Dona Antônia e Seu Givaldo estariam vivendo uma rotina ainda mais árdua neste período de estiagem se não fosse a água adquirida através da Bomba d’Água Popular (BAP) instalada próximo à casa do casal na comunidade de Barriguda, município de Curaçá. Com esta tecnologia que bombeia água do subsolo localizada a partir da perfuração de um poço, os animais da família e das propriedades vizinhas podem beber todos os dias. Nos anos anteriores de seca, os criadores e criadoras percorriam quilômetros para conseguir água em cacimbas ou por meio de cataventos para saciar a sede dos animais e até mesmo realizar as tarefas domésticas mais urgentes. “A BAP veio em boa hora, aqui se o bicho tiver com sede na hora que a pessoa chega dá água e com o catavento os bichinhos passavam era três, quatro dias berrando com sede, era de cortar o coração. Se num tivesse ela (a BAP) não tinha mais nada, tava tudo se acabando de sede. Quem ia aguentar?”, diz Seu Givaldo.
São cerca de 1050 litros de água por hora que serve para o uso comunitário, principalmente para o rebanho beber e para as pessoas tomarem banho, lavar roupa e cuidar da casa. Até mesmo uma horta e um pequeno cultivo de capim é possível ao lado da BAP. Em Barrigua e em outros povoados de Curaçá, é preciso ampliar as tecnologias que garantem a permanência das famílias, pensando inclusive na garantia da terra e de incentivos à produção agrícola. Entretanto, ações como a instação de tecnologias, assessoria técnica e formação das famílias voltada para a Convivência com o Semiárido já fazem a diferença num período como este. Dona Antônia lembra outros períodos de seca e compara as realidades: “Já peguei água na cabeça, lavava roupa na cacimba… A gente pagava as pessoas para trazer água de Patamuté. Hoje aqui é pra tomar banho, lavar roupa e se não fosse a cisterna, até beber era daqui”.
Linhas de luta pela Água
Instalada pelo Irpaa através do Programa Uma Terra e Duas Águas – P1+2 – da Asa (Articulação do Semi-Árido), a BAP faz parte de um conjunto de tecnologias que uma propriedade rural do Semiárido brasileiro situada em área de sequeiro precisa para garantir uma boa qualidade de vida a partir da agropecuária de base familiar. Nessas áreas principalmente, o segredo deve ser o armazenamento da água de chuva, uma possibilidade real, necessária e cada vez mais viável devido ao grande número de tecnologias e práticas desenvolvidas para este fim.
O Irpaa defende a implementação de cinco linhas de luta pela água, uma ação que, se assegurada para as famílias sertanejas que vivem no campo, iria proporcionar muito mais tranquilidade para as/os agricultores/as nestes períodos de estiagem. Os estudos e constatações feitas ao longo dos anos apontam que apenas uma cisterna para consumo humano ou um barreiro para os animais não resolve as dificuldades de acesso a água na propriedade, é necessário garantir também a água para produção, água de reserva para emergências e também água para uso da comunidade.
Com a irregularidade das chuvas cada vez maior devido às mudanças climáticas no planeta, o povo sertanejo que vive da produção em área de sequeiro e da criação de animais convive com os desafios de assegurar água para esses diversos fins. A proposta de Convivência com o Semiárido tem contribuído significativamente para isso, amenizando as dificuldades enfrentadas por inúmeras famílias nos ciclos de seca já vividos. Portanto, a construção e implementação das políticas públicas voltadas para a realidade do homem e da mulher do campo no Semiárido brasileiro precisa atentar para isto, assegurando-lhes medidas estruturantes e não apenas ações emergenciais e paliativas.
Informações de Comunicação IRPAA