Família que vivia nas ruas e mobilizou a web ganha casa e trabalho em SP

Foto foi publicada em rede social e gerou milhares de compartilhamentos.
Casal e criança viviam debaixo de uma ponte em São Vicente, SP.

CASALA família de Anderson Antônio Dias da Silva e Sabrina Monteiro de Barros, que há cerca de uma semana vivia pelas ruas de São Vicente, no litoral de São Paulo, após serem iludidos com falsas propostas de trabalho, conseguiu, após grande mobilização nas redes sociais, uma casa e um trabalho em uma marina de Guarujá. O casal, que vivia debaixo de uma ponte, viu a vida mudar após uma foto ser compartilhada por milhares de pessoas no Facebook. Em questão de algumas horas, o casal recebeu ajuda de várias pessoas e ofertas de emprego em várias partes do Brasil. A família optou por mudar para o Guarujá, onde os donos de uma marina na cidade ofereceu também uma moradia.

A família chamava atenção nas ruas pela forma educada que se apresentavam, pela história e pela simpatia do filho do casal, que tem apenas dois anos. “A gente veio para a Baixada Santista para tentar viver a nossa vida. Queríamos cuidar dos nossos filhos de forma digna e pela nossa própria capacidade”, explica Anderson, que aguarda para o próximo mês o nascimento de um novo filho, já que a esposa está grávida de oito meses.

A semana que a família viveu nas ruas foi de alegrias e tristezas, que serviram para firmar alguns valores na família. “A gente viu muita coisa boa e muita coisa triste. Algumas pessoas acham que quem vive nas ruas são os drogados, os bêbados, mas ninguém pode prever o que vai acontecer. Nós conhecemos moradores de rua que vivem assim porque não conseguem coisa melhor. Não é todo mundo que recebe ajuda. Ir parar na rua não é uma escolha, é o que sobra”, diz Sabrina, que irá retomar o pré-natal, que fez apenas nos três primeiros meses de gravidez.

A história da família teve uma mudança radical em questão de oito horas, após ganharem um almoço no restaurante de Roberto Schweitzer, em São Vicente , e conhecerem Claudete Sachi. “Por volta da 17h fomos almoçar no restaurante do Roberto. Lá conhecemos uma cliente do restaurante, que depois de ouvir a nossa história tirou uma foto nossa e disse que ia colocar na internet. Quando foi mais tarde, lá pela meia noite, um monte de gente nos cercou dizendo que estavam nos procurando, que nossa história estava sendo contada na internet e que já tínhamos emprego e casa para morar”. Ficamos assustados. A gente não sabia o que estava acontecendo, lembra Anderson.

Após a divulgação da história, a família recebeu muitas ligações de gente que queria ajudar. Em uma delas uma pessoa disse que daria casa e emprego para a família, desde que eles se convertessem para outra religião. “Recebemos convites em Minas Gerais também, mas não queremos depender de ninguém. Não posso aceitar entrar em uma religião que não conheço ou ir para um estado diferente. Não sei se a gente se adaptaria”, conta Anderson.

Quando receberam a notícia de que havia uma casa e trabalho na região, o casal não pensou duas vezes. “Quando chegamos e vimos o lugar lindo que a gente ia viver fiquei admirada. Em um dia a gente estava na rua e agora vivemos em um lugar lindo desses”, diz Sabrina.

Antes das mudanças, o casal sentiu na pele a discriminação. “O Roberto e a Claudete nos deram um dinheiro. A gente estava feliz e decidiu passar a noite em uma pousada e vimos uma placa dizendo que o quarto custava R$ 20 por pessoa. Quando entramos o dono do local disse que só tinha quarto de R$ 40 e que o valor na placa era para empresas, mas vimos que ele não nos deixou entrar pela forma que estávamos vestidos. Se não fosse o outro dono de pousada teríamos passado a noite na rua de novo”, lamenta o jovem.

