“Se eu morresse algum dia, porque eu não vou morrer (risos), eu queria ser sepultado em Juazeiro e com a bandeira do Flamengo em cima do meu caixão”
Por Jacqueline Santos
Prestes a completar 136 anos, Juazeiro tem um significado enorme para Mouze. A cidade, a partir do ponto de vista do radialista, tem um povo que gosta de ser alegre.
“Eu tenho honra de ser juazeirense. Essa cidade me deu a minha vida, minhas oportunidades de trabalho e meus amigos. Eu gosto dessa cidade. Se eu morresse algum dia, porque eu não vou morrer (risos), eu queria ser sepultado em Juazeiro e com a bandeira do Flamengo em cima do meu caixão e um carro de som tocando o hino do clube”, comentou entre risos.
Herbet Mouze tem boas lembranças que o fazem reviver toda a sua história em Juazeiro. Coisas que não existem mais, mas que são vivas em sua cabeça. Dentre tudo o que tem saudade na sua cidade natal, Mouze cita uma construção que o emocionava em outrora.
“Eu sinto saudade de um monumento que tinha em Juazeiro e que foi derrubado durante a construção da ponte, a Estação Ferroviária. Ela era linda com a visão para o rio, ela tinha uma escadaria e a pessoa via aquele lugar onde as pessoas esperavam o trem. Aquilo era um prédio monumental. Mas derrubaram e eu tenho saudade”.
Paixão de berço
Flamenguista nato. Sim, um amante da arte futebolística, principalmente a rubro-negra. Conta que ao nascer, o pano que serviu de manta, logo depois que ele saiu do aconchego do ventre de sua mãe, foi um pano preto que ao cair gotas de seu sangue, compôs as cores do time carioca mais querido do Brasil.
“Quando eu nasci não tinha maternidade, então quando minha mãe sentiu as dores, chamaram a parteira. No momento do parto ela pediu um pano, mas não tínhamos e não dava mais tempo de comprar. A parteira pegou um tecido preto e quando cortou o cordão umbilical, o meu sangue caiu no pano preto. O meu pai, que já era flamenguista, gritou, ‘olha aí, ele já nasceu Flamengo’”, conta com graça e orgulho, o radialista Herbet Mouze.
Mouze nasceu em Juazeiro no dia 08 de outubro de 1937. Seu pai era de Alagoas e sua mãe era baiana de Alagoinhas. Entre 1951 e 1956, passou parte da adolescência em São Paulo com a mãe, em um período de crise na família. Após cinco anos retornou a Juazeiro de onde nunca mais saiu. “Ir para o Japão é muito mais fácil hoje do que ir para São Paulo naquela época”, conta o radialista ressaltando a dificuldade que foi sair de Juazeiro.
Sua família era composta de dois irmãos e mais três meio-irmãos, filhos somente do seu pai. Atualmente, Mouze é casado há 49 anos e tem quatro filhos, um deles mora em Salvador e os outros residem em Juazeiro.
Trabalho
O primeiro contato com a comunicação aconteceu logo após a sua chegada de São Paulo. Com aproximadamente 19 anos, começou a trabalhar, juntamente com o tio, um dos homens mais conhecidos da história da imprensa local, Eurípedes Lima, popularmente chamado de Seu Galo. Mouze trabalhou com os altos falantes, comuns em pequenas cidades e muito utilizados em Juazeiro, pela falta de uma rádio.
“Meu tio tinha um programa que se chamava ‘O que o povo precisa saber’ e eu ia para lá e lia as cartas que as pessoas mandavam reclamando dos problemas da cidade. Naquele tempo já gostava do microfone”, relembrou suas primeiras palavras ao microfone.
O Rádio entrou na vida do flamenguista no dia do seu aniversário, no ano de 1960. Em 2014, Mouze completa 54 anos de radiofonia. Sua carreira começou e permanece até hoje na Rádio Juazeiro. Mas nada o impediu de fundar a sua própria rádio chamada Independência junto com Jorge Khoury.
Após tantos anos de profissão, Mouze afirma que jamais quer perder a relação com o rádio. O homem tão cheio de energia e com tantas coisas a dizer, não quer perder, nunca, o direito de se fazer presente na memória das pessoas.
“Quero continuar do rádio, eu só tenho medo de uma coisa: do ostracismo. Se eu ficar em um canto sem ter a relação que eu tenho com as pessoas, se eu me retrair e se eu largar tudo eu vou cair no ostracismo. Não é vaidade, é que eu quero estar sempre junto do meu público e amigos. É isso que me alimenta espiritualmente”, disse.
Além de radialista, Mouze trabalhou na Comissão do Vale do São Francisco, atualmente a Codevasf, e no extinto Banco da Bahia, até que chegou à longa e intensa carreira política, em 1972, se candidatando pela primeira vez a vereador de Juazeiro. Foi, também, presidente do Lions Clube de Juazeiro quatro vezes e governador do distrito do Lions na Bahia em 1997/98.
Mouze garante que está satisfeito com o que faz e continuará com o seu programa chamado ‘No mundo do Esporte’, que apresenta a partir das 18h, na Rádio Juazeiro, de segunda a sexta. O radialista ainda escreve para um blog e para o jornal Diário da Região.
Vida Política
De 1972 a 1992, Mouze foi uma das representações do povo juazeirense na Câmara Municipal de Juazeiro. Entre seus mandatos, foi presidente da câmara por duas vezes. Foi ainda secretário municipal quatro vezes, nas gestões de Jorge Khoury, Joseph Bandeira, Misael Aguilar e Arnaldo Vieira do Nascimento.
Segundo o ex-vereador, enquanto legislava, foi um dos recordistas nas indicações encaminhadas à prefeitura para o benefício da comunidade.
“Eu saia da rádio e tinha um grupo que ia para a rádio, e quando saímos íamos para um lugarzinho que a gente batia papo, um deles cismou que eu deveria me candidatar. Eu disse logo que não gostava de política e que não entendia de política, mas a partir daquela brincadeira surgiu a ideia e eu fui o terceiro colocado em número de votos com 1.106 votos, sendo a primeira vez que havia me candidatado”, e foi assim que Mouze começou a sua vida na política juazeirense.
“Eu aprendi a gostar da política. Não a política pejorativa, mas a política de verdade. Todos nós somos políticos, políticos não partidários, mas somos, fazemos a política do bem estar do município, e era nisso que eu pensava”.
Mouze desistiu da política, pois perdeu as duas últimas eleições em que participou, em 1993 e 1997. “Eu não metia a mão no bolso para comprar voto e minha família já estava achando que era mesmo o momento de parar. Eu parei e pensei que já tinha cumprido com minha obrigação de servir a minha cidade, que era o meu objetivo”.
Hoje, ao comemorar tantos anos de história junto com Juazeiro, Mouze deseja um futuro melhor para sua amada cidade.
“Eu gostaria de bater palmas para a minha cidade. A tenho como uma mãe. Eu desejo que cuidem melhor dela, desejo que ela cresça com a bênção de Deus e que ela venha a ser, como há muito tempo era, a princesa do São Francisco”.