Garantia de água para consumo humano, produção agrícola, dessedentação animal e para a sobrevivência de pequenos cultivos que garantem a segurança alimentar de famílias inteiras. Apenas nos últimos três anos, mais de R$ 1,2 bilhão vêm sendo executados pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) em ações emergenciais que visam aliviar, para mais de 1,7 milhão de moradores de comunidades rurais do semiárido brasileiro, os efeitos da longa estiagem – já considerada a mais severa do último século.
Somente neste ano, cerca de R$ 32 milhões estão, até o momento, em execução. Os recursos são oriundos da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional e também do Orçamento Geral da União destinados à Codevasf por emendas parlamentares.
O investimento federal vem sendo aplicado em ações como ampliação ou construção de adutoras, instalação de flutuantes ou desassoreamento de canais que permitem a chegada de recursos hídricos a lavouras familiares, em perfuração e montagem de poços artesianos sedimentares ou cristalinos, em limpeza e desassoreamento de aguadas, em implantação de cisternas, barreiros, sistemas simplificados de abastecimento, kits de irrigação. “Para auxiliar as comunidades que convivem com a seca, é necessária a compreensão de suas vulnerabilidades, as condições de vida relacionadas à situação das famílias, a fragilidade das economias locais e as alternativas para solução dos problemas”, afirma a presidente da Codevasf, Kênia Marcelino. “Esse diagnóstico possibilita o investimento de recursos, mesmo limitados, nos meios adequados de subsistência, em estratégias e planos que acabam se revelando eficazes para mitigar o problema”, acrescenta.
Em todo o país, de acordo com os dados mais recentes da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional, a população de 960 municípios demanda ações urgentes pois enfrenta situação de emergência ou calamidade pública reconhecida pelo Governo Federal. Na grande maioria, 787 municípios, o problema é a estiagem; 105 sofrem consequências geradas por chuvas fortes, e 68 enfrentam outras circunstâncias, como doenças infecciosas virais, erosão de margens fluviais, colapso em edificações.
Em todos os estados do Nordeste e de parte de Minas Gerais, o infortúnio é gerado pela seca – que deve se agravar ainda mais na região, de acordo com a Previsão Climática Sazonal do Grupo de Trabalho em Previsão Climática Sazonal (GTPCS), do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC): a tendência é que os reservatórios do Nordeste não tenham recuperação significativa durante a estação chuvosa, uma vez que as precipitações devem ficar abaixo da média histórica.
Consumo humano
A garantia de água para consumo de famílias em comunidades rurais difusas do semiárido é o alvo da instalação de cisternas pela Codevasf. Os equipamentos armazenam água de chuvas ou de carros-pipa; os recursos federais investidos até agora, sob execução da Companhia, foram de R$ 980 milhões.
Até este ano, nos estados que compõem a área de atuação da empresa, já foram disponibilizados quase 185 mil reservatórios desse tipo, beneficiando 930 mil pessoas que vivem e produzem em comunidades rurais difusas da Bahia, Norte de Minas, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Piauí, Ceará e Maranhão.
A Codevasf também promove a perfuração e instalação de poços nas localidades castigadas pela seca. Somente no âmbito do programa de universalização de acesso a água em comunidades rurais difusas, executado pela Codevasf na região onde atua, foram instalados até o final do ano passado 835 unidades, representando um investimento de aproximadamente R$ 25,4 milhões.
Neste momento, outros 290 poços estão sendo perfurados no Norte baiano e mais 98 no semiárido pernambucano – um investimento, somado, de R$ 11,5 milhões. No Norte mineiro, R$ 2,1 milhões levam alívio a 150 comunidades atendidas com os equipamentos cuja instalação vem sendo feita desde 2016 e prossegue ao longo deste ano.
O trabalho contratado pela Codevasf inclui transporte de equipamentos; perfuração, revestimento, filtro, laje de proteção e tampa dos poços; e testes de vazão. A montagem inclui, entre outros itens, catavento, motobomba, caixas de água e bebedouro para animais.
