O laudo médico do Departamento de Polícia Técnica (DPT), cujos peritos avaliaram a saúde da médica Kátia Alves Pereira, investigada pela morte de dois irmãos em um acidente de carro em Ondina, em Salvador, aponta que ela está clinicamente apta para receber alta.
Segundo o Ministério Público da Bahia (MP-BA), que promoveu coletiva à imprensa para divulgar o resultado da avaliação, nesta quarta-feira (16), o documento afirma que ela passa por abalo psicológico, mas que não há lesão física.
“O laudo esclarece que ela está incapaz de ficar 30 dias sem atividades genéricas ou laborativas. Mas nesse caso é parcial. Não há incapacidade física para atividades habituais, apenas psíquicas causadas pelo acidente. Ainda assim teremos o cuidado de que ela passe por avaliação médica onde irá, mas digo e repito, clinicamente ela pode ser levada à penitenciária. As autoridades estão cientes e a qualquer momento isso pode acontecer”, afirma o promotor de Justiça Davi Gallo.
O promotor Nivaldo Aquino, que também acompanha o caso, pontua que a médica chegou a dizer para o perito que tem vontade de cometer suicídio. “O laudo diz que ela falou em cometer suicídio, sobre um possível arrependimento. Mas nada que irá tirar a possibilidade dela responder no conjunto penal. Hoje ou amanhã ela será custodiada e ouvida, se quiser se manifestar. O MP não tem dúvida de que ela será indiciada por homicídio triplamente qualificado”, diz.
A delegada Jussara Maria de Souza, da 7ª delegacia, afirma que ainda não recebeu o laudo do DPT, mas que ele será importante para o resultado do inquérito. Ela afirma que ainda não há indicativo se e quando a médica será transferida do Hospital Aliança, onde está internada desde sexta-feira (11), para o Hospital Geral do Estado (HGE), único que tem custódia na capital.
O relatório médico do Aliança apontou que a médica deve permanecer em observação por mais 24 a 48 horas. O documento foi solicitado pelo juiz que decretou a prisão preventiva dela.
Nivaldo Aquino diz que a Promotoria resolveu intervir no caso ao perceber “a atitude insana da senhora”. Ainda segundo ele, “os subsídios até agora coletados sinalizam que ela cometeu homicidio doloso e o MP pediu da provisória em preventiva, assim como a autoridade policial”, afirma.
Ele informa ainda que solicitou esclarecimentos sobre sete questões ao Hospital Aliança que envolvem o caso, entre elas, o motivo pelo qual a médica, enquanto suspeita presa em flagrante, ficou internada em um hospital privado. O mesmo requerimento foi enviado à direção do Samu. Segundo ele, como houve duas mortes, a médica deveria ter sido encaminhada para um hospital público.
O advogado que defende a família das vítimas disse que o inquérito deve ser concluído até a sexta-feira (18). “Queremos que ela vá à corte popular, para que a justiça da sociedade possa ser aplicada a ela”, afirmou Daniel Keller. Segundo ele, caso a médica seja condenada, a pena prevista pode chegar a 60 anos para dois homicídios triplamente qualificados.
Acidente
Segundo testemunhas, na manhã da sexta-feira (11), a médica jogou o carro, em alta velocidade, e de forma proposital, na direção dos irmãos que estavam trafegando de moto pela Avenida Oceânica. Antes da batida, a motorista teria se desentendido com o jovem que guiava a motocicleta, por causa de uma “fechada” que a motorista teria dado no rapaz.
Investigação
A delegada que acompanha o caso, Jussara de Souza, informou que tomou conhecimento da divulgação do relatório médico, mas ressalta que a Polícia Civil aguarda o resultado do laudo oficial feito pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT) na paciente, que tem previsão de ser divulgado ainda nesta quarta-feira.
Relato de testemunha
A principal testemunha da batida conversou sobre o que presenciou com o G1. Na segunda-feira (14), ele prestou depoimento na 7ª delegacia.
“A gente [ele e os jovens na moto] parou no semáforo do antigo Salvador Praia Hotel e, quando a moto arrastou, também arrastei. O carro branco lá atrás. A moto seguiu em frente e, quando chegou lá na ponta do Ondina Apart, o carro passou com muita velocidade. Eu ainda reclamei e disse ‘que motorista maluco!’. De repente, logo depois, teve a colisão dela batendo na moto. O carro jogou o casal contra o poste”, relatou em exclusividade para a equipe. “Não houve freada, só derrapagem”, acrescenta a testemunha, que não quer se identificar.
Dois médicos do Departamento de Polícia Técnica (DPT) voltaram ao Hospital Aliança, na Avenida ACM, onde a médica está internada desde a ocasião, para fazer mais exames.
A testemunha afirma que desceu do carro ao se deparar com o acidente e percebeu que as vítimas morreram na hora, devido ao impacto da batida. “Vi que não tinha nada pra fazer e fui até o carro dela para falar, não sabia que era uma senhora, chegando perto, avistei que era uma senhora. Passo todos os dias por esse caminho, foi muito chocante, muito terrível. Na sexta-feira logo após o acidente eu viajei para tentar esquecer”, afirmou.
Investigação
A polícia acredita que a motorista do carro assumiu o risco de matar. O advogado dela chegou a informar à imprensa que a médica está inconsciente, na UTI, e não tem previsão de ser liberada pelos médicos. O hospital, que é da rede particular e não possui assessoria de imprensa, não confirma a informação.
A Transalvador informou que o veículo da médica estava irregular e foi recolhido para pátio do órgão por não apresentar o licenciamento de 2013. O advogado da suspeita foi procurado pela reportagem, mas não atende a nenhuma das ligações desde a segunda-feira.