Enquanto a presidente Dilma Rousseff surpreendeu com uma aceitação recorde em pesquisa recente do Ibope, seguramente em consequência das medidas tomadas entre elas a diminuição do custo da energia, beneficiando a população de maneira geral, o PSDB não se entende. Embora intermediários, a exemplo de Fernando Henrique Cardoso, tenham tentado colocar um ponto final nos desencontros (inimizade mesmo) entre José Serra e Aécio Neves, as tentativas fracassaram. Aécio é candidato do partido à Presidência. Como a política é dinâmica, o provável candidato do PSB, Eduardo Campos, infiltrou-se na desavença e procurou Serra. Quer garantir a viabilização de um palanque em São Paulo. Com o ex-governador e candidato derrotado à prefeitura paulistana, Campos discutiu, em sigilo, questões nacionais, entre as quais a sucessão presidencial, a economia e como se comportará a oposição brasileira no processo.
Nada do que conversaram se resolve de imediato. É conversa que demanda léguas, encontros e desencontros e, bem possivelmente, não chegará a lugar algum. Serra já não é o nome maior do tucanato, mas o seu prestígio ainda é reconhecido. Já Eduardo Campos faz de tudo para balançar o prestígio de Dilma. O Ibope demonstrou que, por ora, está difícil. A presidente tem instrumentos nas mãos que ela pode utilizar, como a diminuição do preço da energia (já citada), para valorizar mais ainda a sua imagem. Eduardo cresce, também. Ele depende, no entanto, das circunstâncias, dentre as quais a que gerou, na última quinta feira, no Senado, uma polêmica entre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e alguns senadores, entre eles Álvaro Dias.
O problema é que Mantega não consegue acertar as suas previsões para o crescimento econômico do País, que neste aspecto não vai bem. No debate, o senador Álvaro Dias referindo-se ao ministro, disse que ele parece não saber o que está a acontecer e perguntou “se é incompetência ou mentira deliberada.” Mantega retrucou afirmando que se o parlamentar conseguir acertar previsões a ele lhe dará o prêmio Nobel de economia. O fato é que desde o ano passado o ministro da Fazenda tem errado. As críticas ao seu trabalho têm sido crescentes.
É pela economia que Eduardo Campos procurar penetrar no “bunker” de Dilma. A reunião com Serra não foi dado a conhecer ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que dela soube apenas nesta última quinta-feira. Na avaliação dos tucanos, o líder do PSB quer aproveitar o descontentamento de Serra com o comando do PSDB para obter o apoio de parcela da sigla em São Paulo. Serra sozinho é pouco. O PSB faz parte da base aliada de Alckmin na Assembleia Legislativa e está à frente de 30 prefeituras, a maior parte delas em composição com o PSDB. O diagnóstico é de que, caso se lance candidato, o governador de Pernambuco precisará de um palanque no estado, que poderá ser o de Gilberto Kassab (PSD), candidato ao governo estadual, e aliado de Serra. Mas Kassab está aliançado também com a presidente Dilma Rousseff e, dessa forma, tudo dependerá do que vier acontecer mais ad iante, já que o processo sucessório foi aberto com muita precocidade. Até a eleição de 2014 tudo poderá acontecer e até possíveis candidaturas podem ser desfeitas como a de Aécio Neves, por exemplo. Trata-se de uma hipótese, mas nada é impossível diante da distância entre os movimentos que no momento são feitos e a eleição de outubro do próximo ano.
*Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde deste domingo (24)