados por ano nos próximos anos, mas voltou a pedir que outros países também recebam imigrantes e refugiados, diante da pior crise desde a Segunda Guerra Mundial.
O país deverá receber mais de 800 mil refugiados só neste ano – quatro vezes mais do que o total registrado em 2014 – e é o principal destino de milhares de imigrantes que chegam ao continente.
Sigmar Gabriel, vice-chanceler alemão (equivalente ao cargo de vice-primeiro-ministro), disse que a economia alemã é forte e, assim, o país poderia aceitar um número desproporcional de imigrantes.
“Acredito que podemos lidar com algo em torno de meio milhão por vários anos”, disse ele em entrevista à emissora pública ZDF. “Não tenho dúvida disso. Talvez até mais”.
Mas países europeus seguem divididos sobre como responder ao fluxo de imigrantes, à medida que mais deles chegam à Europa.
A Hungria deverá finalizar uma cerca em sua fronteira com a Sérvia e estuda a possibilidade de fortalecer a segurança contra a entrada de imigrantes, inclusive com o envio de soldados. Já a Grécia pediu ajuda emergencial à União Europeia para atender os refugiados.
A maioria dos que chegam ao continente tem a Alemanha como destino. Veja abaixo três motivos por trás disso:
1. As regras europeias
Uma regra europeia, chamada de Regulação de Dublin, exige que refugiados requisitem asilo no primeiro país ao qual chegam no continente.
No entanto, em agosto, a Alemanha abriu uma exceção para sírios em busca de asilo, permitindo que eles se registrassem no país, independentemente de onde entraram na União Europeia. Muitos, agora, se dirigem diretamente ao país e recusam registro em outros locais.
O aumento no fluxo criou tensão e divergências quanto à política de imigração europeia. O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, crítico à imigração, disse que o problema é da Alemanha, já que este é o destino da maioria.
Outros políticos de direita dizem que permitir a entrada de tantos imigrantes envia uma mensagem equivocada e pode incentivar mais pessoas a se arriscarem em perigosas viagens, como a travessia do Mediterrâneo, para chegar à Europa.
A chanceler alemã, Angela Merkel, diz que o país tem capacidade de lidar com o fluxo de imigrantes, mas tem enfrentado pressões dentro de sua própria coalizão.
2. As demandas alemãs
A população da Alemanha está em rápida queda devido à baixa taxa de natalidade, enquanto cresce o índice de dependência de idosos – a relação entre a população mais velha, e mais custosa, em relação à mais nova, capaz de trabalhar e gerar impostos.
Muito mais do que, por exemplo, na Grã-Bretanha, onde as regras imigratórias são cada vez mais rígidas.
As projeções da Comissão Europeia indicam que a população alemã irá cair de 81,3 milhões em 2013 para 70,8 milhões em 2060. Já no Reino Unido, deverá subir de 64,1 milhões para 80,1 milhões no período.
Em relação ao índice de dependência, o percentual daqueles com 65 anos ou mais em comparação com aqueles entre 15 e 64, deverá subir de 32% para 59% na Alemanha até 2060.
Em outras palavras: haverá menos de dois alemães de até 65 anos para trabalhar e pagar impostos para cada alemão com mais de 65 anos.
A Alemanha, então, precisa desses imigrantes para manter sua força de trabalho em alta.
A maioria dos economistas diz que a imigração promove o crescimento dos países anfitriões, e analistas dizem que a Alemanha se beneficiará economicamente das pessoas que arriscaram a vida para chegar à Europa.
Dados do governo de 2014 mostram que há 10,9 milhões de imigrantes na Alemanha.
Leia mais: Por que países ricos do Golfo não abrem portas para refugiados sírios?
3. Recusado, mas não deportado
Países europeus deportam menos da metade dos que tiveram pedidos de asilo rejeitados. Em 2014, somente 45% dos pedidos de asilo foram aceitos. Para certas nacionalidades, quase todas as solicitações foram negadas.
Isso significa que, se você conseguir chegar a um país rico e acolhedor na UE como a Alemanha, mesmo se seu pedido de asilo for rejeitado, você ainda tem uma boa chance de não ser deportado de volta para casa.
Há pressão para que a UE concorde numa lista de “países de origem seguros”, o que poderia dar uma base legal para enviar mais imigrantes para seus países.
A Alemanha considera como “seguros” todos os países da UE, além de Gana, Senegal, Sérvia, Macedônia e Bósnia-Herzegovina – o que significa que pedidos de asilo de cidadãos desses locais provavelmente serão rejeitados.
Nesta semana, Kosovo, Albânia e Montenegro foram acrescentados a essa lista.
Fonte: MSN Notícias