Nos quatro primeiros meses de 2013, foram registrados 64 ataques a bancos e caixas eletrônicos no estado, conforme levantamento realizado pelo Sindicato dos Bancários da Bahia. A maioria deles (52), ocorreram em cidades do interior. Os outros 12 foram registrados na capital baiana. As explosões e os assaltos lideram o ranking com 29 e 15 ocorrências, respectivamente. Em seguida, vêm os arrombamentos (13) e as tentativas frustradas (7) dos crimes.
Em 2012, foram registradas na Bahia 167 ocorrências envolvendo ataques a bancos, incluindo, além de assaltos, explosões e arrombamentos a caixas eletrônicos. Os dados foram divulgados recentemente através da 4ª Pesquisa Nacional de Ataques a Bancos, elaborada pela Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV) e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), com apoio técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Econômicos (Dieese).
Na pesquisa, a Bahia aparece em quinto lugar em relação ao número de ocorrências. O estado fica atrás apenas de São Paulo, que lidera o ranking com 492 casos, Minas Gerais, que ocupa o segundo lugar (301 ocorrências), Paraná (214) e Mato Grosso (185).
De acordo com levantamento feito pelo Sindicato dos Bancários da Bahia, este ano o maior número de ataques foi feito contra agências ou caixas eletrônicos do Banco do Brasil, que teve 30 ocorrências registradas. Em seguida está o Bradesco, com 18, o HSBC (2), Santander (6), Caixa Econômica (1), Itaú (1), Banco do Nordeste (1) e Banco 24 Horas (3).
Algumas agências que foram danificadas, principalmente por conta de explosões, foram fechadas.
Através da assessoria, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informou que não tem o número de agências fechadas ou desativadas após crimes. O Sindicato dos Bancários da Bahia também não tem esse dado.
Em nota, o Banco do Brasil afirmou que “trabalha para reabrir as agências danificadas com a maior brevidade possível”. Ainda em nota, o banco orienta que os clientes das agências afetadas utilizem outras opções de atendimento, “como agências próximas, Banco Postal nas agências dos Correios, internet, smartphone e terminais de autoatendimento”.
O Bradesco, também através da assessoria, disse que não comenta casos do tipo.
A Caixa Econômica informou que, em 2013, não houve registros de crimes nas agências instaladas na Bahia. No entanto, os dados do sindicato trazem um arrombamento a um caixa eletrônico do banco, localizado na cidade de Rafael Jambeiro, no interior da Bahia, no dia 4 de março. Na ocasião, a situação foi relatada ao G1 por um internauta que mora no município.
A Febraban afirma que a “segurança de clientes e funcionários é uma preocupação central dos bancos associados à instituição”. De acordo com a Federação, nos últimos nove anos, houve um avanço significativo, por parte dos bancos, na segurança das agências e postos. Segundo a Febraban, houve um aumento de 62,4% nesse número, o que significa um investimento de R$ 3 bilhões para R$ 8,3 bilhões no período. A Federação aponta que de 2002 a 2012 o número de assalto a bancos no país diminuiu em 56%.
Sequestros e reféns
Em muitos assaltos, funcionários dos bancos, normalmente gerentes ou responsáveis pela tesouraria, são sequestrados ou feitos reféns. O último caso registrado ba Bahia ocorreu na quinta-feira (25), em Salvador.
A funcionária de um banco localizado em Itapuã foi sequestrada na porta de casa, junto com o filho, o namorado e a irmã, para retirar dinheiro do cofre da agência. Após a polícia ser alertada do ocorrido, a tentativa dos bandidos foi frustrada. Os reféns foram liberados sem ferimentos.
Um dos casos que mais chamaram atenção nos últimos meses na Bahia, foi o do assalto ao Banco do Brasil em Caetité, em novembro de 2012. Na ocasião, o gerente da agência foi sequestrado e teve bombas de dinamite amarradas ao corpo.
Ele ficou 12 horas com os explosivos. O dinheiro solicitado pela quadrilha foi entregue. O valor não foi divulgado. Até esta segunda-feira (29), nenhum suspeito de participar da ação tinha sido preso.
Em entrevista ao G1, o gerente, que prefere preservar a identidade, contou sobre os momentos de tensão que viveu. Ele tem 45 anos e trabalha desde os 18 na rede bancária. Segundo a vítima, esta foi a primeira vez que ele foi alvo da ação de bandidos no trabalho.
O gerente se manteve aparentemente calmo desde o momento do sequestro até a liberação, conforme relata. Ele trabalhava na agência de Caetité há menos de um ano quando o crime ocorreu. Segundo a vítima, os problemas psicológicos começaram a vir à tona agora, após cinco meses. “Destruiu a mim mesmo. Naquele momento eu não tive problema, mas agora eu comecei a ter. O que estava armazenado está vindo à tona. Agora eu tô pedindo um acompanhamento [psicológico]. Já tinha sido sequestrado outra vez, indo para Brasília. Foi no coletivo, levaram a gente para o mato, saquearam a gente. Foi em 2003”, lembra.
O gerente disse que no dia em que foi sequestrado saía do banco no horário habitual e foi abordado já na porta da agência. Me pegaram na porta do banco, estava chovendo, fui pegar o carro, um chegou com a arma nas minhas costas. Me encapuzaram e eu não vi mais nada. Eles [suspeitos] rodaram comigo a noite toda. Eles me falaram que já estavam me monitorando há três meses. Ficavam me ameaçando dizendo que iam me matar”, afirmou a vítima.
Segundo o gerente, no dia do sequestro seguido de assalto um carro forte esteve na agência e acabou confundindo os bandidos. “O carro forte não levou dinheiro para abastecer a agência, e sim, retirou valores de lá. Eles [suspeitos] queriam R$ 2 milhões, mas não tinha esse dinheiro na agência”, informou.
A vítima relatou ao G1 que os bandidos conversavam com ele a todo momento sobre os próximos passos da quadrilha, sempre com ameaças. Ele ficou encapuzado em poder dos criminosos das 18h30 às 5h. Durante a madrugada, a quadrilha informou à vítima que iria colocar explosivos no seu corpo para ele ir à agência retirar a quantia solicitada.
“Foi quando tiraram o capuz do meu rosto e consegui contar 13 homens, todos fortemente armados. Eles foram colocando os explosivos no meu corpo e explicando o poder de destruição da bomba. Eram pessoas que se expressavam bem, que tinham um grau de conhecimento. Eles me orientaram a ir para casa para trocar de roupa e me deram uma maleta para colocar o dinheiro. Falei que não tinha hábito de usar maleta, que a vigilância ia me barrar. Eles disseram para eu me virar. Como tive tempo para pensar, peguei uma mochila e disse aos vigilantes que ia viajar. Para não deixar vestígios, fui para minha sala, chamei meu substituo e escrevi tudo que estava acontecendo em um papel, abri a camisa e mostrei as bombas. Saí como se estivesse indo para a reunião. Eles marcaram em um lugar chamado curva do vento, na BR-262, esperei 5 minutos, até chegar um carro com homens encapuzados, que levaram o dinheiro e disseram que um outro grupo iria desativar a bomba. como não cehgou ninguém, pedi socorro na própria rodovia”, relatou.
A polícia foi acionada e o gerente esperou mais de 12 horas até a bomba ser desativada por uma equipe do Comando de Operações Especiais (Coe), da PM, que saiu de Salvador para o sudoeste do estado. A vítima, segundo a polícia, e seu proprio relato, se manteve calma a todo momento. “Eu pensei que eu tinha manter sempre o equilíbrio. Pensei que eles não tinham interesse em detonar a vítima, e sim em pegar o dinheiro. Eles me chamaram de frio, disseram que eu nunca tinham pego alguém igual. Mais 12h de tortura ate a bomba desativar”, disse.
Combate e fiscalização
Em outras ações, os bandidos também desestabilizam a segurança na cidade. Os locais alvo dos criminosos, geralmente, são municípios pequenos, com um esquema de segurança que não está preparado para conter uma ação criminosa de tal porte.
