Foi-se o tempo em que crianças com idades entre 3 e 4 anos iniciavam a prática de esportes somente por recreação. Inspirados em ídolos, principalmente do futebol, os pequenos estão trocando as brincadeiras de criança por atividades competitivas, de olho na possibilidade de galgar um futuro profissional bem sucedido aliado a polpudas contas bancárias. Mas o resultado não tem sido nada bom e o preço a pagar por essa atitude pode ser muito mais alto dos que os sonhados lucros: graves problemas físicos num corpo ainda em formação.
“O início precoce da prática de esporte competitivo gera sobrecarga e lesões próprias de adultos, como fraturas, tendinites, além de lesões musculares e meniscoligamentares (nos ligamentos). Elas podem ser graves ao ponto de comprometer a cartilagem, articulações e mesmo a evolução da estatura da criança”, alerta Moisés Cohen, presidente da Sociedade Mundial de Artroscopia, Cirurgia do Joelho e Trauma Desportivo (ISAKOS).
O especialista reconhece que o início da prática de esportes recreativos o mais cedo possível tem suas vantagens, pois proporciona maior disposição física e mental e ajuda na disciplina do menor, além de elevar a estima, despertar o espírito de liderança e desenvolver a capacidade da convivência em grupo. “O problema é quando a criança vai para as atividades competitivas e é submetido a treinamentos constantes e pesados para sua idade por pressão de treinadores ou mesmo dos pais, quando não está preparada nem física nem mentalmente para isso”, alerta.
Lesões irreversíveis
A preocupação é porque, mesmo quando recuperadas, algumas lesões podem retornar na adolescência ou fase adulta, como as que danificam a cartilagem em articulações por conta de carga excessiva no joelho, por exemplo. “Faltam estudos que demonstrem a real situação dessa patologia, mas, de acordo com minha experiência, nas duas últimas décadas as lesões em crianças e adolescentes, abaixo dos 15 anos, têm aumentado muito”, revela o Dr. Moisés.
Ainda segundo o especialista, nos EUA, aproximadamente 3,5 milhões de crianças abaixo dos 14 anos recebem tratamentos ortopédicos, por ano, em decorrência da prática de atividades esportiva. A incidência desse problema é tão preocupante que foi desenvolvido um programa de conscientização e prevenção de lesões esportivas para os menores. “É preciso que os pais cuidem para não fazer dos seus filhos atletas profissionais precoces. O mais importante é evitar que atitudes físicas extremas possam se transformar em irreparáveis”.
De acordo com a Sociedade Americana de Cirurgiões Ortopédicos, existem cinco procedimentos que podem reduzir o risco de lesões nos joelhos de atletas:
– Faça exercícios regularmente para se manter em forma e evitar o ganho de peso;
– Alongue delicadamente os músculos antes de qualquer exercício;
– Aumente a intensidade ou a duração de seus exercícios de forma gradual e não de uma única vez;
– Quando correr, use tênis apropriados para corrida, com um suporte robusto;
– Corra com a postura correta, flexionando os joelhos e inclinando seu corpo levemente para frente.