A ONU pediu nesta quarta-feira (5) que o Vaticano “afaste imediatamente” de seus cargos todos os clérigos que são responsáveis ou suspeitos de abuso de crianças e os denuncie às autoridades civis, em um relatório sem precedentes sobre o tema da pedofilia na Igreja Católica.
O órgão da ONU que defende os direitos da infância disse que a Santa Sé também deve entregar seus arquivos sobre abuso sexual a dezenas de milhares de crianças para que os culpados, e os ligados ao crime, possam ser responsabilizados.
“O comitê está gravemente preocupado pelo fato de que a Santa Sé não realizou a extensão dos crimes cometidos, não tomou as medidas necessárias para lidar com casos de abuso sexual infantil e para proteger as crianças, e adotou políticas e práticas que levaram à continuidade dos abusos e à impunidade dos perpetradores”, diz o relatório.
O Comitê da ONU para os Direitos da Infância disse que a Igreja Católica ainda não tomou as medidas para evitar a repetição de casos como o escândalo das lavanderias da Irlanda, em que meninas foram colocadas arbitrariamente em condições de trabalho forçado.
O órgão pediu uma investigação interna do caso e de casos semelhantes, para que os responsáveis possam ser processados e para que uma “compensação total” possa ser paga às vítimas e às suas famílias.
A comissão criada em dezembro de 2013 pelo Papa Francisco deveria investigar todos os casos de abuso sexual infantil, “assim como a conduta da hierarquia católica ao lidar com eles”, diz o texto.
Integrantes do clero envolvidos em abuso foram transferidos de paróquia a paróquia em seus países, “em uma tentativa de acobertar tais crimes”, acrescenta o relatório.
“Devido ao código de silêncio imposto a todos os membros do clero sob pena de excomunhão, casos de abuso sexual infantil dificilmente foram relatados às autoridades policiais nos países onde tais crimes ocorreram”, diz o órgão da ONU.
Em uma sessão pública no mês passado em Genebra, o comitê pressionou representantes do Vaticano a revelar o alcance dos casos de pedofilia das últimas décadas dentro da Igreja.
Na ocasião, a delegação da Santa Sé, respondendo a perguntas de 18 integrantes de diversas nacionalidades, pela primeira vez desde que o escândalo surgiu, há mais de duas décadas, negou as acusações de que o Vaticano tenha acobertado os casos e disse que foram criadas diretrizes claras para proteger as crianças.
O Papa Francisco afirmou, à época, que os casos são motivo de “vergonha” para a Igreja.
O Vaticano deve publicar um comunicado sobre o relatório ainda nesta quarta.
G1