As compras de Natal e de fim de ano movimentam o comércio e a economia, mas são também uma ameaça aos orçamentos domésticos. Somado ao descontrole dos gastos, o clima natalino pode levar ao endividamento e um dos grandes vilões pode ser o cartão de crédito. Segundo especialistas em finanças pessoais, a principal forma de evitar o descontrole é ter disciplina: registrar todos os gastos feitos no cartão, para nunca ultrapassar o valor que cabe no orçamento.
Os gastos com o dinheiro de plástico sobem no fim do ano. De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), por causa do Natal, os valores das transações neste mês deverão ser de 25% a 30% acima da média mensal de janeiro a novembro.
Grande parte do crescimento deve-se ao aumento do uso da alternativa de pagamento — a Abecs prevê crescimento de 23% na faturamento neste ano — e não só porque as pessoas estão gastando mais. Segundo a entidade, o Brasil tem 166,5 milhões de cartões de crédito atualmente. Com mais pessoas fazendo compras no cartão, a Abecs tem investido em campanhas de educação financeira.
“Já percebemos uma mudança no comportamento dos consumidores. Antes, o cartão de crédito era mais usado como forma de financiamento”, diz o presidente da Abecs, Claudio Yamaguti.
Cartão tem vantagens, mas precisa ser bem usado
Em geral, especialistas em finanças pessoais destacam diversos pontos positivos dos cartões de crédito. Para a economista Eliana Bussinger, autora do livro “A dieta do bolso” (Editora Campus/Elsevier), além de conveniente, o cartão pode ajudar no orçamento pessoal, pois a fatura já traz a discriminação dos gastos e muitas administradoras oferecem programa de pontos, a serem trocados por milhas de companhias aéreas, por exemplo. O problema é o mau uso do cartão.
O principal erro é não pagar o valor total da fatura e entrar no crédito rotativo, com elevadas taxas de juros. Segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), a taxa média cobrada no crédito rotativo dos cartões foi de 10,69% ao mês em novembro, o equivalente a 238,30% ao ano.
As ações da Abecs para divulgar o uso consciente do cartão do crédito pretendem quebrar o círculo vicioso descrito pelo professor da FGV/RJ Luís Carlos Ewald, especialista em economia doméstica. Segundo Ewald, normalmente, as pessoas recebem o décimo terceiro salário, pagam algumas dívidas, aumentam os gastos no Natal — inclusive com compras parceladas — e, quando chega março ou abril, não conseguem pagar $fatura do cartão, entrando no crédito rotativo.