Em uma blitz pelos postos de gasolina, os repórteres André Luiz Azevedo e Eduardo Faustini flagraram um novo golpe. O Fantástico mostrou no último domingo (8) a fraude das bombas com controle remoto.
O motorista sempre desconfiou. O Fantástico comprova que o consumidor está certo. Existe fraude em bombas de combustível. Só que agora é um novo tipo de fraude, muito mais sofisticada. Você compra a gasolina e não leva tudo o que paga. Ainda faz papel de bobo porque nem percebe que está sendo roubado. E não adianta conferir o marcador da bomba.
Começamos por São Paulo, que tem a maior frota de carros no país: mais de sete milhões de veículos. A localização é boa, o preço atrai, o consumidor faz fila. Mas ele está sendo iludido. Na amostragem comprada, a bomba marcou 20 litros, mas foi roubado 1.400 ml.
O prejuízo na verdade é ainda maior, porque um teste de qualidade nesse combustível mostrou que o que foi comprado como gasolina era quase totalmente, álcool, etanol. “Foi constatado 64% de teor de etanol na gasolina. Isso é irregular. O máximo é 21%”, diz o coordenador técnico Evair Missiaggia,
Os testes feitos no Rio foram idênticos aos de São Paulo. Em um posto, foram 2,41 litros a menos. Isso corresponde a 6 litros em um tanque de carro popular.
André Luiz Azevedo: A gente teve uma denúncia de que essa bomba está roubando do consumidor na hora do abastecimento mais de 12%. O senhor poderia fazer o teste para gente para comprovar?
Gerente: Positivo, só um momento.
É esse o golpe. Na frente do repórter, a mesma bomba que fraudava agora está correta. Durante dois meses, o repórter Eduardo Faustini assumiu o comando de um posto que fica em uma das principais ruas de Curitiba, no Paraná. O posto ficou fechado nesse período, não recebeu nenhum consumidor. Portanto ninguém foi prejudicado.
Primeira descoberta: é fácil comprar combustível clandestino. Sem nota, sem fiscalização. Nosso repórter liga para o fornecedor de etanol.
Repórter: Está saindo a quanto o litro?
Fornecedor: R$ 1,67
Repórter: Isso é sem papel?
Fornecedor: Isso.
Repórter: R$1,79 com nota…
Fornecedor: Isso.
Repórter: R$1,67 sem nota?
Fornecedor: Isso aí.
R$ 1,67 é um preço muito abaixo do valor no atacado quando os impostos são pagos. Não é só o país que perde com a sonegação. Com essas remessas clandestinas donos de postos adulteram o combustível. O truque é simples: o álcool é despejado no tanque da gasolina. Todo o etanol comprado pelo Fantástico está agora sob a guarda da Associação Brasileira de Combate à Fraude para ser encaminhado às autoridades.
Em Curitiba, nós também testamos postos suspeitos de roubar na quantidade vendida ao consumidor. Em vários postos flagrados roubando o motorista, ouvimos o mesmo nome: Cléber. O repórter Eduardo Faustini, no papel de dono de uma rede de postos interessada na fraude, faz contato com Cléber. Cléber entrega como o esquema funciona. A fraude eletrônica é instalada separadamente, em cada saída de combustível, que ele chama de bico. Cada bico fraudado custa R$ 5 mil.
Cléber: R$ 90 mil!
R$ 90 mil para instalar em 18 mangueiras uma fraude acionada por controle remoto. Com um toque, o fraudador arma e desarma o esquema na hora que quiser.
Cléber: Em três meses, está pago. O resto da sua vida, você vai ganhar dinheiro.
Repórter: Qual a chance de dar errado?
Cléber: Nenhuma. Nenhuma. Zero.
André Luiz Azevedo: O senhor é credenciado no Inmetro, no Ipem? O senhor pode mexer nas bombas livremente?
Cléber: Eu tenho o certificado do Inmetro, que está aqui.
André Luiz Azevedo: Essa denúncia de que o senhor vende uma placa que frauda a bomba de combustível, o senhor nega isso?
Cléber: Eu nego, é um absurdo. Queria saber de vocês de onde partiu isso, porque eu quero fazer minha defesa também.
O Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis também defende uma fiscalização mais enérgica: “Eu tenho certeza que situações como as que foram detectadas nessas cidades estão acontecendo e estão sendo ofertadas para o mercado em diversas outras cidades. É um alerta pras autoridades da necessidade de ter uma atuação permanente, no dia a dia, inteligente e com penalidade rigorosa”, afirma Alísio Vaz, presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustível.