Com 97,3% dos votos dos integrantes do partido, o senador Aécio Neves (MG) foi eleito neste sábado (18) presidente nacional do PSDB. A convenção nacional da legenda oposicionista lotou o centro de convenções de um hotel de Brasília. Segundo a assessoria da sigla, entre governadores, parlamentares, prefeitos e militantes, cerca de 4 mil tucanos compareceram ao evento partidário.
Potencial candidato do PSDB à Presidência da República em 2014, Aécio obteve 521 dos 535 votos dos delegados eleitos para escolher o sucessor do deputado federal Sérgio Guerra (PE) no comando do partido. O presidente do PSDB tem como função liderar as ações da sigla em época de eleição, administrar divergências internas e articular alianças nacionais e regionais.
Queremos tirar o país das garras de um partido político que se esqueceu de suas origens e da sua história. […] Não vamos enfrentar apenas um partido, mas um partido que se encastelou no poder”
Aécio Neves, após ser eleito presidente do PSDB
Em um discurso de 25 minutos (veja íntegra), Aécio agradeceu a presença da militância e o voto de confiança para que ele conduza o partido em meio à eleição presidencial de 2014. Ovacionado pelos correligionários, o parlamentar mineiro teceu uma série de críticas à administração petista no governo federal e avaliou as dificuldades que a oposição irá enfrentar na tentativa de derrotar Dilma nas urnas.
“Queremos tirar o país das garras de um partido político que se esqueceu de suas origens e da sua história. […] Não será fácil a nossa missão, mas está longe de ser impossível. Não vamos enfrentar apenas um partido, mas um partido que se encastelou no poder”, afirmou. “Hoje, vocês podem imaginar, é um dia diferente. Hoje, presidente Fernando Henrique, não realizamos apenas mais uma convenção. Hoje, nós nos reencontramos com a nossa história”, disse.
A eleição que alçou Aécio ao principal posto do PSDB reuniu os principais expoentes da legenda, inclusive o ex-governador paulista José Serra, um dos principais rivais do novo presidente do PSDB, e o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso. Aliados históricos, DEM e PPS também prestigiaram o evento.
Fernando Henrique Cardoso ficou sentado à direita do senador mineiro, na primeira fila do palco reservado aos dirigentes, durante todo o evento. Já na cadeira posicionada à esquerda de Aécio estava o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, tucano que administra o estado mais populoso e rico do país.
Ainda que, oficialmente, a eleição tucana fosse apenas um evento de troca de comando interno, ela ganhou ares de campanha eleitoral para a corrida pelo Palácio do Planalto. Praticamente, todos os oradores aproveitaram os holofotes para defender a candidatura de Aécio para a sucessão da presidente Dilma Rousseff e criticar a gestão do PT.
Projetado em um telão de 180º, Aécio também utilizou a primeira declaração pública como presidente do PSDB para enaltecer os oito anos em que FHC esteve à frente do Planalto (1995-2002). O senador afirmou que foi durante a gestão do tucano que o país conseguiu estabilizar a economia e criar políticas públicas que, segundo ele, teriam sido os precursores do Bolsa Família.
Na visão do senador mineiro, “o Plano Real (lançado por FHC na gestão de Itamar Franco) foi o maior programa de transferência de renda da história brasileira”. “Fomos o partido da estabilidade econômica, o partido das privatizações que tão bem fizeram ao Brasil. Fomos o partido que permitiu que milhares de brasileiros voltassem a consumir”, destacou o senador.
O PSDB tem hoje a terceira maior bancada na Câmara dos Deputados, com 49 representantes, e 12 parlamentares no Senado, mesmo número de cadeiras ocupadas pelo PT – atrás apenas do PMDB, que possui 20 senadores. O partido é a principal sigla da oposição nas duas Casas. Nas cinco regiões do país, os tucanos têm oito governadores eleitos, incluindo o estado de São Paulo, unidade federativa mais populosa e rica.
Para que uma base paquidérmica? Para não fazer absolutamente nada, para colocar a Câmara e o Senado de cócoras, de joelhos”
Aécio Neves
Críticas ao governo
Aécio usou de ironia para criticar o amplo número de ministérios da presidente Dilma. De acordo com ele, o Sri Lanka, país asiático que seria o campeão mundial em número de ministérios, com 53 pastas, tem de “se cuidar” para não perder o troféu para o Brasil, que, atualmente, possui 39 ministros.
Ele reclamou ainda da maneira como Dilma lida com o Congresso Nacional. Para o presidente eleito do PSDB, a presidente coloca a Câmara e o Senado “de cócoras e joelhos” diante de suas vontades. “Para que uma base paquidérmica? Para não fazer absolutamente nada, para colocar a Câmara e o Senado de cócoras, de joelhos”, disparou.
