Mesmo que a gravidez seja considerada algo sublime pela maioria das mulheres, existem também as que não desejam passar por essa experiência e são pegas de surpresa quando se descobrem grávidas. O impacto é ainda maior quando as futuras mães são ainda adolescentes. No entanto, o choque emocional pode ser por elas absorvido com mais naturalidade quando consomem bebidas alcoólicas. Mais comum do que se imagina, muitas garotas tornam-se mães e mesmo assim não abandonam a dependência alcoólica.
A Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas (Uniad) conduziu, em 2002, um estudo coordenado pelos Drs. Ronaldo Laranjeira, Sandro Sendin Misuhiro e Elisa Chalem, no bairro de Vila Nova Cachoeirinha, zona norte de São Paulo, e constatou que, dentre as mil adolescentes grávidas participantes do levantamento, 1,6% apresentou diagnóstico de dependência ou uso nocivo do álcool.
Ainda que a pesquisa tenha sido realizada há 10 anos, não existem outros relatos bibliográficos com este tipo de informação no país. Portanto, é possível que as estatísticas tenham crescido e dentro do índice da pesquisa, 0,9% destas jovens preencheram os critérios avaliados para a dependência do álcool. Para o psiquiatra Sandro Sendin Misuhiro, um dos coordenadores do estudo, “é provável que boa parte dessas adolescentes tenha se tornado alcoólatra já durante a gestação”.
É fato que o consumo de bebida alcoólica é nocivo à saúde, mas os danos provocados podem ser irreversíveis ao bebê. Nas mães, o excesso causa alterações no fígado como a gastrite e a úlcera. No feto, a Síndrome Fetal do Álcool, conhecida como um conjunto de alterações que facilitam a má formação da criança, pode ocorrer o retardo de crescimento intrauterino e após o nascimento, o peso baixo ao nascer, o lábio superior fino, as anomalias na pálpebra, as disfunções no sistema nervoso central como o atraso no desenvolvimento de habilidade motores e sociais e os distúrbios comportamentais, como irritabilidade.
Amamentação
Pelos efeitos que o álcool provoca durante a gestação, é prejudicial o seu consumo em qualquer quantidade, por menor que seja. “Cinco doses ou mais por semana durante a gravidez está relacionado com peso baixo ao nascer o bebê, parto prematuro e abortamento espontâneo”, alerta o Dr. Sandro Sendin Misuhiro. A contraindicação é severa, uma vez que o álcool presente no organismo da mãe pode ser evacuado no leite e “isso significa que o álcool consumido pela mãe lactante será ingerido pelo bebê lactente”, diz o médico.
Influência familiar
“A disponibilidade de bebida alcoólica e o nível de aceitação de seu consumo em determinado meio são fatores que aumentam a probabilidade de uso. Se essas condições forem encontradas em uma família, a chance dessas jovens beberem será maior”, adverte o psiquiatra.
A responsabilidade das adolescentes ao criar um filho, ainda que tão jovens, não impede que as famílias atuem como orientadores no alerta para este comportamento juvenil. A melhor arma contra o problema é uma boa conversa, aliada à limitação e fiscalização do consumo das substâncias etílicas.
Mesmo que não seja determinante, os filhos de mães dependentes podem adquirir, futuramente, o mesmo hábito. O Dr. Sandro salienta os riscos: “Mesmo que o bebê exposto ao álcool na gravidez não tenha alterações físicas profundas como as observadas na Síndrome Fetal pelo Álcool, alterações mais sutis, porém graves o suficiente para comprometer a funcionalidade dessas crianças, podem ocorrer”. Por isso, evite o álcool não somente durante a gestação, mas em qualquer ocasião, adverte o médico.