Determinada, talentosa e guerreira, a judoca Ana Júlia Damasceno se dedica à arte marcial há 12 anos, e ela só tem 16. Nesse meio tempo, a atleta adolescente vem colecionando sonhos, todos relacionados ao seu crescimento no esporte do coração. O primeiro foi se tornar atleta do Clube Esporte Vitória. Conseguiu, no comecinho de 2017. A partir daí, foi campeã baiana por três vezes no torneio estadual. Também quis muito competir na Seleção Brasileira de Judô. Pois levou medalha de prata na categoria Sub-18. O voo agora é mais ousado e depende de conseguir patrocínio para disputar competições do circuito mundial: o Estágio Internacional, na Polônia, que acontece no próximo dia 22 de maio, e o Campeonato Pan-Americano Sub-18, na Argentina, em julho. Outra meta – a maior de todas para qualquer atleta – é trazer a medalha da Olimpíada de Tóquio 2020, que para Ana Júlia sintetizaria uma trajetória de vida de perdas e ganhos.
“São competições de alto nível, para as quais não tenho medido esforços nos treinos. Mas não depende só de mim. Eu preciso ser patrocinada para participar desses jogos fora do país, já que minha família não tem recursos para me bancar como atleta. Já perdi de participar do Estágio Internacional da Alemanha, da Croácia e da República Tcheca, por falta de condições financeiras. Então, meu objetivo agora é sensibilizar alguma empresa para que venha me ajudar, por exemplo, por meio do programa estadual Faz Atleta. O Vitória me oferece estrutura de treinamento, com apoio de nutricionista e psicólogo, mas não recebo verba do clube para as competições. Daí tenho que correr atrás”, declara Ana Júlia, estudante do 2º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Modelo, no bairro de San Martin, onde mora com o pai João Francisco Damasceno, 54 anos, seu maior incentivador.
Judoca da categoria Sub-18 (+70 kg) e campeã em 2017 de todas as etapas do Circuito Baiano de Judô, Ana Júlia conta que, para este ano, pretende conquistar a sua primeira medalha de nível internacional e vencer no Campeonato Brasileiro de Judô (Brasileirão). “Claro que, fora isto, o meu grande sonho, como de todo judoca, é ter uma medalha olímpica e ser da seleção principal. Mas, antes disso, minha maior expectativa é conseguir patrocínio para viajar para as competições na Polônia e na Argentina”, frisa.
“Louco e complicado”
Enquanto batalha para realizar os seus sonhos esportivos, Ana Júlia cumpre uma rotina diária pesada, como ela mesma conta: “Meu dia a dia é louco e complicado. Sou dona de casa, estudante, atleta e também me dedico à igreja. Vou à escola pela manhã; treino de segunda a sábado, das 14h às 19h, na Faculdade Social da Bahia (uma parceria com o Esporte Clube Vitória); e, quando chego do colégio, estudo até tarde da noite, principalmente quando tenho prova no dia seguinte. O judô requer da gente disciplina não só no esporte, mas também na vida escolar”, justifica a atleta, que assumiu responsabilidades de adulto desde que a mãe faleceu, há quatro anos. O judô, diz, foi um alicerce para suportar a dor da perda da mãe, aos 12 anos. “Se não fosse o esporte, eu teria entrado em depressão. O judô foi a minha terapia, a minha salvação. O treino me fazia esquecer um pouco da dor”, relata.
O pai João Damasceno afirma que é suspeito para falar da filha, mas não esconde o orgulho e a confiança na sua atleta. “Ela tem futuro, é esforçada e muito talentosa. Além de tudo, é estudiosa, nunca me deu trabalho”, diz. Ele recorda que a menina tinha apenas quatro anos de idade quando a Associação Judô Katas de Desporto fez uma seleção de 40 crianças e adolescentes no bairro de San Martin. “Ana Júlia foi selecionada e tomou gosto pelo esporte que nunca mais deixou, evoluindo cada vez mais, sempre com o meu apoio, porque aposto no esporte como um meio importante de inclusão social”.
Enquanto eu tiver vida, não irei deixar meus sonhos morrerem
Trajetória
Ao longo dos anos, Ana Júlia foi crescendo e evoluindo no judô, resultado de sua dedicação. Em 2012, a atleta se consagrou como a melhor na Bahia, na categoria Sub-13 (do peso pesado) de judô. “De 2013 para 2014, consegui bons resultados, mas não competi todas as etapas do campeonato baiano por falta de dinheiro, já que o que tínhamos era para comprar os remédios da minha mãe, que morreu de diabetes. Mas, apesar das dificuldades, eu não desisti. Voltei a treinar em 2015. Não fiz todas as competições por falta de condições financeiras, mas em todas que participei, medalhei, a exemplo do segundo lugar como melhor atleta de judô de todo o Nordeste. E continuo lutando para conquistar os meus objetivos. Enquanto eu tiver vida, não irei deixar meus sonhos morrerem”, garante a atleta.
Títulos e premiações
Além dos sonhos, Ana Júlia coleciona alguns títulos e prêmios. Foi campeã baiana nas categorias Sub-18, Sub-19 e estudantil. Em nível nacional, foi vice-campeã no Campeonato Brasileiro Sub-18, no Jogos Escolares Sub-18, na Seletiva Nacional Sub-18 e no Meeting Nacional de Base Sub-18. Com o resultado deste último, realizado em fevereiro deste ano, na capital paulista, a rubro-negra garantiu vaga na Seleção Brasileira de Judô Sub-18. Em relação às premiações, a Federação Brasileira de Judô e o Esporte Clube Vitória concederam a ela os prêmios de Melhor Atleta de Judô.
A Tarde




