Exército quer novas armas antiaéreas até Copa 2014 para sanar ponto fraco

Artilharia antiaérea tem 35 anos, problema de manutenção e baixo alcance. Número de mísseis é segredo; nova tecnologia vai custar R$ 2,354 bilhões

Artilharia antiaérea é pré-requisito dos comitês internacionais que organizam a Copa do Mundo e a Olimpíada, competições esportivas que serão sediadas pelo Brasil em 2014 e 2016, respectivamente. O sistema de defesa, capaz de prevenir e impedir ataques aéreos realizados por aeronaves ou aviões não tripulados, é um dos pontos fracos do Exército.

O G1 publica, ao longo da semana, uma série de reportagens sobre a situação do Exército brasileiro quatro anos após o lançamento da Estratégia Nacional de Defesa (END), decreto assinado pelo ex-presidente Lula que prevê o reequipamento das Forças Armadas. Foram ouvidos oficiais e praças das mais diversas patentes – da ativa e da reserva -, além de historiadores, professores e especialistas em segurança e defesa. O balanço mostra o que está previsto e o que já foi feito em relação a fronteiras, defesa cibernética, artilharia antiaérea, proteção da Amazônia, defesa de estruturas estratégicas, ações de segurança pública, desenvolvimento de mísseis, atuação em missões de paz, ações antiterrorismo, entre outros pontos considerados fundamentais pelos militares.

Com mais de 35 anos, as armas brasileiras são de tecnologia ultrapassada e não possuem potencial de alcance a média altitude, entre 3 km e 15 km, podendo atingir apenas alvos encontrados a uma distância inferior. É possível ter ideia da levando em conta que todos os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) têm capacidade de abate antiaéreo à média altura.

O reaparelhamento do setor antiaéreo do Brasil é uma das prioridades da Estratégia Nacional de Defesa, que determina que o país adquira a capacidade de operar artilharia antiaérea a média altura.

“O material que temos é bastante defasado tecnologicamente. Os canhões entraram em operação no Brasil em 1977, mas funcionam ainda, embora com dificuldade de manutenção. Também temos outros canhões que foram fabricados pela Avibras, uma empresa brasileira, e que começaram a operar em 1985. Também é um material bastante antigo”, diz o general Marcio Roland Heise, que comanda a artilharia antiaérea brasileira.

“O problema que temos com a manutenção dos canhões e com os equipamentos de direção de tiro é que, como são antigos, é difícil achar peças para reposição. Mas isso não impede o nosso uso”, acrescenta o general.

Roland Heise explica por que o Brasil ficou tanto tempo com essa defasagem. “Temos sempre que priorizar o que é mais importante quando há dificuldades no orçamento. Como os recursos são restritos, as dificuldades foram sendo sempre colocadas. Foi priorizado o que o Exército julgou, ao longo dos anos, o mais importante”, afirma. “Agora estamos trabalhando na recuperação. Vamos lutar para que seja eficiente novamente”, completa.

Os misseis e canhões que o Brasil possui atingem uma altitude de até 3 km de altitude e podem ser disparados de um raio de até 4 km. Conforme o Livro Branco, documento que detalha a política de defesa nacional, a tropa conta com 702 canhões, de vários tipos, a maioria adquiridos no final dos anos 70 e no início dos anos 80. O documento não divulga quantidade de mísseis que o Brasil tem.

Em setembro de 2009, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, comprou 300 unidades de mísseis Igla, de alta tecnologia, da Rússia, assustando os militares brasileiros. Cada um deles custa US$ 80 mil. O comandante diz não poder informar quantos Igla o Brasil possui, “por questões estratégicas”.

“Nossos vizinhos compram e colocam na imprensa. Mas nós não divulgamos. Somos um país pacifista. Mas posso falar que temos o suficiente”, afirma.

Durante a Rio+20, em junho, o Exército posicionou o armamento em lugares isolados ao redor do Rio Centro, com a missão de abater qualquer aeronave ou explosivo que invadisse o espaço aéreo. Os canhões ficaram escondidos dentro do Autódromo de Jacarepaguá, de empresas ou em áreas abertas, como campos de futebol, para que a população e os turistas não pudessem ver. Os canhões e os mísseis não precisaram ser usados.

Em 2014, o general garante que o Brasil não vai passar vergonha. “Nós temos a pretensão de adquirir tudo o que precisamos até a Copa, sim. O Exército está conduzindo um projeto para reformular material e também conceitos de uso, buscando também a capacidade de alvo a média altura. É o que queremos”, diz Heise.

Ao custo de R$ 2,354 bilhões, segundo o general Heise, a proposta para atualizar o sistema de defesa antiaérea começou em 2011. O estudo de viabilidade está em fase de elaboração. Contudo, o Livro Branco estima em R$ 859,4 milhões a previsão de investimentos na área até 2023. Os militares levantaram mais de 4 mil especificações sobre que tipo de armas, comunicações e logística desejam ter. Ao término do trabalho, será apresentado em licitação o que o país precisa para se proteger diante das “ameaças modernas”. Entre os interessados no contrato estão fabricantes russas, francesas, israelenses e americanas.

