Após quase oito horas, terminou nesta quinta-feira (19) a reunião do conselho que investiga o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Ao final, o relator Marcus Rogério (DEM-RO) foi questionado pelo advogado de Cunha, Marcelo Nobre, por ter dado à defesa um prazo de cinco dias úteis para a apresentação de suas alegações finais. A previsão para que o relatório seja apresentado é dez dias.
Segundo o advogado, o prazo seria curto inclusive pela possibilidade de o relatório conter fatos relativos à acusações que não tivessem relação com a natureza da representação contra Cunha. No início de sua exposição, Cunha havia dito que só se manifestaria em relação ao truste Nethertin, e que não responderia questões sobre outros trustes dos quais tem participação, como Orion e Triumph, nem sobre as investigações da Operação Lava Jato.
Ao receber a notícia de que o prazo para as alegações finais da defesa seria de cinco dias úteis, o advogado de defesa reagiu. “Apresentar o quê nesses cinco dias? É inaceitável. É rasgar a Constituição”, disse, argumentando que o fato de haver acusações além das relacionadas à natureza da representação inviabilizaria o cumprimento deste prazo.
Cunha diz que não indicou “alfinete” para governo Temer
O presidente afastado da Câmara disse ainda que não indicou “um alfinete” para o governo do presidente interino Michel Temer. “Se achar que devo fazer gestão por quem quer que seja, eu faria, mas não o fiz. Não tem um alfinete nesse governo indicado por Eduardo Cunha”, afirmou.
Cunha rebateu o líder da Rede, Alessandro Molon (RJ), que criticou a influência de Cunha na Câmara e na montagem do governo Temer. O deputado é apontado como o dedo por trás das indicações de Alexandre de Moraes (ministro da Justiça), do advogado Gustavo do Vale Rocha (subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil) e Carlos Henrique Sobral (chefe de gabinete da Secretaria de Governo, ocupada por Gedel Vireira Lima).
Parlamentar nega ter recebido propina de Pernambuco
Em um depoimento marcado por negações, Cunha alegou não ter sido beneficiado por repasses em contas no exterior feitas pelo empresário Ricardo Pernambuco Júnior, da Carioca Engenharia.
Em delação premiada à Procuradoria-Geral da República, na Operação Lava Jato, Pernambuco disse aos investigadores que efetuou depósitos somando cerca de US$ 4 milhões oriundos de propinas favorecendo Cunha.
“Eu espero que o Ministério Público possa obter o detalhamento dessas tais contas para ficar claro que eu não tenho nada a ver com qualquer uma dessas contas citadas pelo senhor Pernambuco e desafio qualquer um a provar [isso]”, disse o parlamentar.
Cunha diz que gastos no exterior foram pagos com cartão de crédito da esposa
Em seu depoimento, o presidente afastado da Casa afirmou que os gastos em viagens no exterior foram pagos com o cartão de crédito da sua esposa. Cunha é alvo de um processo de cassação de mandato por, supostamente, ter mentido em maio de 2015, à Comissão Parlamentar de Inquérito da Petrobras, sobre a propriedade de contas na Suíça.
“Todos os gastos foram feitos com um cartão de crédito dela. Ela não é objeto dessa representação. Vossa Excelência não tem um gasto, não tem cartão de crédito cuja titularidade seja minha. Eu era apenas dependente de cartão de crédito da minha esposa”, disse Cunha ao ser questionado pelo relator do processo, deputado Marcos Rogério (DEM-RO).
A estratégia de Eduardo Cunha é negar que ele tenha qualquer relação com as diversas contas descobertas no exterior e atribuídas a ele. A defesa dele alega que se trata de um truste (tipo de negócio em que terceiros – uma entidade de trusting – passam a administrar os bens do contratante) do qual ele fazia parte.