Os corpos dos irmãos mortos em acidente de carro no bairro de Ondina, em Salvador, foram enterrados no fim da manhã deste sábado (12). A despedida reuniu a família e muitos amigos das vítimas, que tinham 22 e 23 anos, no Cemitério Campo Santo.
Emanuele e Emanuel Dias estavam em uma moto quando foram atingidos pelo carro de uma médica, na manhã desta sexta-feira (11), e morreram na hora. Com base em imagens, a Polícia Civil acredita que a oftalmologista assumiu o risco de causar as mortes e lavrou o flagrante. Ela está internada e custodiada no Hospital Aliança. O advogado de defesa pediu à Justiça a liberdade provisória na madrugada deste sábado e aguarda a decisão sobre o recurso.
Segundo familiares, a mãe, que está em estado de choque, comenta que a vida de acabou. “Eles eram o que ela tinha de mais precioso”, primo das vítimas, Victor Dias. O rapaz trabalhava como vendedor em uma loja de artigos esportivos em um shopping de Salvador e a jovem cursava o 6º semestre de Direito.
Flagrante
Segundo argumento da defesa, a médica pode responder o processo em liberdade, porque tem residência fixa, bens de raiz na cidade, ficha limpa e “jamais vai fugir”. “A regra do jogo é que a prisão é o último recurso, só pode ser levado em casos estritamente necessários, para pessoa que faz do crime profissão, casos extremamente graves e reiterados. Minha cliente tem ficha limpa e é primária. Para quê prender uma pessoa? A defesa está tentando mostrar a desnecessidade da prisão”, afirma, em conversa nesta manhã.
A delegada titular da 7ª, Jussara de Souza, informa que, assim que ela receber alta médica, será levada até a unidade policial para ser interrogada sobre o acidente. Depois, com base na decisão do juiz que analisa o recurso da defesa, poderá ser libertada ou não.
De acordo com o advogado de defesa, ela está inconsciente, na UTI, e não tem previsão de ser liberada pelos médicos. O hospital, que é da rede particular e não possui assessoria de imprensa, não confirma a informação. O enterro das vítimas aconteceu na manhã deste sábado, no cemitério Campo Santo, bairro da Federação, na capital baiana.
Registro de câmeras
As imagens do acidente foram assistidas na noite de sexta-feira (11) pela delegada Jussara Maria de Souza. Em conversa à imprensa, ela afirmou que as imagens são “conclusivas” e mostram que o choque do carro com a moto foi intencional. Pouco antes, Souza já havia indicado “fortes indícios de homicídio”.
“Fica nítida a perseguição e, logo depois, a condutora do veículo coloca em risco não só o que ocorreu, as mortes, como também transeuntes, as pessoas que aguardavam no ponto de ônibus. Fica clara a velocidade acelerada para a via naquele momento. Além de o carro ter sido projetado na contramão. Por pouco, não ocorre colisão com carro na contramão e não invade o ponto de ônibus”, diz a delegada.
Posição da defesa
Para o advogado Vivaldo Andrade, a versão da polícia é precipitada. “Acho que temeridade como foi feito pela policia, dizendo que o fato aconteceu dessa forma, porque não existe nada que comprove que a cliente perseguiu e jogou o carro contra as pessoas. O delegado tem que se basear nas provas e até agora não há provas. Ela é casada, tem dois filhos, mais de 20 anos de profissão, presta inúmeros serviços comunitários e merece respeito. Poderia acontecer com qualquer pessoa”, justifica.
Desabafo de familiares
A tia e madrinha do piloto da motocicleta compareceu à delegacia na noite de sexta-feira, junto com a prima dos dois, que foi a primeira quem viu a notícia do acidente, pela internet, e avisou à família.
A tia reconheceu os dois corpos no Instituto Médico Legal (IML) e diz que vai acionar o Ministério Público da Bahia para impedir que a suspeita exerça a profissão. O motivo da perseguição, segundo os familiares, foi uma briga de trânsito.
“Meninos de boa índole, trabalhadores, estudantes, almejavam sucesso na vida com o suor deles, não mereciam ter vivido isso. Nossa família está em estado de choque. Tem que ter justiça. Essas coisas de trânsito têm que parar, ela tirou a vida de duas pessoas, que estava começando agora”, disse a prima das vítimas.
Acidente
A batida envolvendo as vítimas aconteceu na Avenida Oceânica, na orla de Salvador. A polícia investiga se a ação foi proposital. A motorista do veículo, uma médica oftalmologista, ficou presa às ferragens e, assim que foi retirada, foi levada para o hospital. Um amigo dos dois passava pelo local, reconheceu o veículo e parou.
“Segundo eu soube, ele estava indo levar a irmã ao aeroporto, gente finíssima, ele e ela e todo mundo admirava muito os dois. Tanto ele quanto ela eram pessoas queridas”, disse o amigo Alexandre Vieira. A moto foi retirada do local do acidente por volta das 12h e levada para o pátio da Transalvador
“Eu estava naquele restaurante, (próximo à batida), então, dali para cá, eu vi, agora onde começou eu não sei. Na hora da fechada que ela deu nele, eu não vi. Eu só vi na hora que ele bateu a mão no carro dela e reclamou que ela estava errada. E na hora que ela avançou o sinal o veio atrás dele. Foi proposital”, disse a testemunha.
Uma equipe da 7ª Delegacia de Polícia esteve no local. “Já sabemos que o impacto foi na lateral direita do veículo, não há marcas de frenagem. Não há marcas de frenagem em relação à moto também. A moto deve ter sido projetada com algum impacto. Mas não posso afirmar que ela tenha derrubado a moto de forma proposital”, afirmou a delegada Acácia Nunes, que iniciou a investigação do caso.