Depois de mais de um mês de reuniões suspensas por causa das eleições municipais, a CPI do Cachoeira retoma os trabalhos nesta terça-feira (9) com o depoimento do deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), suspeito de ter envolvimento com o contraventor, preso em fevereiro sob acusação de comandar uma rede de jogos ilegais e corromper agentes públicos.
Nesta segunda (8), o deputado afirmou que comparecerá à comissão. “Estarei lá e respondendo a todas as perguntas que me forem feitas” disse. Esta é a segunda vez que o tucano é convocado para responder a perguntas dos parlamentares que integram a CPI.
No começo de setembro, Leréia tinha audiência marcada, mas, no dia determinado, enviou comunicado à comissão dizendo que não iria comparecer. A secretaria da CPI informou, na ocasião, que Leréia tinha alegado compromissos pessoais anteriormente assumidos.
Para o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), a convocação do tucano desvia o foco da CPI. Segundo ele, a comissão deveria apurar desvios de recursos públicos operados através da construtora Delta, empresa que mantém contratos com o governo federal e governos estaduais.
As investigações da Polícia Federal apontam que a Delta repassou dinheiro para empresas de fachada ligadas a Cachoeira, supostamente usado para pagamento de propina e caixa dois em campanhas.
“Vai ser uma repetição. A questão é que estão valorizando o assessório e esquecendo o essencial. O essencial é o desvio de dinheiro público através da Delta. Há uma coleção de ilícitos praticados por pessoas poderosas. Portanto, o depoimento do Leréia não acrescenta absolutamente nada em relação ao objetivo da CPI”, disse Alvaro Dias.
A reunião da comissão nesta terça, dois dias após o primeiro turno das eleições municipais, não contará com a presença de alguns parlamentares petistas. O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), afirmou ao G1 que não comparecerá porque participará de encontro do diretório do PT em São Paulo.
O líder do PT, deputado Jilmar Tatto (SP), que costuma participar das reuniões da CPI e fazer perguntas na condição de líder partidário, também afirmou que não comparecerá ao depoimento de Leréia.
“Vou participar de uma reunião com a ministra Ideli Salvatti [de Relações Institucionais] às 10h, no Palácio do Planalto. Acho que de tarde não vou à reunião da CPI”, afirmou.
Denúncias
Segundo a Polícia Federal, Leréia mantinha relação próxima com Cachoeira e, conforme gravações de escutas telefônicas, chegou a receber a senha do cartão de crédito do bicheiro.
O própro Leréia chegou a afirmar no plenário da Câmara, em maio, que era amigo do bicheiro. Na ocasião, o deputado lembrou que era aniversário de Cachoeira.
“Meu nome é citado várias vezes como uma pessoa que falou frequentemente com o senhor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, que, por sinal, faz aniversário hoje”, disse Leréia. “Está preso aí na Papuda. Faz 49 anos e é meu amigo pessoal”, disse o deputado na ocasião.
Interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal e que estão com a CPI mostram a proximidade entre o deputado e o bicheiro. Em uma das gravações, feita no dia 3 de junho de 2011, Leréia afirma que estava indo à sede da Construtura Delta para conversar com Cachoeira.
As interceptações telefônicas, de acordo com a CPI, dão conta ainda de que repasses de dinheiro eram feitos ao deputado. Ele teria recebdio cerca de R$ 85 mil.
Requerimentos
Já na quarta (10), os integrantes da comissão se reúnem a partir das 10h15 para análise de requerimentos. Há mais de 300 requerimentos acumulados. Entre eles, os que pedem a quebra de sigilos das empresas suspeitas de serem fantasmas no esquema do contraventor Carlinhos Cachoeira.
Segundo o presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), além dos requerimentos, os líderes partidários que compõem a comissão também devem começar a analisar o pedido feito pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS) para prorrogar a CPI.
A comissão tem prazo para funcionar até o dia 4 de novembro, mas pode ser prorrogada por mais 180 dias. Para que a prorrogação aconteça, são necessárias, no mínimo, 27 assinaturas no Senado e 171 na Câmara, mesmo número que foi preciso para a criação da comissão.