Pintor confessa à polícia de SP mais três assassinatos, diz advogado
O pintor de parede Jorge Luiz Morais de Oliveira, 41 anos, suspeito de matar e esconder corpos dentro de casa no Jabaquara, Zona Sul de São Paulo, confessou mais três assassinatos em depoimento à polícia nesta terça-feira (29), de acordo com o advogado dele, André Nino. Oliveira foi preso depois de a polícia encontrar o corpo de Carlos Neto Alves Júnior, de 21 anos, na casa do suspeito. O pintor disse que matou três mulheres desde o início deste ano, mas não lembra quem são elas. Além dessas vítimas, ele também assumiu a morte de Júnior. Ao todo, sete corpos foram encontrados na sua casa.
Oliveira foi preso na sexta-feira (25) após uma denúncia anônima. A polícia localizou o corpo de Júnior na casa do pintor e, durante a perícia, foram achados mais três cadáveres e uma ossada. Nesta terça-feira, foram feitas novas buscas no imóvel e mais corpos foram encontrados. A polícia também encontrou fotos de seis pessoas na casa e vai investigar se elas estão desaparecidas. Até agora, só o corpo de Carlos Júnior foi identificado.
Segundo o advogado, o pintor contou a policiais do 16º Distrito Policial que cometeu os crimes desde o início do ano e as três mortes ocorreram em sequência. O pintor negou em depoimento que a motivação dos assassinatos em série seja homofobia – Carlos Júnior era homossexual. O suspeito disse que as vítimas eram mulheres que usavam drogas com ele dentro da casa.
O pintor alegou que agia sob efeito de drogas e está “arrependido dos crimes”. Segundo o advogado, Oliveira só sabe que as outras vítimas são três mulheres, mas não se recorda dos nomes ou outras informações. A polícia chegou a mostrar a ele uma foto de uma mulher desaparecida na região chamada Natasha, mas o pintor não a reconheceu como uma das vítimas.
Prisão por homicídios
Jorge de Oliveira ficou preso 17 anos e 9 meses por dois homicídios em 1994 e 1995, se envolveu em rebelião de presos, e também respondeu criminalmente por sequestro, cárcere privado e formação de quadrilha. Ele deixou a cadeia em 7 de novembro de 2013.
O pintor chegou para depor durante a manhã desta terça e deixou o 16º DP por volta das 14h30. Ele está detido na carceragem do 77º DP e teve a prisão temporária decretada. Segundo o delegado Edilzo Correia de Lima, pelo caso do jovem Carlos Neto Alves Júnior, ele vai responder por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver.
casa no Jabaquara (Foto: Reprodução/TV Globo)
Durante o depoimento nesta terça, Oliveira manteve a versão que matou o jovem, que era seu vizinho, por legítima defesa. Ele disse que Júnior entrou em sua casa com uma faca na mão na companhia de outro rapaz. Segundo ele, após uma discussão, a vítima o esfaqueou no braço, ele conseguiu tomar a faca de Júnior e começou a golpeá-lo. O rapaz que estava com o jovem fugiu durante a briga, de acordo com a versão do suspeito.
Corpos
A Polícia Civil encontrou a sétima vítima da casa do pintor na manhã desta terça. Na segunda, familiares de uma mulher desaparecida encontraram, por conta própria, novos restos mortais na casa. Segundo a delegada Nilze Scapulatiello, do 35º Distrito Policial, roupas, calçados e ossos foram recolhidos da casa e levam à polícia a acreditar que pessoas tenham sido mortas e enterradas na casa do pintor.
“Tem homem, tem mulher, tem roupa de criança. Eu peguei todas as pessoas desaparecidas que eu tenho registro na área, para informar, chamar parentes, reconhecer roupa, algum detalhes, tem vários sapatos, sandálias, mas a família pode reconhecer”, disse.
Um morador da favela, que pediu para não ser identificado, afirmou que o suspeito costumava beber em um bar da região e que ele não fazia questão de esconder o desprezo que tinha por homossexuais e usuários de droga. “Ele ficava direto no bar com a gente. Ele sempre falava que tinha raiva de gay e de nóia, mas nunca imaginei que seria capaz de uma coisa dessas”.
Morte de jovem
O assassinato que levou à prisão do pintor ocorreu na noite da última quarta-feira (23), na residência dele, localizada na Rua Professor Francisco Emydio da Fonseca. Ele confessou que matou Carlos Júnior, e decidiu se entregar após pedido da própria mãe.
O local do crime já estava liberado pela polícia, após a conclusão do trabalho da perícia, quando novos vestígios foram encontrados pela mãe e pela companheira da estudante Renata Christiana Pedrosa, de 33 anos. Ela desapareceu em janeiro deste ano. A mulher, que é homossexual, morava com a companheira em um apartamento também na região do Jabaquara. Dependente química, costumava comprar drogas para consumo próprio na favela onde o pintor vivia.
Desde o sumiço da filha, Maria de Fátima Pedrosa começou o que classificou como “trabalho de detetive” ao lado da nora. Juntas, elas deram início a uma busca em paralelo às ações da polícia. Como o último registro do GPS do celular de Renata apontava para a região da favela, elas decidiram concentrar os esforços lá.
A mãe conta que chegou até a encontrar com Jorge Luiz em um dos muitos dias de busca. Na oportunidade, perguntou pela filha e mostrou até uma foto ao pintor, que negou já tê-la visto por ali.
Moradora do Rio de Janeiro, Maria de Fátima diz que está “fazendo plantão” em São Paulo desde o começo do ano. Quando ficou sabendo do caso pela TV, não teve dúvidas: foi novamente ao local.
Cansada de esperar pelo trabalho da polícia que, segundo ela, afirmava que Renata estava viciada em crack e morando na rua, na manhã de segunda ela e a nora compraram uma pá e decidiram entrar na casa do pintor para ver se encontravam alguma pista ou pertence da estudante.
Utilizando a ferramenta e também as próprias mãos, elas cavaram e vasculharam a residência até encontrar objetos, como calcinha e meias, e também restos mortais. Nenhum dos itens, no entanto, foi reconhecido pelos familiares como de Renata.
“Só vou acreditar [que a filha está entre as vítimas] se eu vir alguma coisa dela, ou o DNA, que ainda vai ser feito. Se eu vir o celular ou alguma joia que ela estava… Qualquer coisa assim. Até que me provem o contrário. O que escavamos foi pele, ossos de algum tempo. Nada que provasse que minha filha estava ali”, afirmou Maria de Fátima.
Fonte: Portal G1