*Ebis Dias

No cenário mundial, com relação à demanda dos alimentos, há três fontes de crescimento hoje em dia. A primeira é o crescimento populacional. Já somos 7 bilhões de habitantes no planeta; em 2030, a previsão é de 8 bilhões e em 2050, 9 bilhões. A segunda é a riqueza crescente. Cerca de três bilhões de pessoas estão tentando subir na cadeia alimentar, consumindo mais carne, leite e ovos que dependem de um consumo intenso de grãos. E a terceira, quantidades massivas de grãos estão sendo convertidas em etanol para moverem carros.

Segundo Lester R. Young, fundador do Earth Policy Institute e considerado um dos pensadores mais influentes do mundo pelo jornal “Washington Post”, se o mundo tiver uma safra fraca, os preços dos alimentos subirão para níveis anteriormente impensáveis. Os saques de alimentos se multiplicarão, a agitação política se espalhará, e os governos cairão.

Segundo Lester, o que é preciso, agora, é um esforço mundial para aumentar a produtividade da água, semelhante ao que foi lançado pela comunidade internacional há meio século para aumentar a produção das terras agrícolas.

No lado da demanda, segundo ele, é necessário acelerar a mudança para famílias menores. Há 215 milhões de mulheres que querem planejar suas famílias, mas não têm acesso ao planejamento familiar. Elas e suas famílias representam mais de um bilhão das pessoas mais pobres do mundo. Enquanto se tapa o buraco do planejamento familiar, é necessário um esforço geral para erradicar a pobreza. Uma vez em curso, essas duas tendências se reforçam mutuamente. Ainda segundo ele, “num mundo cada vez mais faminto, converter grãos em combustível para carros não é a maneira certa de avançar. Já é hora de retirar os subsídios para a conversão de grãos e outras colheitas em combustível automotivo”.

Neste cenário, o agronegócio brasileiro é estratégico para a solução de parte do problema. Com a maior bacia hidrográfica do mundo, clima e potencial de terras agrícolas (90 milhões de ha só de pastagem degradadas), o país que, segundo a FAO, na classificação de países, já é o quarto maior produtor de cereais do mundo, continua batendo recordes de produção e de exportação. A produção de grãos da safra 2012/2013, de 186 milhões de toneladas, é mais um recorde, e as exportações do agronegócio, em 2012, bateram outro recorde histórico de US$ 95,8 bilhões, com um saldo elevado de US$ 79,4 bilhões, cobrindo o déficit dos outros setores da nossa balança de pagamentos e ainda deixando um saldo de US$ 19,4 bilhões. Cabe ressaltar que , em 1990, exportávamos apenas US$13 bilhões.

Os nossos produtos já se encontram na mesa de 230 países e pontos de comercialização. Segundo a FAO, o agronegócio brasileiro vai crescer ainda 40% entre 2010 a 2020, o dobro da média mundial dos emergentes, superando com larga diferença também o crescimento do agronegócio europeu, de 4% e o dos Estados Unidos e Canadá, estimado em 10% a 15%.

O agronegócio já representa 25% do PIB, 35% dos empregos e 39,5% das exportações de 2012.

Convém lembrar que, na década de 70 do século passado, importávamos 30% dos alimentos. Entre 1990/91 a 2012/2013, saltamos de 58 milhões de toneladas de grãos (com 38 milhões de ha) para 186 milhões de toneladas (com 53 milhões de ha). Ou seja: duplicamos a produtividade no período e mais que triplicamos a produção, com o incremento de apenas 40% na área. Isso se deve aos produtores e, principalmente, à EMBRAPA que hoje detém o maior banco de tecnologia tropical do mundo.

Segundo o USDA e MAPA (2011), em alguns produtos, já ocupamos as primeiras colocações no ranking mundial, tanto na produção como na exportação a exemplo de: açúcar, café, suco de laranja, soja, carne bovina, carne de frango, óleo de soja, farelo de soja, milho e carne suína.

Mesmo com os produtores fazendo a sua parte com êxito, principalmente, por parte do governo, há ainda muitos problemas para resolver, tais como: Logística. O transporte de cargas realizado no Brasil com a matriz de 60% em rodovias, 25% em ferrovias e 15 por hidrovias (inclusive com a cabotagem) já explica o quão danoso é para o agronegócio competir com países que transportam seus produtos por hidrovias e ferrovias. Os altos valores dos fretes, a falta de caminhões à espera nos portos, além das perdas principalmente de grãos nas estradas mal conservadas, reduzem significamente os lucros dos produtores e a nossa competitividade.

Irrigação e Sustentabilidade. No cenário mundial, há uma grande preocupação com a produtividade da água, inclusive com tendências de mercado para seletividade da produção com menos água. Atualmente, apenas 18% da produção mundial é proveniente de áreas irrigadas que respondem por 44% da produção. A FAO pretende incrementar essa produção para 80%, tendo em vista a sustentabilidade da produção de alimentos, bem como a necessidade de incrementar em 70% a produção de alimentos até 2050. O Brasil com 12% das águas doce do planeta, a maior bacia hidrográfica e um potencial de 29 milhões de hectares para irrigação é, sem dúvida, o país alvo da FAO para contribuir com a meta prevista. O grande problema é que a nossa própria agricultura se encontra insustentável. Na atualidade, temos apenas 5,5 milhões de ha irrigados, ou seja: cerca de 8% da área explorada com agricultura e menos de 3% com agropecuária. Se não ampliarmos a nossa área irrigada, a instabilidade climática pode comprometer significativamente o crescimento do nosso agronegócio.

Pesquisa e Assistência Técnica. Um dos principais instrumentos para o crescimento do agronegócio foram as inovações tecnológicas desenvolvidas pelo Sistema Embrapa e aplicadas pelos produtores. A manutenção e ampliação dos recursos humanos e financeiros para continuidade das pesquisas, inclusive para sua priorização no desenvolvimento de cultivares de ciclos mais curtos e mais resistentes aos efeitos da seca, além de técnicas e cultivares para os cenários previstos de aquecimento ou de esfriamento do planeta, como preveem os cientistas, são fundamentais para o futuro do agronegócio.

Segundo a CNA, dos 5,175 milhões de estabelecimentos rurais do Brasil, 3,645 milhões são das classes D e E. A inclusão desses produtores ao sistema produtivo, de acordo com Kátia Abreu, depende da oferta de ATER e extensão rural, além de outros incentivos. Esses produtores se forem capacitados, terão condições de produzir sem a necessidade de abrir novas áreas de produção.

Outros problemas. Outros problemas devem também ser enfrentados e suas soluções agilizadas, tais como: a produção de fertilizantes; o Brasil importa ainda 68% deste insumo, os problemas de armazenagem pública e privada, a defesa sanitária, que deve ser ampliada tanto em recursos humanos como financeiros, além da ampliação de acordos bilaterais.

Cabe mencionar que, se a economia brasileira tivesse crescido à mesma taxa da agropecuária entre 1980 e 2012, o PIB nacional seria R$ 1,1 trilhão maior, e o Brasil seria a quinta maior economia mundial.

* Ebis Dias é Eng°. Agr°. da ADAGRO, Mestre em Ciências em Irrigação e Drenagem pela Universidade de Chapingo-México e ex-consultor externo da UNESCO para a América Latina e Caribe.

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