O Exército Brasileiro informou, nesta terça-feira (29), que instaurou Inqúerito Policial Militar (IPM) para apurar e punir os responsáveis pelo vazamento da ficha de alistamento obrigatório da adolescente transgênera Marianna Lively, 18 anos, na quarta-feira (23), em Osasco, na Grande São Paulo. Após a divulgação das fotos e dos dados pessoais da jovem, ela começou a receber ligações e mensagens ofensivas e a ter a casa “vigiada” por militares.
A corporação divulgou, em nota, que “não discrimina qualquer pessoa em razão da raça, credo, orientação sexual ou outro parâmetro. O respeito ao indivíduo e à dignidade da pessoa humana, em todos os níveis, é condição imprescindível ao bom relacionamento de seus integrantes com a sociedade.”
Ainda de a cordo com o Exército, a corporação “tem conhecimento do fato que envolveu a divulgação, sem autorização, das informações da pessoa em questão, durante o processo do Serviço Militar Obrigatório e já instaurou um Inquérito Policial Militar (IPM) para esclarecer o ocorrido e os envolvidos serão responsabilizados por suas ações, dentro do que prescreve a legislação vigente”. Um Boletim de Ocorrência foi registrado na sexta-feira (25).
Na ocasião em que as fotos e os dados da jovem foram postadas na internet por militares, ela ainda tinha 17 anos. A jovem não usa o nome de registro desde os 15 anos e pediu à reportagem do G1 que fosse identificada pelo nome acima.
A advogada Patricia Gorisch, presidente da Comissão Nacional de Direito Homoafetivo do Instituto Brasileiro de Direito de Família, está acompanhando o caso da adolescente. “Ela foi fazer algo que é obrigatório, constrangedor por ser em um quartel, cumprir com o dever cívico dela, jurar a bandeira e logo depois que saiu do ambiente militar, começou a receber as mensagens. Isso é transfobia.”
Patricia informou que vai formalizar o registro do caso no Exército Brasileiro nesta terça-feira para que sejam apurados os crimes em termos militares
Apoio da família
Marianna, que sempre teve apoio dos pais por ser transgênera, disse ao G1 que sofreu preconceito na escola quando mais nova. “Todo transgênero tem suas fases. Quando ainda era homossexual, sofri muito problema na escola. Depois, no ensino médio, voltei a ter problemas com preconceito. Fazia curso técnico em logística e não consegui terminar o terceiro ano.”
Logo que as ligações ofensivas começaram a se repetir, Marianna buscou o apoio de sua mãe. Juntas, decidiram que iriam ao quartel falar com o comandante sobre o ocorrido.
“Falamos com o capitão França. Ele pediu desculpas pela infantilidade dos soldados, mas me pediu para deixar a poeira baixar e pediu para eu trocar o número do celular para cessar as ligações. Como se isso resolvesse o problema de terem divulgado meu endereço e meus documentos todos”, disse ela.
Fonte: Portal G1