A morte trágica e prematura de Eduardo Campos, presidenciável do PSB, introduz um componente que estava fora da disputa eleitoral até quarta-feira: o emocional. A comoção com o acidente cria um link imediato entre o político, a figura de pai exemplar e o marido carinhoso da namorada de adolescência. No rastro da tragédia, a eleição virou assunto nas conversas pelos Brasis afora, despertando um interesse que parecia anestesiado. E agora? O que vai acontecer? Quem ficará em seu lugar? É o que se ouve por aí.
A tragédia no seio de uma família de comercial de margarina – e de um meio político onde os mortos só colecionam amigos e admiradores – catapultou a figura (apenas) fisicamente frágil de Marina Silva ao centro do espetáculo. As atenções, nos próximos dias, estarão todas voltadas para ela. Sua movimentação será acompanhada nos mínimos detalhes e expressões. Não bastasse o recall de 20 milhões de votos em 2010, seu papel nesta eleição fica, queira ou não, turbinado pela morte trágica do parceiro e, através dela, se reveste da percepção de uma certa predestinação. Se pensarmos que ela trafega bem entre os evangélicos…
Marina teve papel de destaque na última disputa presidencial. Boa parcela dos seus votos foram drenados também da insatisfação de alguns setores com rumos pouco republicanos trilhados pelo PT quando atingiu – a que preço – uma zona de conforto no poder. A presença de Marina no páreo – sem hipocrisia, por favor – deverá ser capaz de tirar do torpor eleitoral boa parcela de uma classe média que, recentemente, flertava com o PT e o ajudou, com seus votos, a apear no governo.
A morte de Eduardo Campos e os próximos passos de Marina também trouxeram para frente da tevê, na hora do Jornal Nacional, gente que andava apenas bocejando e olhando de esguelha quando passava o resumo do dia dos candidatos. Da turma marineira, faz parte também um contingente que começava a namorar – de leve – com o socialismo ‘manguebeat’ de Campos, mas que se sente mais à vontade com a história da ex-senadora.
Por outro lado, para agitar ainda mais a eleição, a briga pelo espólio eleitoral de Campos já come solta: Aécio Neves fez questão de ressaltar a amizade de décadas que os unia – e que juntou, um dia, no mesmo palanque, seus avós Tancredo Neves e Miguel Arraes na luta pela redemocratização do país.
Dilma decretou luto, mas foi Lula quem, malandramente, repromoveu Eduardo a companheiro, lembrando-o como bom ministro de seu governo. A presidente, prolixa, não foi tão clara ao se colar na imagem dele.
Por outro lado, a vida anda rápida demais. A emoção introduzida agora na campanha talvez perca folego até 5 de outubro. Marina pode não ser tão hábil no campo político mais tradicional como seu parceiro. O pernambucano soube costurar direitinho o espaço da ambientalista na chapa e no partido. Ela precisará achar um vice que a equilibre no tabuleiro.
Além disso, sabe-se lá quais fatos poderão tornar a endurecer o coração do brasileiro com a política e ocupar sua atenção no período pós-tragédia. A dura realidade não cansa de nos surpreender, como bem mostrou a arremetida do jatinho que embaralhou a eleição. Não estava no script – dolorosamente definiu a viúva Renata. Mas o show não para, assim como as contas no início do mês e o resto do mês no fim do salário da maioria. Cada vez mais com emoção.
* Sergio Costa é diretor de Redação do CORREIO