“A literatura é meu último refúgio”. A declaração apaixonada define o escritor baiano Tom Correia, natural da Península de Itapagipe e autor dos livros “Sob um Céu de Gris Profundo” (2011) e “Memorial dos Medíocres”, obra vencedora do extinto Prêmio Braskem de Literatura, em 2002. Fotógrafo, jornalista de formação e redator, ele se divide entre o cotidiano funcional e as histórias ficcionais, mas a escrita é a grande “matéria prima” da sua vida. “Eu tenho que dividir bastante quem está atuando, se é o jornalista ou o escritor”, brincou, em entrevista ao Bahia Notícias. Frequentador assíduo do bar O Líder, no Dois de Julho, uma espécie de “quartel general” dos amigos literatos Mayrant Gallo e Elieser Cesar, Tom também colaborou com coletâneas de contos que surgiram de bate-papos casuais. A primeira foi “As Baianas”, inspirada na obra “As Cariocas” de Sérgio Porto. “Eu não acreditava no projeto. Achava que era uma brincadeira”, disse, ao recordar o contexto em que a ideia foi alçada. Ciente da tarefa de escrever sobre uma personagem baiana que fugisse dos estereótipos e, pela primeira vez, com um prazo de finalização determinado, Tom penou. “A Santinha (Santinha da Ribeira, nome do conto que escreveu para ‘As Baianas’) veio com muito sofrimento”, confessou. “Foi muito complicado porque foi o primeiro trabalho que eu fiz com prazo”. No mesmo local, nasceu a ideia para a segunda encomenda da carreira, que deve ser lançada no próximo mês: “82: Uma Copa, Quinze Histórias”, que reúne reminiscências sobre a Tragédia do Sarriá.
No segundo semestre, Tom planeja lançar “Ladeiras, Vielas e Farrapos”, durante a Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), que acontece entre os dias 23 e 27 de outubro. Na ocasião, ele participará de uma mesa ao lado do autor Daniel Galera. A nova obra, que está em fase de avaliação do editor, é a primeira em que se dedica a “um mergulho ficcional na cidade de Salvador”, o que procurava evitar nas produções anteriores por não se sentir à vontade. “Eu tinha um olhar muito cruel. Hoje eu entendo melhor as particularidades de Salvador, uma cidade predestinada ao caos”, argumentou. Um dos contos inéditos, “Porto Seco”, será publicado em uma antologia alemã na Feira do Livro de Frankfurt deste ano, quando o Brasil será homenageado. A obra reunirá textos de 28 escritores brasileiros, além de Tom, a baiana Állex Leila também foi convidada. “Recebi uma ligação da organizadora perguntando se eu gostaria de participar da antologia. Ela disse que morou no Brasil durante 11 anos, conhecia alguns autores e queria dar um panorama diversificado do país”, contou.
Para Tom, sua incursão na Feira do Livro de Frankfurt é como lançar “garrafas ao mar”, sem expectativas sobre os rendimentos da publicação. Os contatos anteriores com agentes alemães sempre foram claros quanto a priorizar a tradução de romances na Europa. “Conto não é muito bem visto. Acho que não vende”. Dono de um espírito inquieto que explica sua escolha por narrativas curtas, Tom ainda não se deparou com uma grande ideia para uma obra com maior quantidade de páginas. “Estão me cobrando um romance. A questão é que me falta um grande fio condutor, que me estimule a sentar e escrever. Já fiz alguns ensaios, mas não renderam”, explicou.
por Simone Melo (BN)