Não passou despercebido em setores do governo o leve reparo que o chefe da Casa Civil do governador Jaques Wagner, Rui Costa, fez hoje, em entrevista à Tribuna, sobre as dificuldades de comunicação da administração. “Eu diria que talvez tenha um problema de comunicação das pessoas terem pleno conhecimento das obras que estão em curso”, disse Rui, depois de elencar, para a editora Fernanda Chagas, algumas das razões para a derrota do PT nas eleições municipais em Salvador.
Não custa lembrar que o próprio Wagner já disse que Rui fala por ele e que, veladamente, o chefe da Casa Civil, escolhido para o cargo dada a sua proximidade com o governador, é seu preferido para sucedê-lo, em 2014. Tratado com reservas desde as eleições municipais, quando se avalia que a gestão estadual foi a julgamento em muitas cidades, a exemplo da capital baiana, o tema assume papel emergente na agenda interna do governo, não por vocalização exclusiva de Rui, que pensa, naturalmente, como pré-candidato.
Há queixas de secretários que se encontram em várias pontas da gestão e têm, na estrutura do governo, muito menos destaque e respaldo que Rui. Eles se ressentem de uma suposta dificuldade para dar visibilidade às ações de suas pastas, dando força à crescente tese de que Wagner precisa melhorar sua política de comunicação ou mesmo mudá-la radicalmente. A exigência parte do pressuposto de que o governador deveria parar, também nesse campo, de copiar o estilo do ex-presidente Lula.
E uma de suas primeiras providências deveria ser evitar, por exemplo, o equívoco de virar as costas à classe média. Por enquanto, a discussão parece estar apenas ganhando corpo, embalada pela frustração da derrota petista para o democrata ACM Neto e o cenário desafiador de 2014, quando Wagner vai tentar fazer o sucessor e Rui pretende encarná-lo. Não por acaso, Rui, na mesma entrevista, disse que 2013 será o ano das “realizações” do governo, apesar do anacronismo do calendário numa gestão de seis anos.
Como “realizar” sem comunicar “causa” muito pouco, convém esperar o recrudescimento do debate no governo sobre sua própria comunicação.