O mercado financeiro parou por uns instantes, às 18 horas de ontem (3), para acompanhar a divulgação da nova taxa básica de juros. A expectativa foi grande para que o Comitê de Política Econômica do Banco Central anunciasse um corte de meio ponto percentual. A principal preocupação de muitos analistas é que o resultado vaze antes do fechamento do pregão da Bolsa de Valores e isso provoque uma onda de especulações. Isso pode fazer com que uns poucos “amigos do rei” se aproveitem de informações privilegiadas para ganhar muito dinheiro.
O vazamento de informações sigilosas tem sido uma tônica no atual governo. Tem muito ministro por aí com o único interesse de atrair para si os holofotes da imprensa. O caso mais recente, e que provocou rebuliço na Esplanada, foi o anúncio do nome de Márcio Pochmann para a presidência do IBGE. A notícia pegou de surpresa a ministra do Planejamento, Simone Tebet, responsável pelo órgão, que sequer tinha sido consultada sobre o nome do futuro subalterno. Mesmo atropelada pelo “amigo”, Tebet preferiu engolir o sapo, fazer cara de paisagem e se manter no posto.
O problema é que dessa vez, se a língua de alguns ministros não couber na boca até às 18 horas de hoje, o resultado pode ser terrível para o mercado financeiro e abalar a confiança de investidores nas próximas divulgações do Banco Central. Que o Planalto será informado do resultado da votação antes da hora, isso nem se discute. O afã de agradar ao chefe passa, muitas vezes, por cima dos protocolos e da ética.
A expectativa é grande para o anúncio do primeiro corte da taxa de juros em meses. Atualmente a taxa está em 13,75% ao ano. A Selic está estacionada no patamar atual há um ano. A última queda dos juros também ocorreu em agosto, em 2020, no governo Bolsonaro, quando a taxa caiu para 2,0%, a mínima histórica, no contexto da pandemia de Covid-19. De lá para cá, com o objetivo de conter a inflação, foram diversas altas. Até a estabilização no nível atual.
A sessão iniciada na manhã de ontem vai fazer uma análise de conjuntura econômica. Essa primeira parte da reunião faz com que os técnicos avaliem o momento do País e definam o rumo que se pretende tomar. Na tarde de hoje, de posse de todas as informações em mãos e de muita reflexão, é que são apresentadas as propostas para a Selic e ocorre a votação.
O mercado financeiro é unânime em apostar num corte dos juros, mas ainda há dúvida sobre o ritmo de queda. Parte dos economistas avalia que há razões para justificar tanto uma baixa de 0,25 ponto porcentual quanto de 0,5 ponto. A grande maioria das instituições financeiras acredita mais na primeira hipótese, confiando numa posição mais conservadora do BC.
Essa aposta ganhou força depois de analisada a ata do Copom de junho. No documento, o BC informou que a maioria dos oito membros que participaram da reunião já enxergava condições para iniciar um processo “parcimonioso” de flexibilização em agosto, em caso de continuidade da desinflação. Resta saber quanto o governo vai conseguiu pressionar os votantes a adotar uma posição mais ousada.
Os mais céticos acreditam que o País ainda não produziu dados suficientes que garantam que a inflação esteja no bom caminho. Vários setores enfrentam uma forte pressão por aumentos, e isso pode complicar o cenário nos próximos meses. Além disso, todo mundo sabe, que as vitórias do governo no Congresso não estão solidificadas. O arcabouço fiscal ainda vai passar por nova votação e a única certeza que se tem é que o texto aprovado no Senado vai ser alterado pelos deputados. A reforma tributária está longe de ser uma realidade. Os senadores pretendem discutir muito as regras já aprovadas, antes de qualquer definição. Há chances enormes do processo não ser encerrado este ano, o que atrasaria, ainda mais os planos do governo, que busca desesperadamente, fontes de renda para reduzir o déficit em 2024.
Qualquer que seja a decisão que o Banco Central vai tomar hoje, é vital que ela seja técnica, livre de pressões e ameaças externas e sem vazamentos antes da hora. A independência da instituição foi conquistada a duras penas e não se pode desprezar isso tudo só para favorecer as vontades de um determinado grupo político.