
Integrantes da Câmara de Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Natural do Conselho Estadual de Cultura foram surpreendidos na última segunda-feira, 22, com a informação de que a Polícia Federal batizou de Acarajé uma de suas operações de combate ao esquema de corrupção da Lava Jato. Considerado um elemento crucial da cultura afro-brasileira, o acarajé está associado a uma série de aspectos simbólicos que levam a considerar inadequada a sua indicação nas operações que investigam ações ilícitas.
Por fim, ressaltamos que esse episódio revela como o olhar do outro constrói realidades viciadas a partir de problemas étnicos e de gênero. Ao nomear sua operação como Acarajé, a Polícia Federal opera em um movimento que ofende as baianas de acarajé, em especial as mulheres negras que sobrevivem desse oficío considerado como Patrimônio Cultural do Brasil. Leis federais protegem essa representação cultural.
Com o uso impróprio do nome na operação da Polícia Federal, o acarajé corre o risco de se tornar motivo de chacota e piadas ao ser associado às investigações de corrupção. Um verdadeiro bullying cultural que pode culminar com prejuízos, inclusive, comerciais e financeiros às mulheres que sobrevivem da sua produção. A história nos conta a trajetória de mulheres que venceram na vida por meio da venda do quitute. Temos gerações e mais gerações de famílias que foram sustentadas por mulheres que mantinham suas casas a partir da comercialização dessa iguaria. Retirar o acarajé do seu real contexto é também não reconhecê-las como protagonistas de uma história de bravura.
Por fim, solicitamos que a Polícia Federal faça uma retratação e que, nas próximas operações, evite se apropriar dos elementos ligados às manifestações populares.




