Nesta terça-feira, 22 de agosto, os países que integram o Brics estiveram reunidos em Joanesburgo, na África do Sul, para discutir o posicionamento do grupo perante a nova ordem mundial. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, preocupado com o cumprimento de uma ordem de prisão internacional por acusações de que as tropas de seu país deportaram crianças de zonas ocupadas na Ucrânia, decidiu não viajar par lá. Ele vai participar por videoconferência e será representado, in loco, por seu ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov.
Os Brics, representados pelos líderes de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, querem ampliar sua influência política e econômica e se tornar um contrapeso ao predomínio das potências ocidentais perante o mundo. A intenção do grupo é ampliar sua zona de ação, atraindo novos membros. Segundo o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, 22 países já manifestaram formalmente interesse em integrar o Brics.
Para o encontro de Joanesburgo, foram confirmadas as participações de 40 chefes de governo ou de Estado dos continentes africanos e asiático, além de representantes da América Latina e do Oriente Médio.
A guerra entre Rússia e Ucrânia não deve ganhar grande destaque nos debates, o ponto focal da discussão é o uso de moedas locais ou de uma eventual unidade de referência do Brics para garantir as transações comerciais entre os parceiros. A ideia principal é vender a outros países que é possível criar uma comunidade que possa enfrentar de igual para igual o bloco formado pelos Estados Unidos e pela Europa Ocidental. Alguns passos nessa direção até já foram dados, principalmente pela Rússia e pela China. Os países africanos são os mais procurados para esse tipo de parceria.
O problema é que no meio do caminho se instalou uma crise em Niger. O golpe militar ocorrido no final de julho já provocou muitas mortes e levou instabilidade para a região. A situação tem se agravado dia a dia.
Os países que se posicionaram contra o golpe já fizeram sérias ameaças e até estipularam prazo para a situação voltar à normalidade, mas os apelos internacionais foram ignorados pelo governo atual do Niger. Os comandantes militares da África Ocidental estão reunidos, em Gana, para discutir uma eventual intervenção armada estrangeira contra o golpe, mas está difícil chegar a um consenso.
Embora a opção por uma intervenção armada esteja em debate, o diálogo ainda parece ser uma solução mais acertada para essa crise. Fora da África, a Alemanha subiu o tom na quinta-feira e pediu à União Europeia que adote “sanções” contra os autores do golpe no Níger. A preocupação é grande com a situação do país africano uma vez que a nação é fundamental para o abastecimento de urânio para o continente europeu. Se o novo governo do Níger se aliar à Rússia ou ao Irã, por exemplo, a venda desse material para o ocidente pode ser dificultada.
Os apelos para que se busque uma solução pacífica para a crise ganharam força nos últimos dias. Ao mesmo tempo, o novo regime nigerino busca aliados na região. Alguns países como o Chade, Mali e Burkina Fasso já se posicionaram favoráveis ao movimento que ocorreu no Níger. O ponto de união entre eles é o fato de que as economias locais não suportam mais obedecer às regras impostas pelos antigos colonizadores, principalmente a França. Os países querem ter o direito de decidir seu futuro livremente.
O novo regime considera que qualquer tentativa de intervenção militar externa contra o seu país constituiria uma “agressão ilegal e sem sentido” e prometeu uma “resposta imediata”. Esse barril de pólvora que se instalou no coração do continente africano, pode dificultar as negociações diplomáticas pretendidas pelos Brics. Enquanto a situação não caminhar para um acordo, que traga de volta à normalidade das relações locais, vai ser difícil saber como essa história vai terminar.
Reunidos em Joanesburgo, os líderes do Brics vão ter que tomar uma decisão. Como aglutinar novas forças em torno de si sem afrontar o atual “status quo” mundial. Enfrentar os gigantes antes de ter as armas adequadas para o confronto é o caminho mais curto para uma derrota acachapante.