A gastronomia, há muito, já conhece a leve e saborosa carne da tilápia – e agora é a vez do mundo da moda. Sandálias, colares, chaveiros, bolsas e brincos feitos com o couro desta espécie de água doce e de origem africana, que tem rápida reprodução em cativeiro, estarão expostos na 1ª Exposição de Artigos Confeccionados com Couros de Peixes Brasileiros, na quarta-feira (05), das 09 às 21h, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília (DF).O evento é uma parceria da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) com o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) – que visa, com isso, apoiar o desenvolvimento da cadeia produtiva da aquicultura, demonstrando que do peixe nada se perde, e incentivando outros empreendedores a apostarem na proposta. Serão 12 expositores trazidos pelo MPA do Rio de Janeiro, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e do Amazonas, além da associação de Alagoas apoiada pela Codevasf, os quais mostrarão aos visitantes a beleza de artefatos confeccionados a partir do couro de espécies de peixes tão diversas quanto o pacu, do pantanal mato-grossense, e os amazônicos pirarucu e tambaqui.
Os acessórios feitos a partir do couro da tilápia que estarão expostos no evento são da Associação de Artesãos de Couro de Tilápia do município de Piranhas, em Alagoas, que conta com apoio da Codevasf. Por meio de convênio com a Secretaria de Agricultura do estado de Alagoas (Seagri), R$ 130 mil foram repassados pela Companhia para compra de equipamentos para uso da associação na atividade.
De acordo com Leonardo Sampaio, chefe da unidade de Recursos Pesqueiros e Aquicultura da Codevasf, a tilápia usada pelos artesãos vem dos tanques-rede implantados pela Companhia para o desenvolvimento da piscicultura familiar na região. A capacitação dos piscicultores, explica Sampaio, também é fornecida pela Codevasf, num trabalho da Gerência de Desenvolvimento Territorial.
Apostando na potencialidade do produto
“Comercializamos os produtos na região, especialmente em pontos de visitação turística”, conta Gilvaneide Correia dos Anjos, tesoureira da associação e artesã. Com a atividade, ela ajuda a engrossar a renda da família – que também pratica a agricultura e a apicultura. Gilvaneide explica que, depois de comprado, o couro é curtido sem química, quando adquire um tingimento natural e sem prejuízo ao meio ambiente. No processo de confecção dos acessórios são agregados fivelas, cordões, arcos de tiara e elementos da caatinga, como a flor do mandacaru e a cabeça-de-frade.
“Precisamos de abertura de mercado para podermos investir no incremento da nossa produção, e eventos como esse é que nos ajudam”, aposta a artesã, que já chegou a expor, com apoio da Codevasf, em Florianópolis (SC) e Salvador (BA).
“A tilápia é considerada um peixe exótico e tem um couro que, além de bonito, apresenta três vezes a resistência do couro do boi, se comparado na mesma espessura”, observa o engenheiro de pesca José Jacobina, chefe do escritório de apoio técnico da Codevasf em Morada Nova de Minas (MG). “Quando curtido, esse couro adquire o desenho das escamas, um bonito efeito para os acessórios”, assinala.
De acordo com a secretária nacional de Aquicultura do MPA, Maria Fernanda Ferreira, a intenção do governo federal é incentivar o cultivo e o aproveitamento do pescado, com utilização desde a carne até as vísceras – as quais, aliás, já provaram seu aproveitamento na indústria do biodiesel. “A cabeça e a espinha têm sido usadas, com sucesso, como farinha para ração animal, e o couro e as escamas no artesanato e no vestuário”, acrescenta Maria Fernanda.