Genuinamente brasileiro, o Rio São Francisco destaca-se entre os demais por possuir um dos maiores cursos d’água do Brasil. Rio que nasce mineiro e deságua no Oceano Atlântico, faz parte do ciclo a passagem de suas águas em áreas com diferentes climas, vegetações e relevos. Mas, não nos adentremos aos detalhes de seu percurso.
Dentre os estados que percorre, as nossas atenções voltam-se para as cidades de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE). Foquemos nessa região, a qual é contemplada pelo Velho Chico, com a sua beleza inquestionável aos olhos de quem apenas o vê.
É sobre as suas águas, que o vaporzinho passava e, hoje, é substituído pelas barquinhas, que navegam incessantemente fazendo a travessia da população de um lado ao outro da ponte. São das águas também que, grande parte dos moradores de dois estados, totalmente distintos, sobrevive, em especial, os ribeirinhos.
Populações tradicionais, os povos ribeirinhos residem às margens do Rio São Francisco e tem como principal atividade de subsistência a pesca e pequenos roçados regados pelas águas para consumo próprio. Em Juazeiro, como exemplo vivo, encontramos, no bairro Angari, moradores que vivem essa realidade.
O pescador Juvêncio Itabira, que reside há 10 anos no local, considera o Angari um bom lugar pra se viver, levando-se em consideração os vizinhos e, principalmente, a paisagem contempladora que o rio oferece diariamente. “Morar aqui é bom demais, porque tenho o rio na porta de minha casa. É ele quem me faz esquecer os problemas, que proporciona o lazer de minha família, além de dar o sustento de meus filhos”, conta.
No entanto, nem toda beleza revela a verdadeira essência. Apesar da paisagem exuberante que cega os contempladores, depoimentos dos moradores do Angari demonstram o outro lado do paraíso, como é o caso de Roberto de Jesus. Habitante do bairro há 30 anos, o pescador fala da insatisfação e o descaso com a atual situação do Rio São Francisco. “Foi-se o tempo que eu pescava muitos peixes. Eles estão morrendo por conta dos esgotos que são despejados aqui. Nosso maior problema é que o governo não tá nem aí pra gente. Precisamos de saneamento básico”, desabafa.
Dona Ana Oliveira, também moradora do lugar, não esconde o seu desapontamento com as consequências que a poluição no rio está levando à sua vida ao longo dos anos. “Hoje, a gente encontra mais peixe morto do que peixe vivo. Isso está acontecendo por causa dos esgotos e do lixo que jogam aqui. Pra minha família, que sempre viveu da pesca, é complicado. Temos que nos virar com outras coisas porque só aqui não dá”, diz.
São depoimentos como esses que configuram a verdadeira situação de quem vive “às margens” do Rio e da sociedade. Sobrepondo-se à beleza, as declarações desses ribeirinhos revelam a realidade em um paraíso às avessas?
Texto e fotos: Catharine Matos
Confira a primeira reportagem sobre esse especial: http://www.odiariodaregiao.com/especial-de-onde-vem-suas-aguas/
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