A conversa foi gravada por Machado na casa do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP). O ex-presidente da Transpetro, que gravou várias conversas com políticos do PMDB, teve acordo de delação premiada homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
No diálogo com Sarney, inédito, Machado e o ex-presidente falavam sobre a Dilma Rousseff e sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O nome de Lula não é citado diretamente, mas, para os investigadores, fica claro que a conversa é sobre ele.
SÉRGIO MACHADO – Agora, tudo por omissão da dona Dilma.
JOSÉ SARNEY – Ele chorando. O que eu ia contar era isso. Ele me disse que o único arrependimento que ele tem é ter eleito a Dilma. Único erro que ele cometeu. Foi o mais grave de todos.
Em gravação citada pelo jornal “Folha de S.Paulo” entre Machado e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) o assunto também é Lula. Mas a conversa é sobre o suposto envolvimento do ex-presidente no esquema do mensalão do PT.
Segundo o jornal, Renan Calheiros afirma que Lula havia saído, ou seja, não processado no mensalão porque os pagamentos ao marqueteiro Duda Mendonça no exterior não foram investigados a fundo quando vieram a público.
RENAN CALHEIROS – Por que que o Lula saiu [não foi acusado no processo do mensalão]? Porque o Duda [Mendonça, marqueteiro] fez a delação – na época nem tinha [a lei]. O Duda fez a delação e disse que recebeu o dinheiro fora. E ninguém nunca investigou quem pagou, né? Este é que foi o segredo.
Duda Mendonça foi o marqueteiro da campanha vitoriosa de Lula em 2002. Ele acabou absolvido no julgamento do mensalão.
Neste trecho, também publicado pela “Folha”, Renan e Machado se referem ao triplex e ao sítio que os investigadores afirmam que são de propriedade do ex-presidente. Lula nega ser o dono.
Os dois citam uma quantia em dinheiro que Lula teria, sem mencionar a origem. Reportagem da revista “Veja” mostrou que a empresa de palestras de Lula teria faturamento semelhante à quantia citada por Machado.
Além de fazer as gravações, Sérgio Machado já deu vários depoimentos aos investigadores da Operação Lava Jato, que estão agora analisando todas essas informações trazidas pelo ex-presidente da Transpetro.
A delação premiada dele foi homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e, a partir de agora, começa uma nova etapa da apuração. O ex-presidente José sarney e os senadores Renan Calheiros e Romero Jucá podem ser chamados a dar explicações.
Versões dos citados
A assessoria de imprensa do Instituto Lula enviou nota na tarde deste sábado (28) na qual classifica como “nojenta” a divulgação das conversas gravadas e diz que não há provas que comprometam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“É simplesmente nojenta a divulgação de conversas armadas com a clara intenção de comprometer o ex-presidente Lula em ilícitos dos quais ele não participou. O vazamento ilegal dessas gravações é mais uma evidência de que, depois de investigar por mais de 2 anos, o Ministério Público Federal não encontrou sequer um fiapo de prova contra Lula. Porque Lula sempre agiu dentro da lei”, diz o texto da nota.
A presidente afastada Dilma Rousseff disse que que não vai comentar as declarações de José Sarney e de Sérgio Machado.
O presidente do Senado, Renan Calheiros, também não vai comentar.
O advogado de José Sarney, Antônio Carlos de Almeida Castro, disse que o ex-presidente não vai responder sobre fragmentos do que está sendo vazado. E que pediu cópia da delação de Sérgio Machado ao STF para poder responder de forma contextualizada.
Antonio Carlos de Almeida Castro também é advogado de Duda Mendonça. Sobre o cliente, disse que a afirmação de que Lula não foi processado no mensalão por causa da delação do publicitário não tem sentido. Almeida Castro disse que duda não protegeu ninguém, foi processado criminalmente no mensalão e absolvido pelo plenário do Supremo.
A defesa do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado disse que ele não pode se manifestar porque a delação ainda está sob sigilo.
Delta X
Em outro trecho de conversa gravada pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, ao qual a TV Globo teve acesso, ele e o senador Romero Jucá (PMDB-RR), ex-ministro do Planejamento do governo Temer, falam sobre financiamento de campanhas eleitorais. Eles usam um termo “Delta X” que, segundo investigadores, é uma referência a propina dentro de uma doação legal.
Eles dizem que o “Delta X”, a propina, sempre existiu, mas dizem que “os caras” são dois e expandiram, dando a entender que aumentaram a propina. Eles não deixam claro quem são “os caras”.
SÉRGIO MACHADO: Romero, o modelo é igual. O que varia, variou agora é que esses caras são tão doidos que eles saíram do modelo tradicional e foram…
ROMERO JUCÁ: E expandiram, fizeram…
SÉRGIO MACHADO: E foram pro, inclusive envolvendo…
ROMERO JUCÁ: É, foram pro macro.
MACHADO SEGUE: Sempre tem aquele, aquele “delta x” que é o normal. É o que sempre aconteceu em todas as campanhas eleitorais.
JUCÁ AFIRMA: Caía lá e cá. Rolava oficialmente.
SÉRGIO MACHADO: Oficialmente. Sempre teve isso. Agora, as empresas que dão, dão em todos os níveis de governo.
ROMERO JUCÁ: Dão.
SÉRGIO MACHADO: E são as mesmas. Então aqui é um acordo.
JUCÁ: Contaminado.
SÉRGIO MACHADO: O cara que faz uma obra aqui, faz lá… Não tem jeito.