Duas grandes revistas científicas, a americana Science e a britânica Nature, anunciaram nesta terça-feira (20) que estão avaliando a forma mais adequada de publicar um estudo sobre um vírus mortal mutante da gripe das aves produzido em laboratório sem comprometer a segurança pública, nem minguar a pesquisa.
O estudo em questão é realizado no laboratório holandês chefiado pelo professor Ron Fouchier, do centro médico Erasmus de Roterdã, que anunciou sem setembro a criação de um vírus mutante H5N1. Este vírus teria, pela primeira vez, a capacidade potencial de ser de fácil contágio entre mamíferos e, por fim, entre humanos.
Segundo a revista Science, o Painel Consultivo sobre Biossegurança dos Estados Unidos (NSABB, na sigla em inglês), integrado por especialistas independentes, pediu em 30 de novembro que a publicação “omitisse os detalhes sobre a metodologia científica e as mutações específicas do vírus no estudo do doutor Fouchier, antes de publicá-la”.
A direção editorial da publicação informou, em um comunicado, que “leva muito a sério” a solicitação do NSABB, na qual pede para “apenas publicar uma versão resumida do relatório de pesquisa sobre um cultivo do vírus H5N1 da gripe aviária”.
“O NSABB insistiu na necessidade de impedir que os detalhes desta pesquisa caíssem em mãos erradas”, acrescentou a revista, que embora compreenda a posição do organismo, destacou “sua preocupação por censurar informação potencialmente importante para a saúde pública e para os estudiosos que trabalham sobre a gripe”.
A Nature compartilha esta preocupação, afirmou seu porta-voz, confirmando em um comunicado que a revista “avalia a possibilidade” de publicar o estudo.
“Um grande número de cientistas precisa conhecer os detalhes desta pesquisa para poder proteger a população”, argumentou a Science, assegurando que seus “responsáveis editoriais avaliam a melhor forma de agir”.
A publicação do estudo “dependerá, em grande medida, do que decidirão as autoridades federais americanas (…) para garantir que toda a informação omitida no estudo publicado seja passada a todos os cientistas que o pedirem no âmbito de seus esforços legítimos de melhorar a saúde e a segurança pública”, informou a Science.
Um porta-voz da Associação americana para o Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês), que publica a revista Science, informou à AFP que uma decisão final da revista científica poderá ser anunciada em duas semanas.
O NSABB informou nesta terça-feira, em comunicado, que o “governo americano trabalha para estabelecer um mecanismo que permita um acesso seguro à informação àqueles que precisem consultá-la de forma legítima, com o objetivo de cumprir suas importantes missões perante a saúde pública”.
Segundo o doutor Jean-Claude Manuguerra, do renomado Instituto Pasteur francês, a possibilidade de que terroristas possam reproduzir em laboratório o vírus mortal, com base no estudo do professor Fouchier, é mínima, devido à complexidade técnica que demanda e ao pequeno número de laboratórios no mundo que contam com as instalações necessárias.