Estava demorando! Tudo parecia ir tão bem: a data de realização das provas não foi adiada, não ouve vazamento do tema da redação (embora houvesse muitas especulações), nenhuma denúncia de acesso às provas antes da sua aplicação. A impressão é de que, este ano, o Ministério da Educação teria contornado e se precavido de todos os problemas que acometeram o Exame Nacional do Ensino Médio nos últimos dois anos e a avaliação transcorreria como manda o figurino. Ficamos somente na impressão.
Para aflição dos quase 4 milhões de candidatos que realizaram a prova neste último final de semana (22 e 23), um novo escândalo colocou em xeque o sigilo das questões da prova objetiva. Pelo que se tem conhecimento até agora, pelo menos nove questões contidas em um pré-teste do Enem, elaborado pelo próprio Inep e aplicado numa escola particular de Fortaleza 10 dias antes da prova oficial, apresentariam conteúdo igual ou semelhante as do exame.
A notícia se alastrou rápido pelo país e já provoca conflitos entre várias entidades envolvidas. O Ministério Público do Ceará aponta que o princípio da igualdade entre os candidatos foi quebrado. Solicitou, portanto, o cancelamento do Enem em todo o país. O Mec, embora reconheça a similaridade das questões denunciadas, mais uma vez (como fez com o vazamento do tema em 2010), defende que o problema é pontual e resolveu cancelar somente as provas dos 639 estudantes do colégio cearense.
Embora a grande questão do momento seja a de se cancelar as provas de um corpus específico ou o Exame no país inteiro, outros pontos ainda merecem atenção. De todo o país, somente um colégio, de natureza particular – diga-se de passagem – teve acesso às questões no pré-teste? Que garantias o Inep oferece de que mais questões também não tenham sido aplicadas em outras unidades de ensino? Não há controle pelo Inep das questões que são utilizadas em pré-testes e as questões que são aplicadas no Enem? E por aí vai…
O fato é que os valores monetários envolvidos são consideráveis. No ano passado, com aproximadamente 700 mil inscrições a menos do que a edição 2011, o Ministério da Educação pagou ao consórcio Cespe/Cesgranrio R$ 128,5 milhões pela aplicação das provas. Se reaplicadas as provas em nível nacional agora, o
s cofres públicos seriam onerados duas vezes
com valores ainda maiores. Nem vamos nos ater aqui aos gastos futuros gerados a partir do Enem, com o Programa Universidade Para Todos (Prouni), por exemplo. Mas é salutar refletir que um processo de avaliação como este acarreta valores elevados demais para conter tantos problemas.
Infelizmente, o que os brasileiros vêem é um processo pouco transparente e com graves falhas. O Exame, que tem como um dos objetivos avaliar o nível de educação no Brasil, tem demonstrado que o próprio Ministério da Educação não está preparado para realizar uma avaliação de tamanhas proporções.
Da Redação
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