Segundo o delegado Daniel Pinheiro, coordenador do Grupo Avançado de Repressão a Crimes contra Instituições Financeiras (Garcif), os bandidos buscam cidades que são de difícil acesso, para dificultar a ação da polícia, além de outras estratégias para burlar a segurança e até impedir que seja solicitado reforço policial. “Essas pessoas que fazem assaltos em geral buscam se esconder em matagal, em lugares com difícil acesso, que até que a polícia chegue eles já se escoderam. Ano passado foram presas mais 130 pessoas [suspeitos de crimes contra banco] foram tiradas de circulação. Mas a polícia prende e a Justiça solta. É o mesmo que enxugar gelo”, afirmou o delegado.
Segundo Pinheiro, o sistema policial das cidade é feito com base no número de habitantes e não para combater um assalto a banco. “Nosso índice de vítimas é baixo. A população também não colabora muito. A pessoa vê e fica ao redor esperando bandido jogar moedas, por exemplo”, disse.
O coordenador do Garcif afirma que os ataques a bancos são um fenômeno nacional. De acordo com ele, as ocorrências não são concentradas em uma só região. As áreas com menor incidência em 2012 foram sul e extremo sul da Bahia. “O resto é espalhado mais no centro oeste e no Recôncavo. É um fenômeno nacional [os ataques]. A legislação é fraca, permite que a pessoa [bandido] reincida no mesmo crime várias vezes”, afirmou o delegado.
A polícia tem intesificado ações de combate aos crimes contra bancos na Bahia. Segundo Daniel Pinheiro, o estado foi dividido em regionais onde o policiamento foi reforçado. “Temos agentes e delegados voltados para essa atividade em todas as regionais, mas volto a dizer que esse problema é legislativo. Demora de julgar [suspeitos presos] e é solto. Nossa parte tem sido feita e bem feita. Qualquer ladrão de banco já tem 20 passagens pela polícia. Milagre não podemos fazer”, completa Pinheiro.
Ainda de acordo com o coordenador do Garcif, as quadrilhas, geralmente, não atuam em um só estado. Sobre a fiscalização na fabricação e comercialização de explosivos, que são usados, principalmente nas ações contra caixas eletrônicos, o delegado afirmou que o controle ainda é fraco. “Infelizmente, a coisa mais fácil que se tem hoje é comprar dinamite. A fiscalização é fraca. Está começando a tomar corpo agora, depois dessa onda de explosões. Esse ano a gente já viu que está melhorando, mas é uma coisa a longo prazo”, conclui.
Explosivos apreendidos na Operação Vulcano II, na Bahia. (Foto: Exército Brasileiro/ Divulgação)
A responsabilidade de fiscalização de condições de armazenamento, controle, manuseio e rastreamento (aquisição, distribuição ou comércio e emprego) dos explosivos é do Exército. Na Bahia, a 6ª Região Militar faz essa fiscalização. Em entrevista ao G1, o tenente-coronel Hermógenes, chefe da Seção de Fiscalização de Produtos Controlados (SFPC) da 6ª Região Militar, disse que os explosivos no Brasil são classificados para uso militar ou civil. Os principais explosivos militares são TNT, nitroglicerina e explosivos plásticos. Os principais explosivos de uso civil são: cordel detonante, espoletas elétricas, comuns e hidráulicas, emulsão explosiva encartuchada (Banana de Dinamite), e emulsão explosiva bombeada.
Segundo o tenente-coronel, os explosivos são legalmente usados por mineradoras, pedreiras, pesquisas geológicas, desmonte de rochas e demolições. Esse material, de acordo com Hermógenes, é controlado justamente por conta do poder de destruição que possui. O uso é restrito a pessoas jurídicas habilitadas, cadastradas no Exército.
O chefe da SFPC da 6ª Região Militar afirmou que a Bahia hoje é um grande polo de mineração, mas não foi especificada uma região com maior incidência da atividade, e portanto, do uso de explosivos. De acordo com o tenente-coronel Hermógenes, os explosivos adquiridos de forma ilegal, normalmente, são obtidos através de “falhas” nas empresas que trabalham com esse material, como desvios e furtos.
Para combater o comércio e uso ilegal de explosivos, a 6ª Região Militar tem feito, além da fiscalização de rotina, tem feito operações voltadas a aprressão de material ilegal. As duas últimas, a Operação Vulcano I e Vulcano II resultou na apreensão de mais de 2,5 toneladas de explosivos.