ENTREVISTA ESPECIAL
LUIZ BARRETTO
Formado em Sociologia pela PUC-SP, desde fevereiro de 2011 é diretor presidente do Sebrae Nacional. Antes disso, entre março de 2005 e março de 2007, atuou como gerente nacional de Marketing e Comunicação da entidade. Foi Ministro do Turismo no período de setembro de 2008 a dezembro de 2010, cargo que já havia exercido interinamente entre junho e setembro de 2008. Sua vida pública teve início na década de 80, na Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) e no Cedec (Centro de Estudos de Cultura Contemporânea), ambos de São Paulo. Exerceu funções de direção nas prefeituras de São Paulo, São Vicente e Osasco. Em entrevista exclusiva à rede representada pela Central de Diários do Interior, Luiz Barretto fala da participação do Sebrae na RIO+20, do momento econômico do país e da necessidade de se investir cada vez mais em inovação.
O Sebrae participou da Rio+20. A consciência ambiental é incentivada junto a micro e pequenas empresas (MPEs)?
Luiz Barretto – Marcas, produtos e serviços resultantes de práticas sustentáveis são cada vez mais um diferencial competitivo de mercado, exigido pelo consumidor das empresas, independentemente do seu porte. Por isso a participação na Rio+20. Para inserir o desenvolvimento sustentável na rotina dos pequenos negócios, que representam 99% das empresas brasileiras. Entendemos que a sustentabilidade está erguida em três eixos: o ambiental, o social e o econômico. E sabemos que o lucro não é contraditório às práticas sustentáveis, mas isso deve estar claro aos nossos clientes.
Quais as metas e investimentos previstos pelo Sebrae para 2012?
LB – Fazemos 40 anos em 2012. Esta data simbólica deve ser vista também como uma oportunidade de renovação, já que estamos focados em uma estratégia de crescimento com qualidade, de segmentação para atender as necessidades específicas de cada um dos nossos públicos. Por isso, a inclusão produtiva, a inovação e a sustentabilidade são prioridades. Definimos no nosso Plano Plurianual 2012-2015 cinco metas mobilizadoras. Queremos ampliar o número de atendimento às micro e pequenas empresas, em especial, aquelas que buscam soluções em inovação, contribuir para a formalização de empreendedores individuais (EIs) e aumentar o número de municípios com a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa implementada. Em 2011 atendemos 1,100 milhão de empresas e em 2012 planejamos atender 1,300 milhão de pequenos negócios.
Hoje está mais fácil ser empreendedor no Brasil?
LB – Temos um mercado interno forte, com cerca de 100 milhões de consumidores. Com tanta demanda, é preciso entender o mercado, o público que se deseja atingir para planejar bem. Abrir e gerir uma empresa exige um conjunto de habilidades e conhecimentos. Criamos um roteiro para facilitar a abertura do negócio. O passo a passo pode ser consultado em algum dos nossos pontos de atendimento na sua cidade, na internet (www.sebrae.com.br) ou pelo telefone (0800.570.0800).
O senhor vê nessa “onda” o risco de aumento de índice de mortalidade de empresas?
LB – De forma alguma. O índice de mortalidade das micro e pequenas empresas está em queda e, atualmente, 73% dos negócios sobrevivem nos dois primeiros anos, os mais difíceis. Há dez anos, metade das empresas fechava antes desse período. O aumento da taxa de sobrevivência se deve ao bom momento da economia brasileira, ao crescimento da escolaridade da população e, particularmente, ao aproveitamento das oportunidades pelos empreendedores. As pessoas hoje fazem mais negócios porque querem, e não por necessidade. Nesse último item, há uma atuação direta do Sebrae. Um empreendedor não pode mais confiar apenas na experiência e intuição para tocar um negócio.
Como tornar o investimento em inovação um hábito?
LB – Isso é um esforço do Sebrae. A empresa que buscar a inovação se tornará mais competitiva e mais preparada para enfrentar eventuais incertezas econômicas. Trabalhamos para inserir este conceito na rotina das micro e pequenas empresas. Vamos investir R$ 780 milhões em inovação nos próximos três anos. Criamos o programa Sebraetec para levar inovação às empresas. Subsidiamos em até 90% o custo do investimento em equipamentos e novas tecnologias. Temos também o programa Agentes Locais de Inovação (ALIs), em que jovens recém-formados na universidade são treinados pelo Sebrae e vão até as empresas elaborar um diagnóstico e apresentar um plano de ação para melhorar a gestão. Sem nenhum custo.
O segmento espera pela reforma tributária?
LB – O Simples representou uma minirreforma tributária que reduz até 40% do valor dos impostos pagos pelas micro e pequenas empresas. Em 2011, o Governo Federal ampliou o teto do Simples e o limite de faturamento das empresas, o que incentivou o crescimento das empresas. Em pouco mais de dois anos, o Brasil conseguiu formalizar 2,5 milhões empreendedores individuais. Um dos próximos passos é fazer uma ampla discussão com a sociedade sobre os encargos trabalhistas, dando tratamento diferenciado aos pequenos negócios.
Quais as principais dificuldades dos micro e pequenos empresários?
LB – O acesso ao crédito bancário é um dos principais entraves ao desenvolvimento dos pequenos negócios no país. Vemos um movimento dos bancos públicos brasileiros, que está sendo seguido pelos bancos privados, de baixar os juros. Mas, além da taxa reduzida, é preciso também que o atendimento ao micro e pequeno empresário seja customizado. Os governos municipais ajudam no desenvolvimento dos pequenos negócios quando adotam posturas de incentivo local para fomentar a economia das cidades. Não onerar o empreendedor individual com despesas de licenciamento idênticas às de uma grande empresa é uma das medidas que podem ser adotadas. Gestores municipais que tenham pequenas empresas como fornecedoras de produtos e serviços estimulam o desenvolvimento local.
Como ampliar a participação das micro e pequenas empresas nas exportações do país?
LB – Das 6,3 milhões de MPEs brasileiras, 12 mil exportam produtos e serviços. Ou seja, cerca de 1% das exportações do país é proveniente dos pequenos negócios. Por esta razão, a crise internacional tem menor impacto no volume exportado pelas micro e pequenas empresas. Para alavancar as exportações, os empreendedores devem investir em inovação. É o melhor caminho para aumentar a competitividade e a sobrevivência.
Por Camila Latrova e Andréa Leonora | Edição: Andréa Leonora
Esta entrevista exclusiva foi disponibilizada para publicação em 120 jornais que formam a rede Associação dos Diários do Interior (ADI Brasil) e Central de Diários do Interior (CDI), somando 4 milhões de exemplares/dia e com potencial para atingir 20 milhões de leitores. A força do interior na integração editorial.
Crédito da Foto – Thelma Vidales/ASN