As duras palavras proferidas por Aécio contra o governo do PT motivaram a militância, que, a todo momento, interrompia seu discurso com aplausos e gritos de apoio.
“Onde estiver o PSDB, estejam seguros, estará a defesa intransigente da ética e da democracia. Os nossos adversários querem colocar um garrote no Supremo Tribunal Federal, limitar o poder de investigação do Ministério Público e censurar a imprensa”, observou.
Não vou colocar minhas paixões à frente da razão. Em 2014, vou continuar a favor da unidade das oposições”
José Serra, derrotado nas duas últimas eleições presidenciais
Oposição unida
Derrotado duas vezes por candidatos do PT em disputas presidenciais (2002 e 2010), o ex-governador de São Paulo José Serra foi um dos tucanos que usou os microfones do evento para saudar a escolha do novo comandante do PSDB. Em sua fala, contudo, Serra evitou citar a provável candidatura de Aécio ao Planalto em 2014.
Apesar de o senador de Minas ser a estrela do evento, Serra foi intensamente aplaudido pelos militantes do PSDB ao ser anunciado como orador. Ele usou seu discurso para reclamar do governo do PT, o qual classificou de “autoritário” e prometer que irá trabalhar para unir os partidos oposicionistas no ano que vem, na eleição presidencial.
“Não vou colocar minhas paixões à frente da razão. Em 2014, vou continuar a favor da unidade das oposições. Os que estão aqui hoje, estarão juntos em 2014”, disse Serra.
Bênção de FHC
Aos 81 anos, o ex-presidente Fernando Henrique relatou aos integrantes do PSDB que quase chorou ao perceber nos discursos que o antecederam a valorização de seu legado. “Há uma vontade de renovação que não joga fora o passado”, avaliou.
Sem citar nomes, FHC disse que, para ele, é “muito difícil” quando ouve “gente que não tem qualificação reinventando a história”. Quando vejo isso [tentativas de desqualificar seu governo], não tenho revolta ou sentimento pessoal. Tenho tristeza. Para que, meu Deus? Por que não reconhecer o que foi feito?”, indagou.
Há uma vontade de renovação que não joga fora o passado”
Fernando Henrique Cardoso sobre mudança no comando do partido
Fernando Henrique também ressaltou aos integrantes da legenda que, durante os oito anos em que comandou o país, o PT fez uma oposição “feroz” contra ele. O ex-presidente recordou que, em 1993, quando ele tentou promover mudanças no setor portuário brasileiro, os petistas foram contra a abertura dos portos para a iniciativa privada.
“O tempo todo descobriam o que não havia, como esquemas de corrupção, porque queriam o poder. Para fazer o quê?”, queixou-se.
No entendimento de FHC, os dois governos do PT na Presidência não fizeram nenhuma reforma “importante” para o Brasil. “E quando faz [reforma], faz de forma atabalhoada”, criticou.
Sob os olhares atentos dos correligionários, o ex-presidente recomendou que Aécio “coloque sua juventude e entusiasmo” a serviço do país para que o Brasil consiga dar um novo salto.
Aliança para 2014
Assediado pelo PSB para apoiar uma possível candidatura do governador pernambucano Eduardo Campos à Presidência, o PPS anunciou neste sábado que o partido de oposição estará ao lado de Aécio Neves na eleição do ano que vem.
Em meio ao seu discurso no evento tucano, o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), assegurou ao PSDB que, “sem nenhuma dúvida”, as duas siglas estarão unidas na corrida pelo Planalto. “Estaremos juntos em 2014, sem nenhuma dúvida. A oposição brasileira precisa ter unidade”, afirmou.
Freire, no entanto, advertiu aos tucanos que a tentativa de impedir o quarto mandato consecutivo do PT na esfera federal não será fácil. “Vamos enfrentar tempos difíceis. O governo vai utilizar de todos os instrumentos para tentar fazer dessa eleição um jogo de cartas marcadas”, disse.
O senador Cássio Cunha Lima (PB), um dos vice-presidentes do PSDB eleitos, afirmou que, considerando a proximidade da campanha eleitoral de 2014, é importante para o partido que Aécio assuma a presidência do PSDB.
“Ele [Aécio] passa a ter mais legitimidade para visitar o país. Passa a ter o apoio logístico do partido que é importante para os deslocamentos nesse país continental que temos. E passa a contar com a disponibilidade de uma ampla agenda de visita aos estados e cidades para que a mensagem dele seja levada ao maior número possível de brasileiros durante a pré-campanha.”