Estava no Centro de Cultura João Gilberto, para assistir a uma peça, quando se aproximaram de mim, duas pessoas da “alta” sociedade, uma de Juazeiro outra de Petrolina, e foram me perguntando (em uma só voz): – “leu o jornal”?. Que jornal? Perguntei. – O que fala do casamento do ano, do século, do milênio! Os três, demos uma gargalhada só. E é porque eu não sabia do que se tratava. Elas me passaram a contar detalhes do que estava escrito. As interrompi e disse: não consigo ler as páginas dos relatos sociais. Até porque na minha visão, (que deve ser retrógrada) pouco se aproveita. Com exceção de alguns casos. E elas: – Não importa, vamos comentar.
– O jornalista foi de uma futilidade tal que não registrou uma só vírgula sobre a emoção dos noivos, a alegria das crianças, a satisfação dos pais, o contentamento dos padrinhos, a boa celebração, a mensagem do celebrante, a euforia dos presentes. Diante da discrição, que me pareceu folclórica, perguntei: e o que ele registrou? – Ele comentou sobre objetos e penduricalhos. Falou um pouco da decoração, de flores, de tapetes, porém nem uma vírgula sobre as pessoas.
O sino tocou, houve correria, e fomos assistir à peça. Na saída, elas estavam me esperando para os comentários. Uma falou: “- gostastes”? – Gostei. A outra: – Você sentiu que quanto mais brega, mais fútil, mais aplausos? – Relativo. Não sei mais o que é brega e o que é chique. Baseados no que leram e no que assistimos, registramos:
Hoje se tá mais para bajulação do que para reconhecimento;
Mais para traição do que para fidelidade;
Mais para maldade do que para bondade;
Mais para o fútil do que para a razão;
Mais para o besteirol do que para o profundo;
Mais para adulação do que para a franqueza;
Mais para odiar do que para amar;
Mais para a ausência do que para a presença;
Mais para a escuridão do que para a clareza;
Mais para a corrupção do que para a honestidade;
Mais para a covardia do que para a coragem;
Mais para a crueldade do que para a bondade;
Mais para a burrice do que para a sabedoria;
Mais para os direitos do que para os deveres;
Mais para o escândalo do que para a normalidade;
Mais para o fracasso do que para o êxito;
Mais para o falso do que para o verdadeiro;
Mais para a inveja do que para a luta;
Mais para a sujeira do que para a pureza;
Mais para briga do que para a união;
Mais para a mentira do que para a verdade. E despedimo-nos.
Assisti à peça e sai do teatro pensativo até chegar em casa. Por coincidência, desta vez Graciosa não foi comigo. Tive que lhe contar. No outro dia, recebia a Revista Veja, com um artigo de Roberto Pompeu de Toledo: 232 BOMBAS ATÓMICAS. Falava dos 32,5 milhões de brasileiros analfabetos funcionais. … “Também é desanimadora a constatação de que, mesmo entre os portadores de diploma universitário, há carências na alfabetização. 38% deles não alcançam o nível de alfabetização plena”. Quis dizer: leem, mas não interpretam, não sabem bem o que leram, não conseguem escrever. É o Brasil dos analfabetos, dos formados sem base. É o Brasil que constrói prédios para faculdades. É o Brasil que faz propaganda de dezenas, centenas e até de milhares de faculdades abertas. Somente abertas, sem ensinar. E haja analfabetos nos três níveis, segundo o Inaf: Indicador de Alfabetismo Funcional: rudimentar – básica e plena.
Do que vi, ouvi e li, conclui que estamos caminhando para um pais de 4º mundo, lugar apropriado para analfabetos.
MAGOM – Contabilista, Administrador de Empresa e membro do Lions.