Durante o período morando nas ruas, o maior medo da família era de se separar. “Nós sempre mudávamos o local para passar a noite para não chamar a atenção da polícia, dos moradores dos prédios, com medo que alguém nos denunciasse para o conselho tutelar e que nosso filho fosse levado pela assistência social. Na hora de dormir a gente escondia ele atrás de um guarda sol, no meio das coisas. Meu filho é a nossa torre. Ele nos alegra, dá esperança. Quando chovia ele dizia, ‘eba! A gente vai tomar banho de chuva, mamãe!’’. Por ele a gente continuava a buscar uma solução, um trabalho”, fala Sabrina sobre o filho que irá completar três anos dia 5 de abril.

Anderson lembra de uma das piores noites que passou nas ruas. “Tinha chovido muito. Encontramos um lugar em um campo de futebol para dormir, mas tudo estava molhado. Fizemos uma cama para ele, o colocamos embaixo do guarda sol e ele dormiu. Passei a noite toda deitado na água. Nunca passei tanto frio na vida. Ele foi o único que não se molhou. Para mim o melhor do dia era quando amanhecia. Parecia que as coisas iam mudar”, diz Anderson.

A família recebeu muita ajuda nas ruas. As comidas que ganhavam consumiam na hora, porque não tinham onde guardar. “A gente conheceu pessoas que tinham onde morar, mas não tinham o que comer. O que a gente ganhava de alimento cru a gente dava para essas pessoas que também precisavam”, lembra Sabrina.

Anderson, que trabalhava como marceneiro em São Vicente, acredita que na região não falta trabalho. “Aqui a gente tem a praia. Dá para uma pessoa passar o dia pegando latinha, recicláveis e vender. Fora da época de temporada fica mais difícil e com família é mais complicado, porque você precisa resolver o problema na hora. Quando seu filho sente fome você faz o que for preciso. Quando a gente não tinha a gente pedia”, explica.

O casal sentiu na pele a solidariedade e o descaso das pessoas. “Uma vez pedimos uma moeda para comprar pão no dia seguinte e o rapaz nos deu R$ 10. Nunca um morador de rua ganha tanto. Recebemos o dinheiro e ficamos muito felizes. Outra vez pedimos um pão com manteiga para o nosso filho e um rapaz mandou fazer três sanduíches para gente e ainda deu duas blusas e calças lindas, novinhas. Essas a gente guarda até hoje como lembrança dessa pessoa”, conta Anderson.

Sabrina lembra que enquanto alguns ajudavam, outros ainda pioravam a situação. “Batemos em uma casa pedindo alumínio e a mulher não quis dar dizendo que a gente deixava de alimentar o nosso filho para usar droga. Saímos dali e batemos na casa da vizinha, que nos deu o alumínio. E não é que a outra mulher saiu da casa dela para dizer para a que estava ajudando que a gente ia comprar drogas? Tudo bem não querer ajudar, mas para que falar o que não sabe? Para nos deixar mais tristes?”, lamenta.

Anderson e Sabrina têm contato com suas família, mas o casal quer se levantar por conta própria. “Sempre que a gente precisou a nossa família ajudou, mas quando você se torna pai sabe que seu filho depende de você e não dá mais para só contar com a ajuda dos pais. A gente mudou para cá, ganhou dinheiro, mas as coisas desandaram. Agora a nossa vida mudou graças a muita gente que está nos ajudando”, diz Anderson.

Anderson, que estudou até o primeiro colegial, conta que sempre sonhou em fazer artes cênicas. “Quando a gente estava na rua e passava alguém tocando funk o nosso filho começava a dançar e o Anderson ia junto. Ele sempre foi solto, faz todo mundo rir”, conta a esposa.

O dono da marina onde a família está morando conta que o rapaz aprendeu rápido a desempenhar o trabalho. “O rapaz gosta de trabalhar, é esforçado. Aqui ele tem o canto dele, um salário, mas se aparecer algo mais interessante para eles vou ficar muito feliz”, conta o novo chefe da família, que prefere não ser identificado.

Sabrina quer voltar a trabalhar depois que o filho nascer. O casal ainda não sabe o sexo do bebê, mas já escolheram o nome que vão dar à criança. “Se for menino vai se chamar Roberto e, se for menina, Roberta”, diz Sabrina, que quer homenagear o amigo que ajudou a família no momento que mais precisavam.

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