Por Alinne Torres
Fotos: Caio Alves
Quem passou pelo circuito Daniel Alves (Orla 2), durante as comemorações dos 100 anos do Carnaval de Juazeiro, se deparou com uma ornamentação alegre, pitoresca, mas também saudosista. As pinturas feitas em telas de madeira deixaram aflorar as lembranças dos carnavais antigos com um toque de modernidade. A decoração também revestiu o Vaporzinho, um dos pontos turísticos da cidade, com uma entonação colorida por meio de máscaras e painéis. Para saber como foi feito esse trabalho artístico, a Coluna Artistas do Vale, excepcionalmente antecipada para esta sexta-feira, traz uma entrevista com o carnavalesco e artista plástico, José Roberto de Assis, conhecido como Bebeto Assis, 48 anos, autor das obras. O artista é natural de Juazeiro e desde os sete anos de idade tem a arte como sua aliada. Assis já desenvolveu trabalhos em várias cidades do Nordeste e tem no seu currículo passagem pelas escolas de samba do Rio de Janeiro como a Beija-Flor e a Unidos do Viradouro.
Diário da Região: Como a arte se fez vida para Bebeto Assis?
Bebeto de Assis: Desde os meus sete anos eu trabalho com arte. Com essa idade eu fui vencedor de um concurso de pintura voltado para o Dia da Criança. Não sou um cara que possa ser considerado um fenômeno. Não acredito nisso. Acredito na pesquisa, no estudo para se fazer a arte. Fiz alguns cursos na área, mas não tenho formação acadêmica. Contudo, a arte tem essa facilidade de lhe abrir portas para estudar sozinho. Leio muitos livros de arte, pesquiso muito. Quero dizer que em arte, assim como em outras profissões, nada cai do céu, do dom. Mas da busca incessante, do correr atrás do conhecimento e da prática. Eu faço isso.
DR: Como foi decorar os 100 anos do Carnaval de Juazeiro?
BA: Sempre tem que ter uma equipe. Ninguém faz nada sozinho. Então eu fiquei com a ornamentação do Circuito Daniel Alves e o artista “Bega” ficou com o circuito Edésio Santos. No Circuito Daniel Alves eu fui o autor do projeto e contei com uma equipe de cinco integrantes. Por falar de Centenário, de aniversário, fiz a união de fotografias antigas com pinturas. Nas telas apareciam pêros segurando uma tulipa onde colocamos as cenas de antigos carnavais. Então, tivemos o tema dos 100 anos do carnaval aliado a imagens lúdicas que explicavam datas importantes da festa. As pinturas foram criações minhas. Optei por não pintar tela por tela e o trabalho foi feito com impressão. Desenhei, pintei, fiz o croqui, fiz o modelo e enviei para a gráfica apenas reproduzir. O resultado foi muito bom.
DR: E como foram esses momentos de criação?
BA: Foram demorados. A dificuldade de imaginar como inserir as fotos em preto em branco com o colorido me instigava perguntas: como fazer a representação dessas fotos antigas, preto e branco, como algo colorido? (risos). Ao final deu tudo certo. Foram 24 peças no total, entre elas seis máscaras e um painel para fotografias. O colorido deu um tom mais moderno às fotografias. O painel foi voltado para as famílias e crianças.
DR: O que você trouxe do carnaval do Rio de Janeiro para a decoração do Carnaval de Juazeiro?
BA: Eu participei da decoração de duas Escolas de Samba no Rio de Janeiro que foram a Beija-Flor e a Unidos do Viradouro. Trabalhei com os carnavalescos Max Lopes e Joãozinho Trinta e aprendi com eles várias técnicas de acabamentos. As máscaras que decoraram o Vaporzinho são resquícios do que eu aprendi nessas escolas. Utilizei fibras de vidro tridimensionais para compor as peças. É a primeira vez que expomos esse tipo de material em Juazeiro.
DR: Como você se sente fazendo parte da decoração dos 100 anos do carnaval de Juazeiro?
BA: Eu já participei de várias decorações em Juazeiro, Petrolina e outras cidades do Nordeste. Em Juazeiro eu tenho feito várias, ultimamente, como a do Festival Edésio Santos da Canção no ano passado. Quando se falava no centenário do carnaval eu ficava imaginando os passos da criação, o projeto, as pessoas que estariam envolvidas e confesso que estou satisfeito. As pessoas deram um bom retorno, gostaram muito do material. É uma pena que foi por pouco tempo (risos).
DR: Após o Carnaval onde o público poderá conferir os seus trabalhos?
BA: A minha pretensão, e já estou organizando o material, é realizar uma exposição no próximo mês. Além disso, estarei participando da decoração do cenário de um espetáculo que será exibido no Centro de Cultura João Gilberto. Em breve todas as informações serão divulgadas.