O São Paulo estava prestes a fechar as portas do futebol feminino. Defendendo o Tricolor, Djenifer Becker recebeu uma proposta para assinar com o atual campeão Mundial, o São José-SP, que almeja um inédito título do Campeonato Brasileiro. A volante de 20 anos não pensou duas vezes. Fechou com a Águia do Vale, mas ainda lamenta o fim do clube do Morumbi. A atleta da seleção brasileira pede mais apoio ao futebol feminino. E a presença de mais clubes de camisa apoiando a modalidade.
Como uma das promessas da nova geração do futebol feminino no Brasil, Djeni Becker luta para que a modalidade cresça no país. E reconhece que o lado “jogadora modelo” pode ser uma aliada nesta batalha por mais espaço.
– Por um lado, (a beleza) acaba divulgando um pouco mesmo. O pessoal vai assistir aos jogos e vê o outro lado também, que é o futebol. E acaba gostando – comentou a jogadora, atleta do São José, campeão mundial de futebol feminino em 2014 e primeira equipe brasileira a alcançar a façanha.
Djeni Becker é vaidosa. Gosta de cuidar do cabelo, do rosto e, quando vai para os jogos, procura ficar bem arrumada. O assédio por causa da aparência não a incomoda, mas ela procura deixar qualquer status de “musa” em segundo plano. Dá prioridade para a carreira como jogadora.
– É normal. O povo elogia, eu agradeço. Mas é só isso. (…) Gosto de me cuidar. O futebol feminino é a minha profissão. Se você trabalha em um escritório, você vai de terno. Estou indo para o campo, tenho que ir bem arrumada também. Estou indo trabalhar. Penso desta forma. Tudo que for para beneficiar o clube, onde estou trabalhando, vai ser bem vindo para dar visibilidade aos jogos – disse a jovem.
DEFESA APÓS O 5 A 1
Apesar de ainda estar em início de carreira, Djeni Becker tem provado que não é apenas um rostinho bonito. Como volante, a atleta se destaca pelos passes precisos e pela qualidade na batida na bola. Passou pelas categorias de base da seleção brasileira e já teve uma oportunidade no time principal. Com a camisa amarelinha, aliás, a jovem mostrou que luta, mesmo, pelo futebol feminino.
No ano passado, disputou com a Seleção Sub-20 a Copa do Mundo da categoria, no Canadá. Na última partida da fase de grupo, as brasileiras foram goleadas pela Alemanha por 5 a 1, em agosto de 2014. Meses depois de o Brasil ser goleado por 7 a 1 para os alemães, na semifinal da Copa do Mundo. As comparações, inevitavelmente, surgiram. E Djeni não gostou.
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Na época, a jogadora publicou em uma rede social um desabafo sobre as comparações, que, segundo ela, não eram justas por causa das diferenças que existem entre o futebol masculino e o feminino no Brasil. A publicação da atleta chegou a ganhar destaque nos jornais.
(Foto: Rafael Ribeiro/CBF)
– Naquele momento, fiquei daquela maneira porque eu não via sites divulgando os jogos. Só que todo mundo resolveu divulgar quando perdeu. Para falar que iria ter o jogo, ninguém fez. Mas quando perdemos, todo mundo queria mostrar o futebol feminino. Mas daí mostrou o lado negativo, que foi a derrota – disse a atleta, que tem dois títulos sul-americanos com as seleções de base do Brasil.
Na Copa do Mundo Sub-20, as brasileiras empataram com a China por 1 a 1 na estreia (Djeni foi eleita a melhor jogadora da partida) e perderam para Estados Unidos e Alemanha.
– Estava todo mundo confiante (para enfrentar a Alemanha). Sabíamos que pegamos um grupo muito difícil. As melhores seleções do futebol feminino estavam em nosso grupo. Fomos confiantes para o jogo contra a Alemanha. Tanto que começamos o jogo bem, pressionando. Mas, no segundo tempo, tivemos uma queda total. Foi quando fomos tomando os gols e o time todo se desestruturou – relembrou a atleta, que vê a volante experiente Formiga como uma referência para a posição.
FÃ-CLUBE, CARREIRA E SONHO
Djenifer Becker é natural de Ibicaré-SC, que fica a cerca de 400 quilômetros de Florianópolis. O gosto pelo futebol surgiu na infância. Como o pai praticava o esporte e a mãe gostava de acompanhar, não teve que enfrentar barreiras ou preconceitos dentro de casa para começar a jogar. As primeiras competições foram escolares e municipais. E nesses torneios, chamou a atenção de um técnico do Kindermann, de Caçador-SC, em 2010.
Com a equipe catarinense, foi pentacampeã catarinense e campeã da última edição da Copa do Brasil Feminina. O sucesso com a camisa do Kindermann rendeu à atleta até um fã-clube. Em uma rede social, a página do fã-clube tem mais de três mil curtidas. No espaço, os fãs criaram a marca DB8, assim como existem CR7 e R10.
– Foi ano retrasado que criaram (o fã-clube). Quando acompanham os jogos, o povo vem conversar, elogia, manda fotos. Eu respondo agradecendo – disse.
A jogadora deixou o Kindermann neste ano e acertou transferência para o São Paulo. Após 14 anos sem futebol feminino, o Tricolor Paulista reativou o time neste ano. Porém, por falta de patrocinador, o clube do Morumbi desativou a equipe após o vice-campeonato paulista.
– Joguei desde 2010 no Kindermann. Nunca tinha saído de perto da minha família. Foi uma decisão difícil sair. Mas o São Paulo é um time de camisa, um time grande. E não podemos ficar sempre no ninho dos pais (risos). Uma hora temos que sair. Foi neste momento que decidi sair. Acabou não dando certo e voltei. Foi um pouco frustrante, porque foi a minha primeira saída e não deu certo. É complicado. Senti um pouco, fiquei em casa – comentou.
A passagem de Djeni pelo clube do Morumbi, como ela disse, foi curta. Depois foi contratada pelo São José Esporte Clube. A estreia pela equipe joseense acontece nesta quarta-feira, 9, quando o time do interior de São Paulo enfrenta o Foz Cataratas, às 15h, no Paraná, pela primeira rodada do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino.
– O pessoal daqui está acostumado com títulos. São José é uma grande equipe, uma equipe vitoriosa. Cheguei para somar e conquistar título – afirmou a atleta, que é a única jogadora do São José a ter um contrato de exclusividade com uma fornecedora de material esportivo, a Nike, que cede chuteiras, roupas e outros acessórios.
Com o futebol feminino ainda em busca de espaço no Brasil, Djeni Becker sonha e luta para a modalidade ganhe mais visibilidade. A chegada das Olimpíadas no Brasil, em 2016, é vista por ela como uma oportunidade para que a situação melhore.
– Espero que, por jogar em casa, a torcida compareça, apoie o futebol feminino. As referências são as mais velhas para puxar o time para o título, que são a Formiga, a Cristiane, a Marta. São as que estão há mais tempo e têm vivência nessas competições – analisou.
Fonte: Globo Esporte