Nove agricultores/as familiares do município de Sobradinho, na Bahia, são responsáveis pela produção de uma média de 17 toneladas de sorgo no ano de 2013 a 2014. Esta produção de sementes vai movimentar as comunidades para o cultivo do sorgo e o seu beneficiamento. A produção é um dos resultados do Projeto Semeando executado, no norte da Bahia, pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa), em convênio com a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA). O Programa é do Governo do Estado através da Superintendência da Agricultura Familiar (SUAF/SEAGRI).
A semente distribuída para o cultivo foi a do sorgo granífero adequado para a alimentação animal e humana. Este tipo de sorgo possui teor nutricional semelhante ao do milho. Uma das vantagens deste cereal em relação ao milho é o consumo de água, enquanto o milho consome em média 600mm, o sorgo consome até 400mm de água, adequado aos períodos de estiagem. Além disso, o sorgo possui um alto potencial de produção, se adapta bem a vários tipos de solos e ao clima semiárido. Ao longo de 2014 mais agricultores/as familiares produzirão este grão em 30ha nos municípios de Casa Nova, Curaçá e Sento Sé.
Para a coordenadora do Projeto, a agrônoma e colaboradora do Irpaa, Ana Virgínia Terranova, a expectativa é que as famílias se reanimem a produzir sorgo e a guardar as suas próprias sementes, “o objetivo principal é fazer com que os agricultores percebam que não podem ficar reféns das grandes indústrias produtoras de sementes. Eles produzindo suas sementes, não se escravizando, vão ter sementes para o ano todo e de boa qualidade”, defende.
Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) sobre a safra brasileira de grãos, só no Nordeste, a produção de sorgo por hectare, na safra de 2013/2014, foi uma média de 1.525 kg. Na Bahia uma produção de 1.505 kg por hectare plantando, totalizando 133,6 mil toneladas produzidas, em 88 mil hectares, pelo agronegócio.
A partir do Programa Semeando, o Irpaa já registrou o início da produção de 1,7 toneladas de sorgo por hectare, só no município de Sobradinho. O que significa uma média de 17 toneladas de produção de sementes oriundas da agricultura familiar. Estes grãos de grande potencial genético, após o beneficiamento, serão distribuídos gratuitamente para outros/as agricultores/as familiares de várias regiões da Bahia que participam dos programas desenvolvidos pelo Irpaa. Com isto, a previsão é um aumento no consumo de sementes de sorgo, bem como da ideia dos bancos da produção própria e preservação das sementes por parte dos/as agricultores/as familiares desta região.
Muitos/as produtores/as relataram que nunca experimentaram plantar sorgo e que pretendem continuar com o plantio. Para seu José Marcos Feitosa, que comemora participar do programa, o cultivo foi positivo, “tirei um sorgo de boa qualidade e a produção não foi ruim”, destacou. Ele defende que dá para investir no sorgo e se tiver incentivo a produção melhorar ainda mais, como assistência técnica, tecnologias e condições de plantio.
Entenda o projeto
O Programa Semeando desde 2007, na sua matriz, tem o objetivo de incentivar os/as agricultores/as a produzirem sementes de milho e feijão de alta qualidade, aumentando a oferta de sementes no Estado da Bahia. Desde 2011, nos municípios onde o Programa está sendo desenvolvido pelo Irpaa, foram produzidos cerca de 40 toneladas(t) de milho sertanejo, 29 t de milho catingueiro, 10 t de feijão Pontal e 25 t de feijão requinte em 200ha por agricultores/as de Juazeiro, Jaguarari e Canudos. Estas sementes foram entregues para uma unidade de beneficiamento, depois embaladas e entregues a EBDA que distribui para a agricultura familiar.
Na etapa de 2013, o projeto desenvolvido pelo Irpaa teve um diferencial, a inclusão do Sorgo na produção. O Irpaa sugeriu este cultivo para os/as agricultores/as por defender uma segurança na produção de forragem e alimentação humana adaptada a região semiárida. A partir de então, esta produção de sorgo no município de Sobradinho por agricultores/as familiares é pioneira em toda a região. A outra novidade foi com a distribuição, neste caso, a responsabilidade é do Irpaa de entregar as sementes de sorgo aos agricultores/as familiares.
Para seu Adalto Almeida o sorgo é mais propício que o milho na região em que ele mora por consumir menos água, “ninguém perde por plantar o sorgo”, afirma. Ele também informou que foi importante porque além de receber os insumos também teve à assistência técnica do Irpaa para o desenvolvimento da plantação.
Uma das dificuldades apontadas pelos agricultores foi o controle de passarinhos na produção, já que o plantio estava no meio da Caatinga hibernada. Sem a disponibilidade de alimentos os animais em grande quantidades recorriam aos grãos do sorgo para se alimentarem. A coordenadora do Projeto, Ana Virgínia, informou que o acesso de pássaro foi grande e a produção de grãos também, “nós tivemos que dividir com os pássaros esta produção de quase 4 toneladas”, explicou.