A água extraída dos poços é destinada a múltiplos usos: consumo humano; dessedentação animal; tarefas de rotina das famílias como cozinhar, tomar banho e lavar roupa; e também para assegurar a sobrevivência de pequenos cultivos desenvolvidos em hortas e pomares.
Sobrevivência animal
A construção de barreiros é outra estratégia utilizada pela Companhia para facilitar a convivência das famílias com a seca. Com capacidade para armazenar, em média, seis milhões de litros de água, essas estruturas objetivam a dessedentação animal, a irrigação de pequenas hortas comunitárias e a alimentação do lençol freático. Com recursos da ordem de R$ 40,4 milhões, já foram construídos 505 barreiros.
A instalação dos sistemas simplificados de abastecimento é mais uma ação para suprir as necessidades da população que sofre com a falta de água. Ao todo, com investimentos de R$ 5,3 milhões, a Codevasf já executou 41 sistemas.
A medida consiste na perfuração de poços tubulares, disposição de unidade de bombeamento e implantação de reservatórios de fibra de vidro com estrutura elevatória, fornecimento de energia, abrigo para quadro de comando ou grupo gerador, cerca de proteção, rede de distribuição de água e ligações domiciliares.
A dona de casa Maria Aparecida Siqueira da Silva, de 32 anos, reside na localidade Sabiá I, no município de Juazeiro, norte da Bahia. A região foi atendida por um sistema simplificado de abastecimento instalado pela Codevasf. A moradora conta que esperou muitos anos para ter água dentro de casa. “Antes, a gente ia buscar água no rio ou em cacimbas, quando chovia. A água do carro-pipa, quando vinha, só era suficiente pra gente beber e cozinhar. Eu esperei quase trinta anos para ter água tratada na torneira. Hoje está muito bom”, afirma.
Data mundial
Em 1º de março é celebrado o Dia Internacional da Proteção Civil, data criada em 1972 pela Organização Internacional de Proteção Civil (ICDO, na sigla em inglês), sediada na Suíça. A organização se dedica a estimular, em todo o planeta, ações emergenciais cujos objetivos sejam prestar socorro a populações vítimas de intempéries naturais ou humanas, como avalanches, terremotos, tsunamis, inundações, estiagens, incêndios.
Este ano, o tema da celebração é “Todos com a defesa civil e contra os desastres”.
Segundo a ICDO, mais de 200 milhões de pessoas em todo o mundo têm sofrido, anualmente, o impacto de desastres naturais ou causados pelo homem – e o número tende a crescer em razão da degradação ambiental, às mudanças climáticas e a frequência crescente de acidentes de ordem tecnológica.
“Em 2015, desastres de larga escala causaram, em todo o mundo, prejuízos econômicos da ordem de US$ 66,5 bilhões; até o final de 2016, essas perdas já haviam crescido para US$ 175 bilhões”, alertou esta semana, em mensagem oficial, Vladimir Kuvshinov, Secretário-Geral da entidade.
Segundo a UNIDSR, “para as comunidades forçadas a conviver com este fenômeno, as secas exigem um modo de vida que repetidamente testa sua resiliência e sobrevivência. Entre 2010 e 2011, a estiagem levou a dezenas de milhares de mortes no mundo – mais da metade, crianças menores de cinco anos – e mais de 13 milhões de pessoas no continente africano (Djibouti, Etiópia, Kênia e Somália) a uma situação de necessidade por alimentos. Alertas para a situação atual de seca extrema estão disponíveis a mais de um ano. Chuvas erráticas desde março de 2016 e a continuação do impacto do El Niño comprometeram, no ano passado, a sobrevivência de rebanhos e de lavouras”.
Em maio deste ano, um fórum internacional volta a debater a plataforma Sendai. O UNIDSR elegeu 13 de outubro como data que marca, anualmente, o Dia Internacional para Redução de Desastres.


