Paulo Pedroza
As discussões sobre a venda do acarajé durante os jogos da Copa das Confederações tiveram início em outubro de 2012, quando a Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA) comunicou ao Governo do Estado da Bahia a impossibilidade da tradicional comercialização do produto pelas baianas de Salvador. Depois de muita polêmica e manifestações públicas a Secretaria Estadual para Assuntos da Copa (Secopa), apresentou à Associação Nacional das Baianas de Acarajé e Mingau (Abam) uma proposta: definiu a venda do quitute na área externa da Arena e limitou em seis, o total de baianas.
Segundo a presidente da Abam, Rita Santos, a decisão representa uma conquista, mas a luta da associação continua. “Depois de muito esforço ganhamos uma etapa desse processo. Porém muitas outras estão por vir. Essa decisão vale somente para a Copa das Confederações, mas precisamos vender o acarajé em outros jogos”, diz. Rita lembra que foram necessárias mais de 20 mil assinaturas de apoio à causa, além de diversas manifestações chamando a atenção da sociedade, para, só assim, chegarem a esse acordo.
As baianas ficarão na entrada do estádio, dentro dos limites da Arena, mas antes das catracas de acesso às arquibancadas, numa área chamada comercial display, dividindo espaço com produtos licenciados pela Fifa, como aqueles comercializados pela Coca-Cola e Sony. O torcedor que já estiver acomodado dentro da Fonte Nova terá como única opção consumir apenas os produtos das marcas oficiais da copa, como Coca-cola, Ambev (Brahma), Nestlé (Garoto), entre outras. O acarajé não será vendido nos tradicionais tabuleiros, mas em quiosques personalizados, criados pelos arquitetos Heráclito Arandas e Giuzeppe Mazoni, e adaptados com fogões elétricos.
De acordo com o coordenador de marketing da Secopa, Márcio Lima, nunca houve uma proibição da venda do petisco pelas baianas, o que a Fifa exigiu foi a capacitação dessas profissionais para comercializar o produto com segurança. Porém, segundo Rita dos Santos, não foi essa a informação passada para a Abam, o que estava previamente definido era que apenas uma empresa privada seria responsável pela comercialização de alimentos, incluindo o acarajé, que não seria feito e vendido da forma tradicional, por isso surgiram manifestações, afinal tratava-se de uma afronta à cultura baiana.
“Quando recebi a notícia que não poderíamos vender o acarajé na Arena fiquei muito decepcionada. A decisão foi uma ofensa à nossa ancestralidade, pois foram muitas lágrimas e dores para se chegar à massa de acarajé que temos hoje”, disse emocionada a baiana de acarajé e presidente do bloco afro Relíquias Africanas, Lélia Maria dos Santos (Mãe Lélia).
Após o acordo com a Fifa, a Abam ficou responsável pela seleção das seis baianas, entre elas estão dona Norma Bonfim e Meirejane, mãe e filha que vendem o quitute na Fonte Nova há mais de 40 anos. A presidente da Abam também faz parte desse grupo, segundo ela, a seleção foi feita com base no envolvimento das baianas durante as manifestações a favor da venda do acarajé e pelo tempo de serviço dedicado ao ofício dentro do estádio. “Foram escolhidas as baianas que por tradição já tinham tabuleiro na Fonte Nova e que se mobilizaram a favor da nossa causa”, explicou Rita Santos.