O desmatamento da floresta amazônica cresceu 129% nos últimos quatro meses deste ano, em comparação com o mesmo período de 2011, segundo dados divulgados na última semana pela ONG Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
De agosto a novembro de 2012, 1.206 km² de vegetação da Amazônia Legal foram destruídos, aponta o Imazon. É praticamente a mesma extensão da cidade do Rio de Janeiro, e mais do que os 527 km² devastados no mesmo período de 2011.
A ONG usa dados de satélite para fazer um levantamento independente da destruição da Amazônia, o chamado Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD). As informações são diferentes das fornecidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que faz o levantamento usado pelo governo federal. Por isso, os dados não podem ser comparados.
O estado em que ocorreu maior desmatamento, no período, foi o Pará (51% do total desmatado). Em seguida estão Mato Grosso (21%), Rondônia (13%) e Amazonas (12%). Foram destruídos 613 km² de floresta só no Pará, de acordo com o Imazon.
Aquecimento no desmate
Para o pesquisador do Imazon, Heron Martins, a detecção mostra que “pode ter ocorrido um aquecimento no desmate” nos últimos meses, mesmo com anúncios recentes de queda na devastação da Amazônia.
“Nos quatro meses, no acumulado, estamos muito acima do que ficou no acumulado do ano passado”, pondera Martins. “Isso já foi reportado principalmente para as autoridades do Pará, em algumas reuniões com governo e com municípios”, afirma.
Uma das razões apontadas pelo pesquisador para o aumento no desmate no território paraense é o asfaltamento da rodovia BR-163, que forna mais fácil o acesso tanto por motoristas quanto por exploradores de madeira ilegal na região do oeste do estado. “O asfalto em si não é o problema, mas a obra sem fiscalização facilita o acesso por parte de quem vai desmatar”, diz Martins.
Grande parte do desmatamento na Amazônia ocorre de julho a outubro, meses de maior seca, segundo o pesquisador. A partir de novembro, a chuva dificulta a extração ilegal da madeira, o que não significa que a destruição da mata desapareça. “Existem casos em que continua havendo desmatamento, nestes outros períodos”, diz Martins.
Novembro
Considerando apenas novembro, foram detectados 55 km² de desmatamento na Amazônia Legal, segundo o Imazon. É mais do que a devastação ocorrida no mesmo mês em 2011, quando 16 km² da floresta foram perdidos. Os dados, no entanto, estão comprometidos devido à cobertura de nuvens neste mês, o que prejudicou o registro do satélite, afirma a ONG.
Para Martins, o desmatamento também está ligado à redução de sete Unidades de Conservação ambiental no país. A construção de hidrelétricas motivou a redução da área de cinco, dessas sete. “Além do fato em si, de reduzir a área protegida, isso gera expectativa de que outras unidades de conservação podem ser diminuídas”, o que motiva madeireiros ilegais e outros agentes da devastação da floresta, diz o pesquisador.
Balanço anual
Segundo o monitoramento anual do Inpe, o chamado Prodes, foram desmatados 4.656 km² da Amazônia no período de agosto de 2011 e julho de 2012, mais de três vezes o tamanho da capital paulista. A área desmatada é 27% menor que a registrada anteriormente, entre agosto de 2010 e julho de 2011 (6.418 km²). Foi a menor taxa desde que o Inpe começou a fazer a medição, em 1988.
Segundo o governo federal, a estimativa possui margem de erro de 10%, e os dados finais do levantamento devem ser divulgados no próximo ano. As informações do Prodes consolidam dados coletados ao longo de um ano por satélites capazes de detectar regiões desmatadas a partir de 6,25 hectares.
São computadas apenas áreas onde ocorreu remoção completa da cobertura florestal – característica denominada corte raso. Segundo o Ibama, entre agosto de 2011 e julho de 2012 foram registrados 3.456 autos de infração na região da Amazônia Legal.