“O projeto segue um cronograma de 10 anos para que possamos colocar todo o material em ordem. Isso demora, porque temos também que capacitar o pessoal e fazer testes. Não adianta nada termos o equipamento se ninguém sabe operá-lo”, diz o general. “Eu gostaria de ter muita coisa, mas não temos todo o dinheiro do mundo para isso. Eu queria ter a Ferrari, mas às vezes você só consegue comprar outro carro, mesmo que não seja tão potente”.

O alcance de média altura, no entanto, está praticamente certo. “A vantagem dessa tecnologia é podermos atuar também à baixa altura de uma distância maior. Você pode até estar a 40 km do alvo e disparar”, diz.

Áreas estratégicas

Os grupos de defesa antiaérea do Brasil começaram a ser criados em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, e foram posicionados em áreas que preocupavam na época, como Rio de Janeiro, Praia Grande (SP), Caxias do Sul (RS) e Sete Lagoas (MG). O último grupo a ser criado foi o Brasília, que começou a ser estruturado em 1988 e é o melhor equipado, com a missão de defender o Palácio do Planalto.

“O posicionamento dos grupos atende interesse de proteção de estruturas estratégicas. Na Baixada Santista, há refinarias de petróleo. No Rio Grande do Sul, várias fábricas importantes no setor de defesa e também refinarias. Em Minas, temos outras indústrias de armas. Já no Rio, há plataformas de petróleo que devem ser defendidas ”, explica o general.

O Exército pretende construir pelo menos três novos grupos em áreas estratégicas, como na Usina Hidrelétrica de Itaipu, no Paraná, e na região amazônica, para proteger a selva e as hidrelétricas que estão sendo construídas. Outras áreas de interesse são aeroportos, portos e estações de transmissão.

Em todo grande evento internacional, a artilharia antiaérea é fundamental para defender chefes de estado e autoridades de ataques terroristas. Na Copa do Mundo, é uma das exigências da Fifa. Em 2010, a África do Sul teve de alugar os sistemas de radares e antimísseis de Israel para atender aos requisitos, ao custo de mais de R$ 1 bilhão.

Nos centros estratégicos do País, a estratégia de presença do Exército concorrerá para assegurar a capacidade de defesa antiaérea, em quantidade e em qualidade, sobretudo por meio de artilharia antiaérea de média altura.”

Trecho da Estratégia Nacional de Defesa

Modo de atuação

A artilharia antiaérea funciona por meio de canhões e mísseis. No Brasil, dentre os canhões utilizados estão o Oerlinkon/Contraves 35 mm, de fabricação italiana e suíça, adquirido em 1977, e o sueco Bofors 40 mm. Já os mísseis são do tipo Igla, russos, e que são disparados por apenas um homem.

Os mísseis têm validade de 10 anos e, quando estão para vencer, são usados em treinamento. A última leva chegou em 2011 – a quantidade comprada não é divulgada, mas os oficiais afirmam que é suficiente.

“Um ataque não ocorre do dia para a noite. Se houve uma crise, deslocamos pessoal e as armas para o local. Só atuamos sob ordem do Comando de Defesa Aeroespacial (Comdabra). Em tempos de paz, um tiro de abate depende da autorização da Presidência ou de alguém designado por ela”, diz.

Necessidades

Com velocidade de 1.200 km/h, os mísseis Igla são do tipo “atira e esquece”, seguem em direção do alvo guiados por infravermelho. Eles são mais empregados no abate de aeronaves. Os canhões requerem orientação por radar e cálculos de tiro, para que os explosivos acertem o alvo em determinada posição no futuro. Eles podem ser usados para derrubar drones (aviões não tripulados que recolhem informações e realizam ataques) ou helicópteros a baixa altitude.

“O Igla nos interessa em alguns tipos de emprego, pois é levado por um único homem e vem pronto, é fácil de transportar”, diz o general.

Dentre os equipamentos que a Brigada de Artilharia Antiaérea pretende adquirir até a Copa está a tecnologia de guiamento. “Algumas ameaças não possuem fonte de infravermelho suficiente para que o Igla possa interceptá-los. Precisamos de novos tipos de mísseis, que sejam capazes de se guiarem e perseguir a ameaça se ela fizer manobras para fugir”.

“Até hoje, nunca fizemos um disparo real. É uma responsabilidade e um risco muito grande, precisa ter certeza. Depois de disparado o míssil, não tem volta. Quando se abate uma aeronave, pessoas morrem. Em exercícios, simulamos isso. Mas, em uma operação de não-guerra, como Rio+20 e grandes competições, uma falha é inadmissível. Essa palavra não existe no dicionário da antiaérea”, afirma Heise.

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