pelo césio-137 (Foto: Carlos Costa/ O Popular)
O Ministério Público Federal em Goiás (MPF-GO) requisitou que o Governo de Goiás e a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) cumpram uma determinação judicial e prestem o auxílio necessário às vítimas do césio-137, em Goiânia. O acidente radiológico, considerado o maior do mundo, ocorreu há 28 anos.
No documento, divulgado na sexta-feira (18), o procurador da República Ailton Benedito de Souza destacou que, em março de 2000, a Justiça Federal sentenciou os dois órgãos a realizar várias ações em relação às pessoas que de alguma forma tiveram problemas de saúde em decorrência do acidente com o césio-137, mas que isso não está sendo feito.
O G1 entrou em contato com a assessoria do governo na sexta-feira, mas não houve retorno até a publicação desta reportagem.
Procurado por telefone e e-mail, o Cnen também não se pronunciou sobre o caso.
Entre os itens citados pelo procurador estão a garantia de atendimento médico ao paciente até a sua 3ª geração, viabilizar o transporte das vítimas em estado mais grave, fazer o acompanhamento médico da população de Abadia de Goiás – onde foram descartados os dejetos radioativos – e realizar sistema de notificação epidemiológica de câncer entre os envolvidos.
Segundo Souza, as partes entraram com inúmeros recursos, o que gerou um imbróglio que já dura 15 anos. Neste período, segundo o MPF-GO, algumas vítimas chegaram a ter algum tipo de auxílio, mas outras seguem sem a ajuda necessária.
Na requisição, que tem o prazo de 48 horas após a notificação, o MPF-GO pede que os dois órgãos citados cumpram o que consta da medida judicial e estipula multa diária de R$ 10 mil em caso de desobediência.
O órgão pede, ainda, que o governo desenvolva, em 30 dias, um programa de saúde especial para crianças vítimas diretas e indiretas da irradiação.
Contaminação
A tragédia começou quando dois jovens catadores de materiais recicláveis abriram um aparelho de radioterapia em um prédio público abandonado, no dia 13 de setembro de 1987, no Centro de Goiânia. Eles pensavam em retirar o chumbo e o metal para vender e ignoravam que dentro do equipamento havia uma cápsula contendo césio-137, um metal radioativo.
Apesar de o aparelho pesar cerca de 100 kg, a dupla o levou para casa de um deles, no Centro. Já no primeiro dia de contato com o material, ambos começaram a apresentar sintomas de contaminação radioativa, como tonteiras, náuseas e vômitos. Inicialmente, não associaram o mal-estar ao césio-137, e sim à alimentação.
Depois de cinco dias, o equipamento foi vendido para Devair Alves Ferreira, dono de um ferro-velho localizado no Setor Aeroporto, também na região central da cidade. Neste local, a cápsula foi aberta e, à noite, Devair constatou que o material tinha um brilho azul intenso e levou o material para dentro de casa.
Devair, sua esposa Maria Gabriela Ferreira e outros membros de sua família também começaram a apresentar sintomas de contaminação radioativa, sem fazer ideia do que tinham em casa. Ele continuava fascinado pelo brilho do material. Entre os dias 19 e 26 de setembro, a cápsula com o césio foi mostrada para várias pessoas que passaram pelo ferro-velho e também pela casa da família.
A primeira vítima fatal do acidente radiológico foi a garota Leide das Neves Ferreira, de 6 anos. Ela se tornou o símbolo dessa tragédia e morreu depois de se encantar com o pó radioativo que brilhava durante a noite.
A menina ainda fez um lanche depois de brincar com a novidade, acabou ingerindo, acidentalmente, partículas do pó misturadas ao alimento. Isso aconteceu longe dos olhos da mãe, Lourdes das Neves Ferreira.
Vítimas
O acidente fez centenas de vítimas, no entanto, o Governo de Goiás e as autoridades envolvidas só assimiram quatro mortes, ocorridas pouco depois do acidente, incluindo o caso da menina.
No âmbito radioativo, o acidente com césio-137 só não foi maior que o registrado na usina nuclear de Chernobyl, em 1986, na Ucrânia, segundo a Cnen. Cerca de 6 mil toneladas de lixo radioativo foram recolhidas na capital goiana e levada para Abadia de Goiás, onde permanece até os dias atuais.
Passadas mais de duas décadas, os resíduos já perderam metade da radiação. No entanto, o risco completo de radiação só deve desaparecer em pelo menos 275 anos.
Fonte: Portal G1